Uma partida de xadrez pode ser dividida em três fases:
- a Abertura: fase inicial em que os jogadores querem tirar o seu exército da posição inicial e ocupar um local mais activo com o Rei sob protecção;
- o Meio Jogo: depois de as tropas estarem colocadas no tabuleiro, os jogadores, com base nos desequilíbrios criados, criam os seus planos de ataque e de defesa;
- o Final: surge quando a maior parte das peças foram já eliminadas, há muito espaço livre no tabuleiro e os Reis já não correm muitos riscos de serem apanhados numa teia de xeque-mate.
Começámos por ver algumas técnicas do final: a das escadinhas e a da caixa.
Agora vamos aprender alguns princípios relacionados com a abertura.
Preparados?
O que é que costuma acontecer quando vamos jogar uma partida?
Pegamos no tabuleiro, pomos uma casa branca à nossa direita, colocamos as peças na posição inicial (vestido da Dama a condizer com os sapatos) e cabe às brancas fazer a primeira jogada.
E agora? O que é que fazemos agora?
A. Objectivos na abertura
Os primeiros objectivos a alcançar numa partida de xadrez são:
- garantir que o nosso Rei está seguro; e
- tirar as nossas tropas do quartel de modo a terem um papel activo na luta do meio jogo.
Mas como é que estes objectivos podem ser alcançados?
Qual é o melhor local para proteger o Rei?
E quais as melhores casas para colocar as nossas peças?
Vamos lá analisar o campo de batalha para ver se chegamos a algumas conclusões...
Se repararem na posição inicial das peças, vão verificar que cada exército tem duas peças que não estão defendidas por nenhum companheiro: as Torres.
No entanto, como as Torres começam nos cantos do tabuleiro, é praticamente impossível tirar proveito da falta de protecção.
Mas este facto não nos dá uma ideia?
Se as Torres são difíceis de atacar nos cantos, se lá pusermos o nosso Rei, o adversário também vai ter dificuldade em atacá-lo!
E se fizermos o mesmo exercício com os peões, verificamos que há dois que são mais fracos que os restantes: os peões de f2 e de f7 só estão defendidos pelo respectivo Rei.
São, por isso, bons alvos iniciais para o exército adversário.
E por falar em alvo...
... se olharmos para o tabuleiro como se ele fosse um alvo, percebemos que o melhor local para colocar as nossas tropas (atirar as nossas setas) é o centro.
Se as nossas peças estiverem no centro, podem ser rapidamente mobilizadas para qualquer local do tabuleiro.
Podemos aproximá-las do adversário num instante, para o ameaçar, e se for necessário podemos retirar com igual rapidez.
O centro do tabuleiro é composto pelas casas d5, e5, d4 e e4.
Funciona como uma rotunda e o jogador que não a controlar, vai perder muito tempo a movimentar as suas tropas - elas não podem ir de um lado para o outro do tabuleiro pelo caminho mais rápido se o centro não estiver disponível!
Têm de ir à volta! E o tempo que o adversário perde nessas voltas, é tempo que nós ganhamos para preparar a nossa defesa ou contra-ataque!
Já descobrimos mais uma estratégia para abertura!
Além de defender o Rei junto ao canto, vamos tentar que a maior parte das nossas peças entrem em acção perto do centro do tabuleiro, entre as casas c6, f6, c3 e f3, para controlar a rotunda (d5, e5, d4 e e4).
Por outro lado, o xadrez pode ser violento.
E ninguém gosta de ser ameaçado, pois não?
Então não vamos dar alvos valiosos ao adversário.
E vamos fortalecer a nossa posição.
Mais duas boas estratégias para a abertura!
Queremos ser fortes como um touro!
Mas como é que podemos:
- Defender o Rei junto ao canto;
- Controlar a rotunda;
- Evitar ser ameaçados; e
- Ser fortes como um touro???
Se tivermos atenção a alguns princípios, tudo correrá bem.
B. Princípios da abertura
Para desenvolver as peças (tirar o exército do quartel) de modo a controlar o centro do tabuleiro (a rotunda) e proteger o Rei, devemos pensar em:
- Tirar as tropas do quartel por ordem crescente de valor e sempre em direcção ao centro do tabuleiro: primeiro um peão (1 ponto), depois um Cavalo (3 pontos) e a seguir um Bispo (3 pontos).
- Se tirarmos o Cavalo e o Bispo da ala do Rei, a seguir podemos fazer roque. Esta jogada é espectacular: tira do quartel a Torre (5 pontos) ao mesmo tempo que protege o Rei que vai para mais perto do canto do tabuleiro onde é mais difícil ser atacado.
- A seguir podemos jogar outro peão central (1 ponto) ou o outro Cavalo ou Bispo (3 pontos); não se deve é jogar a mesma peça desnecessariamente - se o fizermos vamos atrasar a saída de todo o exército das casas iniciais!
- Finalmente, podemos centralizar também a outra Torre (5 pontos) e a Dama (9 pontos).
Se seguirmos estas sugestões, o adversário vai ter dificuldade em nos ameaçar (não tem alvos disponíveis) e vamos ter uma posição forte que nem um touro para a tourada que nos espera no meio-jogo!
Vamos ver um exemplo em que as brancas jogam de acordo com estes princípios e as negras não.
Percebeste o que aconteceu?
Compara as tuas ideias com os comentários que se seguem:
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C. Erros na abertura
A violação dos princípios da abertura pagam-se caro...
Se o erro for grosseiro, o preço pode mesmo ser um xeque-mate super-rápido!
Vamos ver alguns erros grosseiros:
1 - Por falta de protecção do Rei
1.1 - Não se protegeu a diagonal fraca que dá acesso ao Rei (e1-h4 ou e8-h5).
1.2 - Não se protegeu a casa do peão fraquinho (f2 ou f7).
1.3 - Não se fez roque.
2 - Não tirar as tropas do quartel por ordem crescente de valor.
(saída prematura da Dama)
Vejamos, então:
1 - Falta de protecção do Rei:
1.1 - Não se protegeu a diagonal fraca que dá acesso ao Rei (e1-h4 ou e8-h5).
As negras não tentaram controlar o centro.
As negras só fizeram lances de peões - não jogaram nenhum Cavalo ou Bispo.
As negras abriram a diagonal fraca...
Resultado: mate do louco!
(as negras deviam mesmo estar loucas para jogar assim a abertura!)
As brancas abriram a diagonal fraca.
As brancas não desenvolveram as peças da ala do Rei.
As negras apontaram o Bispo à diagonal fraca (g3).
As negras apontaram a Dama à diagonal fraca (h4).
Resultado: uma espécie de mate do louco!
As brancas abriram a diagonal fraca.
As negras apontaram o Bispo à diagonal fraca (g3).
As brancas criaram um buraco (g3) na diagonal fraca.
Resultado: uma espécie de mate do louco!
As brancas abriram a diagonal fraca.
As negras apontaram o Bispo à diagonal fraca (g3).
As brancas desenvolveram o Cavalo da ala do Rei, mas...
... ao defender o Cavalo sem criar um buraco em g3, taparam a casa de fuga (d2) do Rei.
As negras apontaram a Dama à diagonal fraca (h4).
Resultado: uma espécie de mate do louco!
1 - Falta de protecção do Rei (continuação):
1.2 - Não se protegeu a casa do peão fraquinho (f2 ou f7).
Apesar de as brancas terem tirado a Dama muito cedo, as negras nunca a atacaram.
Mas pior do que isso, as brancas foram atacando o peão fraquinho e as negras nunca o defenderam.
Resultado: mate pastor!
As negras começaram bem, com o avanço do peão central e a protecção do peão e5 com o Cc6.
No entanto, partiram para o ataque antes de proteger o Rei - não jogaram nem o Bf8 nem o Cg8.
As negras desprezaram a casa f7.
Resultado: mate Legal!
As brancas começaram bem, com o avanço de um peão central.
No entanto, fizeram muitos lances de peão antes de proteger o Rei - não jogaram nem o Bf1 nem o Cg1.
As brancas desprezaram a casa f2.
Resultado: uma espécie de mate Legal!
1 - Falta de protecção do Rei (continuação):
1.3 - Não se fez roque.
As negras não protegeram o Rei.
As negras bloquearam todas as casas de fuga do Rei.
Resultado: mate abafado!
(o Cavalo não poder capturado pelo peão porque o Rei ficaria em xeque - atacado pela Dama)
As brancas começaram bem - avanço de um peão central.
Mas não desenvolveram o Cavalo em direcção ao centro.
Depois jogaram h3, debilitando a casa g3 da diagonal fraca, em vez do Cg1.
Quando as negras ameaçaram ganhar a Dama,
as brancas, surpreendidas, abriram a diagonal fraca.
Resultado: uma espécie de abafado à Dama misturado com mate do louco!
As negras decidiram responder à ameaça ao peão e5 com igual ameaça ao peão e4.
Mas quando o Cavalo foi atacado pela Dama, optaram por recuar.
(Se tivessem continuado a imitar, atacando o Ce5 com De7, não poderiam capturá-lo, pois a Dama branca em e4 iria defendê-lo.)
Ao recuar, deixaram o Rei exposto na coluna E - nunca se preocuparam em fazer roque antes...
A jogada Cc6 das brancas é xeque! O xeque é dado a descoberto pela Dama.
E por causa do xeque, as negras não podem capturar o Cavalo que abafou a Dama...
(As brancas ganharam 6 pontos: 9 da Dama - 3 do Cavalo que vai ser capturado pelas negras)
2 - Não tirar as tropas do quartel por ordem crescente de valor
Lembram-se do mate pastor?
Apesar de as brancas terem tirado a Dama muito cedo, as negras nunca a atacaram.
Mas pior do que isso, as brancas foram atacando o peão fraquinho e as negras nunca o defenderam.
Resultado: mate pastor!
Só funcionou porque as negras nunca aproveitaram o alvo que tinham à disposição.
Reparem no que acontece se as negras se atirarem à Dama:
As negras defendem o peão de e5 com o desenvolvimento do Cavalo em direcção ao centro.
Depois defendem a casa fraquinha de f7 ao mesmo tempo que atacam a Dama.
Quando as brancas insistem em atacar f7, defendem a casa interpondo o Cavalo em f6, em direcção ao centro.
E quando as brancas jogam a Dama para b3 para continuar a pressionar o peão de f7, as negras continuam a perseguir a Dama.
Neste caso, conseguiram terminar com um ataque triplo! O Cavalo em c2 ataca o Rei, a Dama e a Torre!
Depois de o Rei fugir ao xeque, o Cavalo vai capturar a Dama.
As negras ganham 6 pontos! (9-3, pois o Cavalo vai ser tomado pelas brancas em e3)
Imaginemos que as brancas querem mesmo comer o peão de f7:
Tudo igual ao início da boa defesa anterior.
Quando as brancas jogam a Dama para b3 para continuar a pressionar o peão de f7, as negras continuam a perseguir a Dama.
Mas agora capturam o peão de f7 - como é xeque, as negras não podem tomar a Dama.
As negras continuam a atacar a Dama - alvo valioso - até ela sair da diagonal a2-g8, onde tinha que estar para defender o Bf7.
Quando a Dama sai da diagonal, as negras capturam o Bispo, ganhando 2 pontos! (3 do Bispo - 1 do peão f7).
E depois as brancas ainda têm que ter o cuidado de defender c2: o Cd4 ameaça capturar esse peão dando xeque e ameaçando a Ta1 (mais 6 pontos na mira: 1 do peão, 5 da Torre).
Conclusão: não é grande ideia tentar dar o mate pastor. Se as negras se defenderem bem, as brancas passam um mau bocado!