0.A
Vamos terminar a nossa introdução ao xadrez deslindando mais uma forma misteriosa de impor negócios ruinosos aos nossos adversários.
Como sempre, vamos seguir a táctica do grande detective Sherlock Holmes que ele guarda na PaLA da sua boina.
0.B
1 - o Rei;
SEGUNDO PASSO: Verificar se há Linhas de ataque
Para cada Alvo identificado, vamos determinar as linhas pelas quais ele pode ser atacado.
TERCEIRO PASSO: Activar a Peça
Quando encontrarmos um bom cruzamento de linhas de ataque, activamos aí o nosso ataque.
Quando identificamos um alvo do adversário que está defendido pelo mesmo número de peças que o número de atacantes, se conseguirmos eliminar um dos defesas, o alvo - que estava pouco protegido - fica desprotegido.
Nos jogos que começam com o avanço dos peões da coluna E (1. e4 e5), é habitual as brancas aproveitarem a vantagem de serem as primeiras a jogar para controlar duas casas no centro e atacar o peão de e5 com 2. Cf3 e as negras lutarem pelo controlo das mesmas duas casas (e5 e d4) e defenderem o peão com 2. ... Cc6.
Na Abertura Espanhola, uma das mais famosas, as brancas continuam o seu desenvolvimento e preparam o roque com a jogada 3. Bb5.
Depois deste lance as brancas ameaçam jogar 4. Bxc6, eliminando o Cavalo que estava a defender o peão de e5.
Vamos lá calcular:
Quando o Cavalo branco capturar o peão de e5, as brancas vão ter dois alvos (peças desprotegidas) nas casas e5 e e4.
Se procurarmos as linhas de ataque para estas casas, verificamos que há uma casa comum: d4.
A partir de d4, as linhas de ataque são na diagonal (para e5) e na linha (para e4).
Qual é a peça que se pode movimentar nas diagonais e nas linhas?
A Dama!
Como é que a Dama consegue ir para d4?
Se o peão de d7 desimpedir o caminho...
Então a melhor continuação para as negras é capturar o Bispo com 4. ... dxc6 e depois de 5. Cxe5 jogar Dd4! E quando o Cavalo fugir, tomar o peão de e4 com xeque.
Mas vamos ver três tipos de exemplos em que «eliminar o defesa» é mais produtivo.
Nuns casos a eliminação vai ocorrer por força de uma captura.
Noutros, por causa de uma ameaça.
E nos últimos, eliminaremos o defesa provocando-lhe um desvio das suas tarefas defensivas.
A: ELIMINAR O DEFESA COM UMA CAPTURA
Vamos lá ver um exemplo em que o adversário fica a pensar que somos um gatinho quando na verdade jogamos como o rei da selva!
B: ELIMINAR O DEFESA COM UMA AMEAÇA
Mas para eliminar o defesa não é obrigatório capturá-lo.
Às vezes basta uma boa ameaça:
E se a ameaça for ao Rei, o caso ainda é mais sério, pois é obrigatório proteger o Rei.
C: ELIMINAR O DEFESA COM UM DESVIO
Além da captura e da ameaça, um defesa também pode ser eliminado com um desvio.
Esta situação acontece quando uma peça sobrecarregada com tarefas defensivas.
Como não é possível estar em dois sítios ao mesmo tempo, vamos aproveitar este facto para o aplicar na táctica de eliminar o defesa.
Vamos ver!
Pelo caminho, dedicação: qualquer Grande Mestre já foi um iniciante e antes de começar a ganhar partidas e depois campeonatos, teve que perder muitas vezes e aprender com elas.
Na verdade, qualquer Mestre já perdeu mais partidas do que todas aquelas que vocês já jogaram na vida!
Vamos terminar a nossa introdução ao xadrez deslindando mais uma forma misteriosa de impor negócios ruinosos aos nossos adversários.
Como sempre, vamos seguir a táctica do grande detective Sherlock Holmes que ele guarda na PaLA da sua boina.
PaLA (Peças activas em Linha para o Alvo)
A solução do mistério passa sempre por três elementos:
1 - Peças activas
2 - Linhas de progressão
3 - Alvo para ameaça
E quanto aos alvos, temos três tipos: o Rei, o Material pouco protegido e as Casas VIP.
0.B
Finalmente, para usarmos a PaLA (Peças activas em Linha para o Alvo) do Sherlock Holmes para fazer desaparecer as peças do adversário, temos que seguir três passos:
PRIMEIRO PASSO: Identificar os Alvos
Começamos numa ponta do tabuleiro e, como um radar, identificamos:
1 - o Rei;
2 - Material desprotegido ou defendido pelo mesmo número de peças que o número de atacantes;
3 - Casas VIP.
SEGUNDO PASSO: Verificar se há Linhas de ataque
Para cada Alvo identificado, vamos determinar as linhas pelas quais ele pode ser atacado.
TERCEIRO PASSO: Activar a Peça
Quando encontrarmos um bom cruzamento de linhas de ataque, activamos aí o nosso ataque.
Da última vez falámos sobre o Ataque a Descoberto.
Hoje vamos «Eliminar o Defesa»!
Quando identificamos um alvo do adversário que está defendido pelo mesmo número de peças que o número de atacantes, se conseguirmos eliminar um dos defesas, o alvo - que estava pouco protegido - fica desprotegido.
Nos jogos que começam com o avanço dos peões da coluna E (1. e4 e5), é habitual as brancas aproveitarem a vantagem de serem as primeiras a jogar para controlar duas casas no centro e atacar o peão de e5 com 2. Cf3 e as negras lutarem pelo controlo das mesmas duas casas (e5 e d4) e defenderem o peão com 2. ... Cc6.
Na Abertura Espanhola, uma das mais famosas, as brancas continuam o seu desenvolvimento e preparam o roque com a jogada 3. Bb5.
Depois deste lance as brancas ameaçam jogar 4. Bxc6, eliminando o Cavalo que estava a defender o peão de e5.
No entanto, se as negras responderem correctamente, nada têm a temer.
Efectivamente, as negras conseguem recuperar o material perdido com um ataque duplo.
Consegues descobrir como é que as negras devem continuar para recuperar o peão que vão perder por o defesa de e5 ter sido eliminado?
Vamos lá calcular:
Quando o Cavalo branco capturar o peão de e5, as brancas vão ter dois alvos (peças desprotegidas) nas casas e5 e e4.
Se procurarmos as linhas de ataque para estas casas, verificamos que há uma casa comum: d4.
A partir de d4, as linhas de ataque são na diagonal (para e5) e na linha (para e4).
Qual é a peça que se pode movimentar nas diagonais e nas linhas?
A Dama!
Como é que a Dama consegue ir para d4?
Se o peão de d7 desimpedir o caminho...
Então a melhor continuação para as negras é capturar o Bispo com 4. ... dxc6 e depois de 5. Cxe5 jogar Dd4! E quando o Cavalo fugir, tomar o peão de e4 com xeque.
Mas vamos ver três tipos de exemplos em que «eliminar o defesa» é mais produtivo.
Nuns casos a eliminação vai ocorrer por força de uma captura.
Noutros, por causa de uma ameaça.
E nos últimos, eliminaremos o defesa provocando-lhe um desvio das suas tarefas defensivas.
A: ELIMINAR O DEFESA COM UMA CAPTURA
Jogam as brancas.
Qual é o alvo nesta posição?
O Bispo negro é um alvo - peça pouco protegida.
Está atacado por uma peça (Td1) e protegido pelo mesmo número de defesas (Cc6).
Uma das formas de punir uma peça pouco protegida é eliminar o defesa.
Podemos eliminar o Cc6?
Sim, podemos eliminar o defesa através de uma captura:
jogamos Bxc6 e ganhamos 3 pontos!
As negras podem recuperar esses 3 pontos com 1. ... Txc6 (seta verde), mas como eliminámos o defesa do Bispo, as brancas podem voltar a ter vantagem de 3 pontos com 2. Txd4.
E ainda ficam a ameaçar dar o xeque-mate do fundinho porque o Rei não tem casas de fuga na linha 7! (setas vermelhas)
Esta táctica é tão eficaz que às vezes até podemos começar com um negócio que parece ruinoso para nós, mas que no final nos vai trazer muita compensação.
Parece complicado?
Vamos lá ver um exemplo em que o adversário fica a pensar que somos um gatinho quando na verdade jogamos como o rei da selva!
Jogam as brancas.
Há algum alvo nesta posição?
O Rei é sempre um alvo e aqui está exposto.
No entanto não há linhas de ataque contra ele.
O Bispo é um alvo - peça desprotegida.
Mas não há nenhum Ataque Duplo disponível.
A Dama é um alvo - peça pouco protegida:
está atacada por um (Df2) e defendida por um (Ce7).
Já sabemos que uma das formas de punir uma peça pouco protegida é eliminar o defesa.
Só que aqui, eliminar o defesa não parece uma ideia: vamos dar os 5 pontos da Torre para ganhar os 3 do Cavalo, e acabamos a perder 2...
Se voluntariamente quisermos um negócio ruinoso para nós, jogamos como um gatinho que não percebe grande coisa de xadrez, só de novelos de lã...
Mas será mesmo assim?
Sempre que nos parecer que uma variante não é boa, devemos esforçar-nos para ver um pouco mais longe.
1. Txe7 (+3 pontos) Rxe7 (-5 pontos)
Estamos a perder 2 pontos... somos um gatinho?
Não!
Com o sacrifício da qualidade eliminamos o defesa da Dama que passou de alvo-peça-pouco-protegida para alvo-peça-desprotegia.
Estamos a perder 2 pontos, mas depois de 2. Dxf5, ganhamos 9 pontos e o resultado final é um negócio altamente ruinoso de -7 pontos... para o nosso adversário!
Ah, leão!
B: ELIMINAR O DEFESA COM UMA AMEAÇA
Às vezes basta uma boa ameaça:
Jogam as brancas.
Há algum alvo nesta posição?
O Bispo negro é um alvo - peça pouco protegida:
está atacado pela Td1 e defendido pela Td8.
Uma das formas de punir uma peça pouco protegida é eliminar o defesa.
Podemos eliminar a Td8?
Nesta posição não podemos capturar o defesa.
Mas se jogarmos 1. Ba5! ameaçamos capturar a Torre na jogada seguinte e ganhar 5 pontos à borla!
As negras têm que fugir com a Torre para uma casa na fila 8 e as brancas ganham os 3 pontos do Bispo negro depois de 2. Txd7.
(depois de 1. Ba5 não serve Ta8, porque depois de 2. Txd7 se Txa5, 3. Td8# dá o mate do fundinho)
E se a ameaça for ao Rei, o caso ainda é mais sério, pois é obrigatório proteger o Rei.
As negras estão a ganhar por um ponto e por isso querem trocar peças e não peões.
Decidiram propor a troca de Damas com 1. ... Dc8 o que foi um grande erro.
Em c8, a Dama é um alvo - peça pouco protegida.
Está atacada pela Dc4 e defendida pelo Rb8.
Uma das formas de punir uma peça pouco protegida é eliminar o defesa.
Podemos eliminar o Rb8?
Já sabemos que é ilegal capturar o Rei. Mas o xeque vem no livro das regras...
2. Ba7+ e o Rei é obrigado a afastar-se da defesa da Dama.
As negras tinham a vantagem de um ponto e depois de 2. ... Rxa7 ficam com 4 pontos de vantagem.
No entanto, as brancas respondem com 3. Dxc8, ganham 9 pontos e ficam com 5 de vantagem.
Além da captura e da ameaça, um defesa também pode ser eliminado com um desvio.
Esta situação acontece quando uma peça sobrecarregada com tarefas defensivas.
Como não é possível estar em dois sítios ao mesmo tempo, vamos aproveitar este facto para o aplicar na táctica de eliminar o defesa.
Vamos ver!
Jogam as brancas.
Há algum alvo nesta posição?
O peão de h6 é um alvo - peça desprotegida.
O Cavalo é um alvo - peça pouco protegida (atacada pelo Be1 e defendida pelo peão b6).
O Bispo é um alvo - peça pouco protegida (atacada pela Tc2 e defendida pelo peão b6).
O peão de b6 apareceu duas vezes como defensor dos alvos.
Isto significa que ele está sobrecarregado.
Tem várias missões defensivas e não vai conseguir estar em todo o lado ao mesmo tempo...
As brancas podem aproveitar o facto de o peão estar sobrecarregado para eliminar a defesa de um dos alvos:
1. Bxa5 (3 pontos) bxa5 (tudo igual... mas agora o Bc5 passou de alvo-peça-pouco-protegida para alvo-peça-desprotegida e
2. Txc5 dá uma vantagem de 3 pontos às brancas!
*
E com esta táctica terminamos a nossa introdução ao xadrez.
Agora é tempo de treinar todos estes truques até ficarmos com estas armas nas pontas dos dedos.
E de pôr estes conhecimentos em prática jogando muitas partidas: em casa, online, em torneios.
O QUE É QUE JÁ SABEMOS?
Na Abertura: (ver resumo n.º 5)
1 - Queremos tirar o nosso exército do quartel, abandonando a posição inicial para conquistar espaço no tabuleiro e proteger o nosso Rei.
2 - Para alcançar este objectivo, temos 3 regras de ouro:
i) Controlar o centro;
ii) Desenvolver as peças por ordem crescente de valor e, em princípio, sem movimentar duas vezes a mesma peça antes de todas terem saído do quartel (o xadrez é um jogo de equipa, é muito difícil dar xeque-mate só com uma peça: os Cavalos devem ir para o centro do tabuleiro, não para as laterais; os Bispos e as Torres devem ocupar preferencialmente linhas abertas, isto é, sem peões, para o seu raio de influência e a sua mobilidade serem maiores);
iii) Proteger o Rei num canto do tabuleiro, através do roque (que ajuda a desenvolver a Torre e encosta o Rei a um canto, onde o adversário tem menos linhas de ataque e reforça a defesa do peão de f, de Fraquinho).
No Meio-Jogo:
3 - Sempre que o adversário jogar, devemos fazer duas perguntas:
i) O que é que a peça que ele jogou está a ameaçar na sua nova posição?
ii) O que é que a peça que ele jogou deixou de fazer por já não estar na posição anterior?
(Deste modo vamos ficar concentrados e evitaremos que o adversário nos faça negócios ruinosos - ver resumo n.º 6)
4 - Vamos tentar obter vantagem material, através da realização de negócios ruinosos para o adversário, utilizando as tácticas da PaLA da boina do Sherlock Holmes.
Queremos:
i) Peças activas, isto é, a desempenhar uma função útil, seja a atacar o adversário, seja a impedir a sua progressão, seja a ajudar outras peças do nosso exército;
ii) ocupar Linhas de progressão, ou seja, as nossas peças devem ter mobilidade para atacar alvos;
iii) identificar os alvos na posição adversária que podem ser:
a) O Rei ou outra peça valiosa (Dama ou Torre);
b) Peças desprotegidas ou pouco protegidas, isto é, defendidas com o mesmo número dos atacantes;
c) Casas VIP, ou seja, casas onde podemos fazer coisas importantes, como dar xeque-mate, activar as nossas peças ou impedir a progressão do adversário.
(PaLA - Peças activas em Linha contra o Alvo: ver resumo n.º 7, primeira parte)
5 - O nosso radar de alvos tem que estar sempre ligado. Se encontrarmos:
i) Dois ou mais alvos, procuramos Ataques Duplos (resumo n.º 7, segunda parte);
ii) Se os alvos estiverem na mesma linha, procuramos Pregagens ou Espetadas Radioactivas e quando tivermos uma pregagem feita, o que queremos? Aumentar a pressão! E o que é que a peça pregada não faz? Peça pregada não defende! (ver resumo n.º 8);
iii) Se houver alvos e tivermos uma bateria, tentamos fazer uma Ataque a Descoberto (ver resumo n.º 9);
iv) Se o alvo for uma peça pouco protegida, tentamos Eliminar o Defesa com uma captura, uma ameaça ou um desvio (ver resumo n.º 10)
6 - Depois de um negócio ruinoso (ver resumo n.º 4, parte final):
i) Se tivermos vantagem material, queremos trocar peças e não peões. Trocamos peças para diminuir a possibilidade de defesa do adversário e ficamos com os peões para promover um a Dama;
ii) Se estivermos a perder material, queremos trocar os peões e não as peças (trocamos os peões para o adversário ter mais dificuldade em promover um e ficamos com as peças para termos mais poder defensivo)
7 - O Rei deve ser protegido; os Cavalos devem controlar o centro; os Bispos gostam de diagonais abertas; as Torres também gostam de colunas abertas, sendo que dobradas triplicam de força e o objectivo é coloca-las no território adversário na sétima ou na oitava fila.
No Final:
8 - Devemos ter peças activas e explorar os peões fraquinhos (isolados, dobrados ou atrasados).
9 - O objectivo é promover um peão a Dama e devemos concretizar este plano com a ajudar do nosso Rei: como já há poucas peças no tabuleiro, não há grande risco de levar mate, pelo que o Rei deve ser uma peça activa.
10 - Quando tivermos Rei e Dama contra Rei, devemos fazer a técnica da caixa; se tivermos duas peças pesadas (Dama/Torre) contra o Rei, a técnica mais eficaz é a das escadinhas. Cuidado para não afogar! (ver resumo n.º 2)
*
Vão ver que à medida que forem interiorizando estes ensinamentos os bons resultados vão aparecer: o objectivo do xadrez é dar xeque-mate ao adversário, mas ganhar, mais do que um objectivo, é o resultado do vosso empenhamento.
Se se dedicarem é garantido que vão ganhar mais vezes que aquelas que perdem.
Pelo caminho, dedicação: qualquer Grande Mestre já foi um iniciante e antes de começar a ganhar partidas e depois campeonatos, teve que perder muitas vezes e aprender com elas.
Na verdade, qualquer Mestre já perdeu mais partidas do que todas aquelas que vocês já jogaram na vida!
Agora, mãos à obra que o xadrez é um caminho que se faz caminhando.
Trabalho, Dedicação e Boa sorte!