TuRnO
dA nOiTe
[torres
na muralha. quarentena abril/maio 2020]
introdução LOULEX
– Loulé Escola de Xadrez a partir das lições do GM J. Viterbo
Ferreira (2015)
- – Que Xadrez? Desporto, Arte ou Ciência?
- – Como progredir no xadrez? Mais informação estruturada retida (padrões) = Maior força de jogo
- – Elementos do xadrez: TÁCTICA (ataques duplos & lances intermédios), ESTRATÉGIA (vantagem estática & dinâmica) e CÁLCULO (lances forçadores)
- – A evolução do xadrez: do Romantismo atacante ao pragmatismo da Modernidade
- - Função do treinador
- – Alguns temas do Meio-Jogo e do Final: estrutura de peões e espaço; coluna aberta e posto avançado; construção do plano e análise da posição; gestão do tempo; defesas e possibilidades ativas; Bispo e Cavalo vs Rei; Dama vs Torre
1.1.
Dependendo do jogador, o xadrez é abordado por um de três prismas:
Xadrez-Jogo:
o objectivo é pontuar muito e de forma eficiente – a escolha dos
lances tem em vista a obtenção de uma posição que seja fácil de
jogar. Ex: nacional - MF João Padeiro; no clube - João Pacheco.
Xadrez-Arte:
o elemento comunicacional está muito presente – a escolha dos
lances é orientado pela transmissão de um sentido de estética. Ex:
nacional - MI Rui Dâmaso; no clube - Luís Botelho.
Xadrez-Ciência:
o jogo é abordado do ponto de vista estrutural – a escolha dos
lances reflete a natureza da posição. Ex: nacional - GM Jorge
Viterbo Ferreira; no clube - Tiago Pinho.
1.2.
Diferença de força de jogo
O
que distingue as diferentes forças de jogo é a sedimentação dos
conhecimentos. Os jogadores mais fortes têm mais informação
estruturada:
por terem referenciados e retidos mais elementos, têm uma intuição
mais eficaz. Por isso começámos os primeiros estudos com padrões
de mate, para aumentarem o vosso arsenal.
1.3.
Elementos estruturais básicos: Tática, Estratégia e Cálculo
Tática:
para Bronstein, o xadrez é um jogo de ataques
duplos:
uma vez que cada jogador só pode fazer um lance de cada vez, a
ameaça simultânea de vários alvos é uma grande vantagem. Os alvos
principais são peças pouco desprotegidas. O Rei, casas importantes
e peças valiosas também são bons alvos.
Outro
elemento tático importante é o lance
intermédio:
em vez do lance “normal” (por ex., uma recaptura), é efetuado um
lance inesperado que cria uma ameaça que o adversário tem que
resolver, piorando a sua posição, para só depois de se fazer o
lance normal.
Estratégia:
para Dorfman, The
Method in Chess,
cada posição pode ser avaliada de acordo com quatro elementos: 1)
Posição dos Reis;
2) Equilíbrio Material
(vantagem
material | par de Bispos | peões centrais);
3) Ausência de Damas
(desenvolvimento)
e 4) Estrutura dos peões.
(para outras teorias, ver o ponto 1.4)
Quem
tiver vantagem
estática
(as que só tendem a desaparecer se houver trocas ou alteração da
estrutura, como vantagem material, de espaço, melhor estrutura de
peões ou o par de bispos), deve
melhorar lentamente
a posição e utilizar as suas vantagens de longo prazo; quem tiver
vantagem
dinâmica
(a que pode desaparecer se não for utilizada, como a segurança do
rei, melhor desenvolvimento, mobilidade ou colocação das peças)
deve
procurar o confronto
com o adversário para fazer acontecer algo na posição.
Viterbo
Ferreira (2422) – Chernyshov (2520)
First
Saturday GM – Outubro 2014
XABCDEFGHY
8rsn-+-trk+(
7zpl+-wqpzpp'
6-+-zppsn-+&
5+-zp-+-vL-%
4-+P+-+-+$
3zP-wQ-zPP+N#
2-zP-+-+PzP"
1tR-+-mKL+R!
Xabcdefghy
8rsn-+-trk+(
7zpl+-wqpzpp'
6-+-zppsn-+&
5+-zp-+-vL-%
4-+P+-+-+$
3zP-wQ-zPP+N#
2-zP-+-+PzP"
1tR-+-mKL+R!
Xabcdefghy
As brancas têm a
vantagem estática (par de Bispos), mas, ao trocar tudo em f6,
jogaram como se tivessem a vantagem dinâmica.
Outro
tipo de consideração estratégica: Seirawan entende que na
Siciliana Aberta as negras têm vantagem material porque trocaram um
peão lateral por um central – para este GM, um
peão não vale sempre 1,0,
varia entre algumas décimas abaixo e outras acima da unidade,
consoante a sua localização no tabuleiro (ala vs
centro; casa inicial vs
casa
de promoção).
Cálculo:
Kahneman, em Thinking,
Fast and Slow,
descreve duas formas diferentes como o cérebro forma pensamentos –
uma rápida, frequente, emocional, tipificada e inconsciente; outra
lenta, ocasional, lógica, calculada e consciente. Para avaliar uma
posição, seja ela tática ou estratégica, usamos aquele segundo
sistema na busca de lances candidatos.
Os
lances
candidatos
(de todos os lances legais, retiram-se os que perdem material e os
que não têm valor estratégico e começamos pelos mais forçadores:
xeques, capturas, ameaças...) servem para aumentar o nosso leque de
opções [thinking
slow]:
são jogadas que não se analisariam ao olhar instantaneamente para a
posição [thinking
fast].
Atualmente
há duas escolas, a ocidental (Axel
Smith,
GM sueco) e a soviética (Dvoretsky,
faleceu em 2016 mas a sua herança perdura),
e
embora cada uma privilegie diferentes metodologias, numa coisa estão
de acordo: a árvore de análises proposta por Kotov não funciona
porque é contra-natura começar num lance candidato, ver as suas
variantes e passar à seguinte sem nunca voltar atrás. Na prática,
o tema tático pode surgir apenas num lance candidato secundário e
depois temos que voltar aos lances candidatos anteriores para
verificar se o tema funciona aí [«Baralha e Torna a Dar»].
XABCDEFGHY
8-+-+-tr-mk(
7+-+rvlpzpp'
6p+-zp-sn-+&
5+p+-wq-+-%
4-+-wQPsN-+$
3+L+-+-+R#
2PzPP+-+PzP"
1+-+-+R+K!
xabcdefghyNesta posição, o primeiro lance candidato, por ser o mais forçador, é Cg6+.
8-+-+-tr-mk(
7+-+rvlpzpp'
6p+-zp-sn-+&
5+p+-wq-+-%
4-+-wQPsN-+$
3+L+-+-+R#
2PzPP+-+PzP"
1+-+-+R+K!
xabcdefghyNesta posição, o primeiro lance candidato, por ser o mais forçador, é Cg6+.
Depois da abertura da
diagonal a2-g8, há tema de mate na coluna H.
No entanto, as Negras
têm o Cavalo a defender h7.
«Baralha e Torna a
Dar»:
Com o mesmo tema de
eliminar o peão de f7, surge como lance candidato Bxf7.
As negras evitam o mate
com Txf7.
Mas Cg6+, apesar de não
ser mate, é um ataque duplo que ganha a Dama.
1.4
– Do romantismo à época moderna: os elementos posicionais e a
intuição em Steinitz.
No
xadrez, a transição da era romântica para a moderna ocorreu no
final do século XIX com o abandono do ideal atacante (partidas
abertas recheadas de sacrifícios e combinações táticas) por um
conceito mais equilibrado que não considerava desonrosas as
preocupações defensivas e privilegiava a preparação estratégica
do ataque. Esta mudança de paradigma para o xadrez-ciência é
visível nos jogos de Steinitz (o “n.º 1 do Mundo”, após as
vitórias sobre Anderssen em 1866 e Zukertort em 1872) que passaram a
privilegiar elementos posicionais.
A
profunda compreensão destes elementos permitiu aos xadrezistas da
era moderna intuir a melhor continuação nas posições com que eram
confrontados.
De
acordo com Valeri Beim, The
Enigma of Chess Intuition – Can You Mobilize Hidden Forces In Your
Chess?,
a intuição é a capacidade de avaliar uma situação e, sem
raciocínio nem análise lógica, tomar de imediato a decisão
correta, o que até pode acontecer mesmo depois de longa reflexão
que não é aproveitada na tomada de decisão. No xadrez, a intuição
manifesta-se na capacidade de escolher entre diferentes hipóteses de
jogo de uma forma quase inconsciente mas com alto grau de precisão.
O
desenvolvimento da intuição xadrezística é alcançado através da
aquisição de padrões que pode ser efeuada por duas formas: por um
lado, através de experiência própria, através de partidas jogadas
ou exercícios resolvidos que passam a ser reconhecidos de forma
quase automática (o cérebro reconhece uma situação que no passado
nos foi favorável); por outro, através de experiência alheia, por
via da análise de partidas de Mestres.
1.4A
– Métodos clássicos: Silman e os sete desequilíbrios posicionais
Na
esteira de Steinitz e Euwe, Silman baseia-se na consideração dos
elementos posicionais do xadrez. Este autor defende que todas as
posições são desequilibradas e desconstrói-as em sete factores
que são individualmente apreciados: Material (soma do valor das
peças em jogo), Espaço (mobilidade), Estrutura de Peões
(fraquezas), Bispos vs Cavalos, Tabuleiro (Linhas Abertas + Casas
Fracas); Desenvolvimento (número de peças que controlam o centro) e
Iniciativa (capacidade de criar ameaças caso se jogasse duas vezes
seguidas).
De
acordo com este método, um Plano é a forma de tirar partido dos
desequilíbrios positivos da nossa posição e dos desequilíbrios
negativos da do adversário. E como tudo se baseia nos desequilíbrios
existentes, o Plano não depende dos gostos ou características do
xadrezista mas daquilo que o tabuleiro pede, sendo raros os planos de
várias jogadas: a maioria das posições pedem operações de 2 ou 3
lances, pois é possível que os desequilíbrios se alterem depois
destas 2 ou 3 jogadas, uma vez que a posição também se altera.
1.4B
– Modelos matemáticos:
a
Física de Shashin
Na
linha de Botvinnik – engenheiro que queria construir um computador
capaz de jogar xadrez -, Alexander Shashin (“Best
Play: A New Method For Discovering The Strongest Move”),
físico, é o mais recente representante da tese matemática: para
este autor, na busca pelo melhor lance da posição, o Plano é algo
totalmente despiciendo, desde logo porque os elementos posicionais
são incapazes de traduzir todo o caos que pode ser um jogo de
xadrez, como no seguinte exemplo:
Short
– Timman
Tilburg,
1991
XABCDEFGHY
8-+r+-trk+(
7+lzpR+p+-'
6-zpq+pwQp+&
5zp-+-zP-+p%
4P+PtR-+-zP$
3+-+-+N+-#
2-+P+-zPPmK"
1+-+-+-+-!
xabcdefghyAs brancas ganharam a partida devido à ameaça do controlo da casa g7... com o Rei!!
8-+r+-trk+(
7+lzpR+p+-'
6-zpq+pwQp+&
5zp-+-zP-+p%
4P+PtR-+-zP$
3+-+-+N+-#
2-+P+-zPPmK"
1+-+-+-+-!
xabcdefghyAs brancas ganharam a partida devido à ameaça do controlo da casa g7... com o Rei!!
32.
Rg3 Tc8 33. Rf4 Bc8 34. Rg5!
1-0
O
mate é inevitável depois de 34... Bxd7 35. Rh6.
O
físico Shashin vê o xadrez como um universo complexo com objectos
materais (peças) num determinado espaço (tabuleiro) que interagem
lance após lance (tempo). Os elementos posicionais propostos por
Steinitz, insuficientes para compartimentar toda a essência da
posição, são substituídos por conceitos mais próximos da Física:
mobilidade das peças (energia cinética), concentração de peças
numa determinada área (densidade = massa / volume) e expansão
espacial e força potencial das peças (centro de gravidade).
A
tese de Sashin baseia-se na avaliação de cinco parâmetros:
Material (quanto mais melhor, sendo que um peão vale mais quando há
menos material no tabuleiro pois ½ > ¼); Tempo e Mobilidade
(medido através do somatório das casas disponíveis com todos os
lances legalmente possíveis); Segurança (comparação da posição
dos Reis); Densidade (é melhor que as nossas peças ocupem menos
espaço que as do adversário, ie, que estejam mais concentradas) e
Expansão Espacial (o centro de gravidade do posicionamento das
nossas peças deve estar mais próximo das casas de promoção).
Em
concreto, Shashin defende que não é necessário formular planos
mas, apenas, seguir o curso natural do universo xadrezístico: como
os peões só podem avançar (as regras não lhes permitem recuar)
devem dirigir-se em direção à casa de promoção, e as restantes
peças devem segui-los e suportá-los. Concluindo deste modo que a
expansão espacial é, no xadrez, pré-determinada, sendo a base da
estratégia que deve ser acompanhada com a disponibilidade de efetuar
lances legais e a concentração das peças. (Ao subir o centro de
gravidade da posição, expandindo-a, aumentam as hipóteses de
sucesso: são mobilizados todos os recursos, todas as peças e todos
os peões, para a frente da batalha, o que potenciará um desfecho
tático.)
E,
afastando-se do método tradicional do xadrez-ciência, desconsidera
conceitos como peões dobrados ou casa fraca, para privilegiar, de
acordo com o resultado da avaliação dos 5 parâmetros, o modo de
jogo: à Tal (ataque: pouco material, muita mobilidade, segurança,
densidade e expansão), à Petrosian (defesa) ou à Capablanca
(aumento gradual de vantagem posicional).
2.4.
Teses pragmáticas: Aagaard / Hansen / Rowson
Com
o mesmo fundamento de que os modelos clássicos não conseguem captar
toda a complexidade do xadrez, Aagaard propõe uma abordagem
pragmática que aborda o jogo em três grandes grupos. A crítica
feita a Silman consiste, por exemplo, na incapacidade do seu modelo
integrar preocupações profiláticas e a alternativa surge na
identificação dos três elementos que conformam o xadrez
posicional: os Peões (onde estão as fraquezas?), as Peças (qual a
pior colocada?) e o Adversário (qual é a sua ideia?).
Hansen
(“Foundation
of Chess Strategy – Applying Business Methods to Chess Preparation
and Training”)
também parte do pressuposto de que é cada vez mais difícil jogar
xadrez apenas de acordo com os princípios gerais, pois estes são,
atualmente, do conhecimento público. Para ultrapassar a
concorrência, jogar de “forma correta” é bom, mas não basta,
sendo necessário considerar outros fatores competitivos como o
perfil do oponente ou as condições de jogo (ritmo de jogo, apuros
de tempo...) - propõe, deste modo, a alteração do foco: de como
ganhar a posição para como derrotar o adversário.
A
análise da predominância de uma destas duas perspetivas também
pode servir para catalogar o estilo de um jogador e a sua abordagem
ao xadrez, se mais científica ou mais desportiva: os
«perfecionistas» querem ganhar a posição, jogam contra o
tabuleiro e procuram o melhor lance possível – xadrez-ciência; os
«pragmáticos» querem derrotar o adversário, jogam até ao fim
mesmo quando a posição é má, criando dificuldades e obrigando o
oponente a descobrir os lances vencedores – xadrez-jogo.
Anand
– Nakamura
London
Chess Classic, Dezembro 2011
XABCDEFGHY
8r+lwq-+k+(
7zpp+-+rvl-'
6-zP-+-snn+&
5+NvLPzp-+p%
4-+N+Pzp-+$
3+-+-+Pzp-#
2-+-+L+PzP"
1tR-+Q+RmK-!
xabcdefghyA jogar de Brancas, o então Campeão Mundial tem uma excelente posição:
8r+lwq-+k+(
7zpp+-+rvl-'
6-zP-+-snn+&
5+NvLPzp-+p%
4-+N+Pzp-+$
3+-+-+Pzp-#
2-+-+L+PzP"
1tR-+Q+RmK-!
xabcdefghyA jogar de Brancas, o então Campeão Mundial tem uma excelente posição:
Domínio
avassalador na Ala de Dama e um peão passado que os computadores
estimam em +3.
Nakamura
na conferência de imprensa:
“Provavelmente,
visto de forma objetiva, a posição é muito pior para as Negras,
mas nós somos humanos. Eu não tenho que descobrir nenhum lance
difícil nesta posição. Tenho que atacar e se funcionar, funcionou,
se não funcionar perco de forma horrível e pareço um idiota. O
ónus é do Vishy que tem que descobrir todos os lances corretos.”
As
negras usaram os peões de G e H para abrir linhas e transferiram as
suas peças para a Ala de Rei. As brancas, com a pressão de ter uma
posição vencedora e várias opções, acabaram por sucumbir.
Rowson
(“Chess
For Zebras – Thinking Differently About Black and White”),
sem fazer uma crítica explícita a nenhuma corrente, parece fazer
também uma proposta pragmática ao xadrezista em evolução.
Rejeitando a ideia de que a grande distinção entre um iniciante e
um jogador experiente é a qualidade de jogo, alvitra que aquilo que
os distingue é, antes, o seu estado mental.
(O
iniciante convence-se que a sua jogada é boa por se concentrar
apenas nas respostas adversárias que beneficiam a sua estratégia.
Numa partida entre iniciantes os dois lados jogam de forma muito
otimista, acreditando sempre que têm hipóteses de vencer, atacando
porque é divertido, ao contrário de defender. O jogo termina quando
um jogador é punido por um erro cometido (ex: peça atacante
desprotegida) ou quando o subestimado ataque do adversário se mostra
afinal eficaz. Já o jogador experiente tem a preocupação de
procurar rebater as opções adversárias que possam contrariar a sua
jogada, antes de a fazer. Considera as possibilidades atacantes do
adversário e atenta às fraquezas da sua posição, tendo
preocupações profiláticas.)
Rowson
considera que o problema do iniciante é efetuar avaliações
definitivas da posição e ter apenas uma ideia vaga de como a jogar,
sublinhando que um Plano só é útil se também tiver em atenção
as preocupações do adversário, daí que não possa ter, por regra,
mais de 3 lances – a partir daí é impossível prever se o
adversário vai, ou não, alterar a natureza da posição com as suas
próprias escolhas.
Defende
que mais importante que ter um Plano é que todas as jogadas tenham
um objetivo. E propõe um modelo para se “desaprender” o que se
sabe sobre xadrez, de modo a recalibrar os conceitos que são
inconscientemente utilizados durante a partida e a ampliar o leque de
ideias disponíveis, de modo a permitir o desenvolvimento da força
de jogo.
O
seu modelo é mera ferramenta descritiva, que não um instrumento de
utilização prática para se usar diretamente durante a partida, que
privilegia a psicologia do xadrez, apresentando-o como um jogo de 4
dimensões:
- Material (valor das peças);
- Oportunidade (iniciativa, capacidade de criar ameaças e executar operações posicionais);
- Tempo (elemento quantitativo que se mede no relógio e qualitativo: momento indeterminado em que acontece algo especial); e
- Qualidade (estrutura de peões, finalidade das peças, espaço e segurança do Rei).
1.5
Função do treinador de xadrez
Aulas
de xadrez não produzem resultados seguros nem instantâneos.
O
treinador pode demonstrar técnicas/táticas, fornecer e corrigir
exercícios, mas não passa de um orientador que quer que o atleta
aprenda e progrida.
O
aluno tem que praticar e fazer o seu próprio caminho até tais
técnicas/táticas se tornarem naturais (óbvias), de modo a alcançar
o seu objectivo: aprender e progredir.
*
Quanto
ao caminho da progressão, Rowson
(“Chess
For Zebras – Thinking Differently About Black and White”)
propõe que a ênfase seja colocada mais na habilidade
que no conhecimento,
isto
é, que o trabalho xadrezístico seja menos focado na aprendizagem
e
mais no treino
e na
prática
que
obrigue a pensar.
A
sua tese é que no xadrez não é necessário deter uma retrospetiva
em
que tudo faz sentido (por se dominar a fonte de conhecimento por
termos aprendido, por exemplo, o que é que acontece se um peão
isolado for bloqueado). Entende, antes, que aquilo que é essencial é
dominar uma capacidade de previsão
que permita antecipar posições e avaliá-las de forma mais precisa
(ex: será o bloqueio seguro? que mais está a acontecer na
posição?). Para este autor, acumular conhecimento (sobre aberturas
ou finais, por exemplo) só é útil na medida em que ajuda a saber
como
jogar a abertura ou o final, e esta transição não é automática.
Daí que defenda que os jogadores que desejam evoluir devem
desenvolver a sua capacidade e não aumentar o seu conhecimento,
melhorar o «saber como» e preocupar-se menos com o «saber que...»,
atender menos com «o quê» do xadrez e mais com o «como» é
feito.
Para
Rowson, esta distinção entre conhecimento
e capacidade
é o que justifica a facilidade de os jogadores mais jovens evoluírem
de forma mais evidente: eles põem os seus conhecimentos em prática
mais depressa e de modo mais inconsciente, enquanto os adultos ficam
presos a um esforço para racionalizar o que estão a aprender e em
vez de ganharem capacidade, adulteram-na ao formalizá-la em
conhecimento, talvez por terem mais preconceitos e menos plasticidade
neural.
Daqui
conclui haver limites ao que pode ser aprendido através de absorção
passiva, uma vez que o conhecimento não é virgem, tem que ser
construído, pondo a tónica na prática – absorção ativa.
Por
outro lado, constata que esta construção implica que os nossos
pensamentos conscientes são apenas uma fração daquilo que pensamos
enquanto jogamos: o «saber como» depende muito da nossa capacidade
de trabalhar a informação que o tabuleiro nos dá ao nível
inconsciente. A sua proposição é que a capacidade xadrezística
emerge da combinação entre prática de jogo e trabalho autónomo,
pois a principal capacidade de um xadrezista é tomar decisões e é
isto que ele deve fazer constantemente: para ser melhor jogador é
necessário ter melhores hábitos e cultivá-los através do treino,
sendo que o melhor treino é o que nos coloca na fronteira da nossa
zona de conforto por ser aquele que nos força a assumir a
responsabilidade de tomar decisões complicadas. Uma boa forma de
cultivar melhores hábitos é ter como base de trabalho os hábitos
atuais e perceber o que é que está a faltar, sendo que
provavelmente a maior parte dos erros não têm por base falta de
conhecimento, mas a incapacidade de ver umas coisas ou de não fazer
outras.
As
suas sugestões passam, então, por estudar
menos (diminuir «as leituras ou as visualizações de vídeos com os
acenos» que aumentam o conhecimento ao acrescentar posições) e
treinar
mais
(resolver problemas complexos, jogar partidas amigáveis – mesmo
rápidas, em que não é possível analisar as posições em
profundidade mas permite verificar o resultado das nossas primeiras
impressões -, defrontar o computador a partir de uma posição
vantajosa e analisar as nossas partidas).
Propõe,
ainda, que se trabalhe com um relógio (20 minutos por posição) e,
de forma rigorosa, no tabuleiro, se estudem posições interessantes
(determinar o problema da posição, decidir a melhor continuação –
que não tem que ser uma solução concreta – e comparar com a
solução) e, com este trabalho em condições análogas às de
competição, se criem bases de dados.
Do
ponto de vista psicológico, isto é, do comportamento e das funções
mentais, defende que o xadrezista, sendo humano, é afetado pela sua
natureza de «criador de sentido» e pela “sabedoria popular
escaquística”:
- A “sabedoria popular” e as suas suposições generalizantes criam a tentação de procurar resolver um só problema que torna tudo o resto simples (quando uma partida é composta por vários problemas que devem ser resolvidos), alicerçam uma perspetiva sobre a posição que não abandonamos e tentamos demonstrar a qualquer preço (quando é mais útil ter uma postura em que se ponha em causa constantemente a nossa visão sobre a partida), e moldam uma identidade xadrezística a partir do estilo adotado, das aberturas que se jogam ou de um mito que mesmo inconscientemente se pretende emular, o que tudo dificulta a descoberta de bons lances - quanto aos mitos que encarnamos quando jogamos, apresenta vários personagens: o atacante dos sacrifícios (que perde a objetividade e sobrevaloriza as más respostas do adversário), o génio frustado (que acha que compreende o jogo muito melhor do que joga e que tenta jogar melhor que o adversário em vez de simplesmente o tentar vencer) e o nobre aprendiz (que após cada derrota se contenta com a lição que aprendeu ao ponto de adormecer a vontade para competir);
- Quanto à «criação de sentido», sustenta que uma das formas de estruturar o que acontece durante o jogo é contar estórias sobre a posição e sobre o modo como pode evoluir, pois é da natureza humana organizar experiências através de narrativas. As narrativas que podem ajudar a jogar bem têm detalhes mas também alguma incerteza, pois é necessário deixar algum espaço para que a posição conte a sua própria estória. Mas o que é muito comum é o auto-engano, através da fabulação, a criação de uma novela em torno de alguns factos selecionados por nos fazerem sentir bem, mesmo que a verdade da posição seja muito diferente.
Outro
ponto realçado por este autor é a síndrome do Detetive
Preguiçoso:
a maioria dos jogadores raramente pensa na posição tanto quanto
deveria, preferindo saltar para as conclusões ou decidir através de
«suposições informadas» em abordagens superficiais da posição.
A
abordagem proposta para compreender o xadrez é a de usar ideias para
resolver problemas, um de cada vez (ex: preciso de activar o Rei,
como? ou preciso de trocar os peões e os Bispos, como?).
Para
Rowson, ter ideias relevantes é o que separa os jogadores fortes dos
fracos, mas tê-las não basta: essas ideias têm que ser utilizadas
para resolver os problemas da posição, o que só se consegue com a
sua articulação, pois ter apenas uma ideia sobre a posição é
normalmente insuficiente para a conseguir solucionar com sucesso.
1.6
Alguns elementos do Meio-Jogo e do Final
Peões
em garfo (c4-d3-e4):
Esta
estrutura cria espaço
nas duas alas
(há duas cadeias de peões, cada uma dirigida para a sua ala); no
caso de as negras responderem com uma estrutura simétrica, a
debilidade
estará no eixo da simetria.
XABCDEFGHY
8-+-+-+-+(
7+-+-+-+-'
6-+-zp-+-+&
5+-zp-zp-+-%
4-+P+P+-+$
3+-+P+-zP-#
2PzP-+-zP-zP"
1+-+-+-+-!
xabcdefghy
8-+-+-+-+(
7+-+-+-+-'
6-+-zp-+-+&
5+-zp-zp-+-%
4-+P+P+-+$
3+-+P+-zP-#
2PzP-+-zP-zP"
1+-+-+-+-!
xabcdefghy
Coluna
Aberta segundo Nimzowitsch (My System):
A
ideia por trás da abertura de uma coluna é a penetração na 7.ª
ou na 8.ª
fila.
Se
a coluna estiver semi-aberta:
Exemplo
para afastar/trocar/inutilizar as peças defensivas – p. 35
XABCDEFGHY
8rtr-+-+k+(
7+-+-+-+-'
6-+-+-+-zp&
5zppvlPzp-zp-%
4-+-+P+P+$
3+-+-+-sN-#
2PzP-tR-+-+"
1+K+-tR-+-!
Xabcdefghy1. Th2 Rh7 2. Teh1 Bf8 3. Cf5 Tb6 4. d6!
8rtr-+-+k+(
7+-+-+-+-'
6-+-+-+-zp&
5zppvlPzp-zp-%
4-+-+P+P+$
3+-+-+-sN-#
2PzP-tR-+-+"
1+K+-tR-+-!
Xabcdefghy1. Th2 Rh7 2. Teh1 Bf8 3. Cf5 Tb6 4. d6!
(4.
… Bxd6 5. Txh6+ Rg8 6. Th8+ Rf7 7. T1h7 Rf6 8. Tg7 seguido de Th6#)
- o peão deve ser atacado e os defensores afastados, trocados ou isolados, o que transfere o alvo do peão para o defensor;
ou
XABCDEFGHY
8r+-+-trk+(
7zppzp-+pzpp'
6-+-zp-+n+&
5+-+N+-+-%
4-+-+P+-+$
3+-+-+-+-#
2PzPP+-zPPzP"
1+-mKRtR-+-!
Xabcdefghy
8r+-+-trk+(
7zppzp-+pzpp'
6-+-zp-+n+&
5+-+N+-+-%
4-+-+P+-+$
3+-+-+-+-#
2PzPP+-zPPzP"
1+-mKRtR-+-!
Xabcdefghy
Exemplo
de posto avançado – p. 39: 1.
… c6 2. Cc3 com ideia de Td2 e Ted1
- podemos aproveitar um posto avançado, normalmente com um Cavalo protegido por um peão numa casa que só possa ser atacada por um peão adversário: a mobilidade radial do Cavalo tem muito poder atacante e o adversário pode tentar afastá-lo, mas o avanço do peão cria um alvo: o peão desprotegido na coluna semi-aberta.
XABCDEFGHY
8r+lwq-trk+(
7zppsn-zppvlp'
6-+nzp-+p+&
5+-+-+-+-%
4-+PsNP+-+$
3+-sN-vL-zP-#
2PzP-+-zPLzP"
1tR-+Q+RmK-!
Xabcdefghy
8r+lwq-trk+(
7zppsn-zppvlp'
6-+nzp-+p+&
5+-+-+-+-%
4-+PsNP+-+$
3+-sN-vL-zP-#
2PzP-+-zPLzP"
1tR-+Q+RmK-!
Xabcdefghy
Como
analisar uma posição e construir um plano?
I
- Fase Prévia:
Verbalizar
a estória que cada uma das peças está a contar para perceber que
vantagens temos (Dinâmica? Estática?) ao nosso dispor.
[São
vantagens dinâmicas as que podem desaparecer se não forem
utilizadas (é preciso agir): segurança do rei, desenvolvimento,
mobilidade ou colocação das peças...; são estáticas as que só
tendem a desaparecer se houver trocas (pode jogar-se com calma,
melhorar a nossa posição, prevenir os planos do adversário):
vantagem material, mais espaço, melhor estrutura fixa de peões, par
de Bispos...]
Ex: o Rei está seguro
ou é um alvo que pode ser atacado? Há outros alvos (peças pouco
protegidas, casas importantes)? O material está equilibrado? Quais
são as melhores e as piores peças? Quem está melhor desenvolvido?
A estrutura de peões tem fraquezas?
II
- Fase da Identificação do Tema/Problema:
O
que fazer com as nossas vantagens e as desvantagens do adversário,
isto é, qual será o capítulo seguinte da estória da partida?
Acabar o
desenvolvimento? Melhorar a posição das peças? Preparar um ataque?
Defender? Em que lado do tabuleiro (onde é que há espaço para as
nossas peças terem mais potencial)? Executar um tático?
III
- Fase da Planificação:
Para
resolver o Problema, que casas é que as nossas peças têm que
controlar?
E
quais casas têm que ocupar para escreverem o próximo capítulo da
partida?
IV
- Fase dos Candidatos:
Escolher
as jogadas que têm relevância para o Plano (método para alcançar
um determinado objetivo numa certa posição) e procurar a ordem mais
eficiente por que devem ser efetuadas, começando por aquelas que
mais limitam as opções do adversário: os lances forçadores que
são
os
xeques,
depois as
capturas
e finalmente as
ameaças.
Seguem
3 exemplos de análise de posição / construção de plano
relativos ao tema da Profilaxia
(um
lance profilático é uma jogada preventiva que melhora a nossa
posição ao mesmo tempo que impede o adversário de atuar numa
determinada área do tabuleiro).
Exercício
1
XHGFEDCBAY
1R+-mK-+-tR!
2zPPzP-+PzPP"
3-+-+QsNL+#
4+-vL-sn-+-$
5-+-zP-vlp+%
6zp-+p+-+p&
7-zpp+pwq-+'
8tr-+k+l+r(
xhgfedcbay
1R+-mK-+-tR!
2zPPzP-+PzPP"
3-+-+QsNL+#
4+-vL-sn-+-$
5-+-zP-vlp+%
6zp-+p+-+p&
7-zpp+pwq-+'
8tr-+k+l+r(
xhgfedcbay
Apreciação
da posição:
Ambos
os Reis estão no centro, mas não estão sob ataque e a protecção,
com o roque, pode ser rapidamente efectuada.
Há
equilíbrio material, mas as peças menores brancas estão pior
desenvolvidas que as negras: os bispos não têm diagonais abertas,
embora o Cavalo tenha perspectivas em d6; os bispos negros podem
ficar idealmente apontados ao roque pequeno branco e o Cavalo em d4 é
dominador, colocando pressão em c2 e b3.
As
Damas estão igualmente centralizadas, controlando ou pretendendo
controlar boas casas ( e4, d4, d6, a branca; d6, e5 e c2, a negra ).
A
estrutura de peões branca está virgem, com excepção do peão em
e5 que garante muito espaço. As negras têm um peão atrasado em d7.
As
negras querem fazer roque pequeno, desenvolver o Bispo para b7 e
colocar as Torres nas colunas D e C, ao mesmo tempo que têm que
evitar que o Cavalo branco chegue a d6.
Continuação
proposta:
1.
… Bb7 2. Ce4 Cxb3 3. axb3 Bxe4
Feedback:
O
peão de h6 também é um alvo.
Por
isso as negras não podem continuar de forma «normal» e fazer roque
pequeno: 1. … 0-0 2. Dg3!
Nesta
posição, a protecção do Rei não é uma prioridade – com o
centro fechado, o Rei está tranquilo.
Em
posições fechadas, deve privilegiar-se o desenvolvimento em
qualidade, podendo ser muito útil jogar várias vezes a mesma peça
para melhorar a sua posição.
Por
outro lado, trocar o Bb3 não é uma grande ideia, pois estamos
apenas a eliminar a pior peça branca.
Solução:
1.
… f5! seguido de Bb7 e 0-0-0
Exercício
2
XABCDEFGHY
8-tr-+-trk+(
7+-+l+pzpp'
6pwq-+p+-+&
5+p+pzP-+-%
4n+-sN-zP-+$
3+-+P+N+-#
2PzP-+-wQPzP"
1tR-+R+-mK-!
xabcdefghy
8-tr-+-trk+(
7+-+l+pzpp'
6pwq-+p+-+&
5+p+pzP-+-%
4n+-sN-zP-+$
3+-+P+N+-#
2PzP-+-wQPzP"
1tR-+R+-mK-!
xabcdefghy
Apreciação
da posição:
O
Rei branco, não estando sob ataque, tem a sua guarda fragilizada
pela ausência do peão em f2; o negro está bem protegido.
O
material está equilibrado. Os Cavalos brancos estão mais
centralizados mas o de d4 está na diagonal fraca. O Ca4 controla c4,
b2 e c3 e o Bd7 tem perspectivas em b5. Nenhuma Torre controla a
coluna aberta.
A
Dama negra está melhor colocada que a Branca, uma vez que controla
directamente a casa c5 e suporta o avanço dos peões na sua ala.
A
estrutura de peões das negras é melhor que a das brancas devido aos
peões de d3 e f4.
As
negras estão mais fortes na ala de Dama ( maior concentração de
peças, mais espaço e um alvo em b2 ou uma casa de entrada em c3 ) e
as brancas no centro e na Ala de Rei, mas sem actividade suficiente
para lançar um ataque ao rei negro, pelo que devem lutar pela coluna
C.
Continuação
proposta:
1.
Tac1 Tfc8 2. Dd2 b4 3. Rh1
Feedback:
Qual
é o problema da posição?
As
negras estão mais fortes na ala de Dama, mas o que é que pretendem
fazer?
Querem
jogar 1. … b4, para fixar os peões nas casas negras, uma vez que o
seu Bispo é o das casas brancas e precisa de ser activado.
Não
há que temer estes avanços: “Para ganhar casas é preciso dar
casas”, Bobby Fischer.
Então,
o que as Brancas têm de fazer é evitar b4.
Solução:
1.
b4 a5
2.
a3! ...
Segue-se
o controlo da coluna C.
Exercício
3
XHGFEDCBAY
1-mKR+-+-tR!
2zPPvLQ+-sNP"
3-+-+LzP-+#
4+-zP-sNnzP-$
5-+-zPp+p+%
6+p+p+-+p&
7p+pvl-wql+'
8tr-+k+-snr(
xhgfedcbay
1-mKR+-+-tR!
2zPPvLQ+-sNP"
3-+-+LzP-+#
4+-zP-sNnzP-$
5-+-zPp+p+%
6+p+p+-+p&
7p+pvl-wql+'
8tr-+k+-snr(
xhgfedcbay
Apreciação
da posição:
O
Rei branco está bem "aconchegado" pelos dois peões, o
Bispo e a Torre; o Rei negro ainda está no centro.
O
material está equilibrado, mas as negras estão atrasadas no
desenvolvimento.
Os
Cavalos da fila 4 são as melhores peças menores.
A
estrutura de peões branca tem uma debilidade em c3 mas garante
espaço no centro e na ala de rei.
A
das negras bloqueia o Bb7 e pede que as negras joguem na coluna C.
As
brancas querem jogar nas colunas G e F, ou então na A.
As
negras querem eliminar o Cd4 (que pressiona f5 e e6 com um olho em d6
) e colocar uma Torre em c8 ( em d8 se as brancas trocarem em c4 ) e
o Rei na ala contrária àquela em que as brancas ganharem
actividade.
Continuação
proposta:
1.
… Cc6 2. a4 Cxd4 3. Bxd4 0-0 4. axb5 axb5
Feedback:
O
melhor lance branco é a4.
As
negras devem evitá-lo e jogar na ala de Dama.
Solução:
1.
… Ca3
(evita
a4 e deixa o Cb2 sem casas)
A
ideia é continuar o desenvolvimento com Cb8-d6-b6 e Tc8.
Gestão
do Tempo:
Uma
reflexão de 5/10 minutos é geralmente suficiente. Nem todas as
posições requerem cálculo: só
as jogadas “anormais” precisam de justificação.
Na
fase da abertura não é necessário gastar muito tempo: no início a
posição é pouco concreta e há vários lances normais (para
controlar o centro, desenvolver as peças, proteger o Rei...). Se se
falhar alguma coisa no início da partida, o pior que pode acontecer
é falhar opções.
Mas
não é possível saber que jogada poderá ser “normal” ao 40.º
lance. Quando a posição é concreta é que se tem que calcular:
agora, um erro não custará opções, mas material ou mesmo mate.
Defesa
e Possibilidades ativas:
No
xadrez há dois tipos de defesa: defesa
passiva
(quando nos limitamos a evitar um ataque ou ameaça, como quando
fugimos,
interpomos ou desobstruimos)
e defesa
ativa
(quando além de evitar o ataque ou a ameaça, o nosso lance
condiciona a posição – quando capturamos
o atacante ou
fazemos
uma ameaça igual ou mais forte que a do adversário,
por exemplo).
Bispo
e Cavalo vs Rei (receita):
1
– Colocar o nosso Rei no centro
2
– Colocar o Cavalo também no centro
3
– Levar o Rei adversário para um canto do tabuleiro de cor
diferente da do nosso Bispo
4
– Quando o adversário estiver em a1, a8, h1 ou h8, colocar o nosso
Rei em c3, c6, f3 ou f6, respetivamente
5
– Controlar a casa onde está o rei adversário com o Cavalo
6
– Controlar a casa para onde o rei adversário foi com o Bispo
7
– Continuar a levar o rei adversário para o canto do tabuleiro da
mesma cor da do nosso Bispo. Nesta excursão o Cavalo deve
movimentar-se em W.
8
– As nossas peças conseguem fechar uma “caixa” da qual o rei
adversário não consegue sair
9
– Ao chegar ao canto da cor do nosso Bispo, o nosso Rei fica a um
salto de cavalo do canto
10
– A manobra termina com dois xeques consecutivos, um com o Cavalo e
o outro com o Bispo
Dama
vs Torre (plano):
1
– O plano passa por afastar a Torre do Rei e ganhar a Torre com um
ataque duplo.
2
– Para o conseguir pode ser necessário “passar a vez”, o que
se consegue com a triangulação da Dama
XABCDEFGHY
8 + +Q+ +(
7+ + + trk'
6 + + mK +&
5+ + + + %
4 + + + +$
3+ + + + #
2 + + + +"
1+ + + + !
xabcdefghy
8 + +Q+ +(
7+ + + trk'
6 + + mK +&
5+ + + + %
4 + + + +$
3+ + + + #
2 + + + +"
1+ + + + !
xabcdefghy
Para passar a vez, a
Dama tem que fazer um triângulo: De4 – Da8 – De8.
1.
De4+
Rg8
se
1. … Rh6 2. Dh1++ ; e se 1. … Rh8 2. Dh1+ Rg8 (Th7, 3. Da8++) 3.
Da8+
Rh7 4. De8
triangulação e estamos na mesma posição com as negras a jogar:
ganha-se a Torre com um xeque duplo.
2.
Da8+
Rh7
3.
De8
(triangulação e estamos na mesma posição do diagrama: ganha-se a
Torre com um xeque duplo)
se 3. … Tg4 4. Dh5+
e ganha a Torre
se 3. … Tg3 4. De4+
Rg8 (se Rh~ Dh4+ ganha a Torre) 5. Dc4+ Rh7 (Rf8 Dc8++) 6. Dh5+
se 3. … Tg2 4. De4+
ganha a Torre
se 3. … Tg1 4. De4+
Rg8 (se Rh6, Dh4++; se Rh8, Da8+ Rh7, Da7+ ganha a Torre) 5. Da8+ Rh7
6. Da7+ ganha a Torre
se 3. … Tc7 4. Dh5+
Rg8 5. Td5+ Rh7 (se Rh8, Dd8+ ganha a Torre) 6. Dd3+ Rg8 (se Rh6,
Dh3++) 7. Dd8+ ganha a Torre
se 3. … Tb7 4. De4+
ganha a Torre
se 3. … Ta7 5. Dh5+
Rg8 6. Dd5+ Rh7 (se Rf8, Dd8++) 7. Dh1+ Rg8 8. Dg1+ ganha a Torre
Tiago
B. Pinho / abril-maio 2020
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