quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Brasil: Deputados propõem a criação do programa "Xadrez na Escola"



Segundo o portal Conexão Tocantins, no Estado de Tocantins, O deputado José Geraldo (PTB) apresentou, na manhã desta terça-feira, dia 9, um projeto de lei que propõe a criação do programa “Xadrez na escola: formando mentes que pensam”. O autor da matéria esclarece que o projeto visa promover um jogo que “é utilizado na educação, porque auxilia no desenvolvimento de algumas características do pensamento cognitivo como abstração, memorização, raciocínio lógico, dedução e indução”.

A proposta estabelece que as Diretorias Regionais de Ensino (DREs) da Secretaria de Educação apóiem as escolas da rede estadual com material, cursos de formação para educadores e torneios interescolares. Os professores envolvidos serão remunerados com o pagamento das horas-aula trabalhadas.



Segundo José Geraldo, o “xadrez na escola” é um projeto defendido por educadores, professores, psicólogos. “Nossa intenção é abrir um espaço para a prática desse jogo deixando que a vontade de melhorar o desempenho do raciocínio possa contagiar professores e alunos”, argumenta o deputado.



Também no Estado de S. Paulo foi apresentado um projecto de lei semelhante, baseado, de acordo com o site da Prefeitura de Apiaí, numa proposta da professora Janice Corrêa Prestes, idealizadora do “Xadrez na Escola: Formando Mentes que Pensam”, projeto inspirado em uma ação que a EE “Profª. Antonia Baptista Calazans Luz” desenvolve desde 2003 “Batalha do Conhecimento – Prazer em Aprender” e posteriormente estendido para as unidades Cemae e Escola Municipal “Honorina de Albuquerque”.

(...)
[Neste caso, o projecto foi da autoria de Carlos Giannazi], professor formado em pedagogia e história, diretor de escola municipal, professor universitário, ativista de movimentos sociais (...)".

(...)



Numa visita à escola CEMAE, o deputado pôde conhecer o trabalho dos alunos Mestres Multiplicadores Voluntários do jogo de xadrez, projeto que poderá ter sua regulamentação a nível de governo como disciplina em todas as escolas públicas do Estado – o Projeto de Lei nº. 627 de 2008, de autoria de Giannazi tramita pela Assembléia Legislativa.

Este Projeto de Lei foi, entretanto, alvo de parecer favorável no passado dia 19, e pode ser consultado na caixa de comentários.


Ainda está nas formalidades constantes da página 1, de 4, deste fluxograma do "processo legislativo do projeto de lei ordinária", mas se a política de lá for como a de cá, será chumbado: o proponente é do Partido Socialismo e Liberdade cuja bancada é constituída por 2 elementos... sendo que a Assembleia é composta por 94.

Em todo o caso, honra lhe seja feita, que está a tentar levar a bom porto uma medida que gostaria de ver por cá.
E, por isso, aqui fica:


De acordo com a Wikipedia, o Partido Socialismo e Liberdade surgiu em 2004, resultante de dissidências do Partido dos Trabalhadores e do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado, "e acolheu diversas tendências que haviam discordado de políticas do PT que tinham por conservadoras (muito especialmente a partir da Reforma da Previdência dos servidores públicos realizada no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva).

Ganhou projecção em 2005, após o "escandâlo do mensalão" e "abriga diversas correntes de esquerda, algumas delas trotskistas e eurocomunistas", tendo, aparentemente, uma organização à Bloco de Esquerda, já que "O PSOL constitui-se como uma partido de tendências, abrigando diversas correntes internas como, por exemplo, a Ação Popular Socialista (considerada por alguns políticos e criticos internacionais como de extrema-esquerda), o Enlace Socialista, as dissidências do PSTU Corrente Socialista dos Trabalhadores, o Movimento Esquerda Socialista, o coletivo Revolutas, o Poder Popular, o Coletivo Socialismo e Liberdade e a corrente Socialismo Revolucionário".


E do site pessoal do deputado estadual professor Carlos Giannazi, onde impera o slogan "Um professor em defesa da educação":
Professor formado em Pedagogia e História, com mestrado em História e Filosofia da Educação pela Universidade de São Paulo (USP), e eleito para exercer o seu primeiro mandato parlamentar em 2000 — como vereador da cidade de São Paulo (reeleito em 2004) —, Carlos Giannazi foi eleito deputado estadual em 2006 pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e entrou na Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo lastreado por um longo histórico de lutas em prol da melhoria da Educação. Essas reivindicações estão baseadas firmemente na sua experiência e atuação como diretor de escola municipal, professor universitário, ativista de movimentos sociais e, principalmente, defensor da abertura de novas vagas nas escolas públicas, da gratuidade e da qualidade de ensino para todos.

Logo em seu primeiro ano de atividade parlamentar (ainda pelo PT), Giannazi presidiu uma das mais polêmicas Comissões Parlamentares de Inquérito da Câmara Municipal: a CPI da Educação, tendo sido esta a primeira (e única) a pedir a suspensão dos direitos políticos dos ex-prefeitos Paulo Maluf e Celso Pitta (e de seis ex-secretários de suas administrações) por não terem investido a verba da Educação prevista em lei.

(parece estar relacionado com o incumprimento do Orçamento Participativo que se começa a falar agora por cá - no site tem um vídeo sobre esta Comissão).

A Comissão Parlamentar de Inquérito denunciou ainda, à época, um desvio de R$ 1,6 bilhão referente ao não cumprimento do orçamento da pasta da Educação nestas duas gestões e averiguou, também, sérios indícios de superfaturamento nas reformas e construção de escolas da rede municipal de ensino. Foi também a primeira CPI a investigar e denunciar as ‘escolas de latinha’, que apresentavam condições inapropriadas para o desenvolvimento do processo de ensino e de aprendizagem.
Carlos Giannazi sempre esteve ao lado da comunidade escolar, combatendo duramente o descaso das administrações com as áreas social e educacional, principalmente nas gestões Maluf e Pitta. Foi nessa época que ele organizou o movimento que processou, por improbidade administrativa, o ex-secretário municipal da Educação Sólon Borges dos Reis pela compra superfaturada (e sem licitação) de fitas cassetes com os hinos pátrios.
O então vereador também encaminhou vários projetos de lei, como o que limita o número de alunos por sala de aula (aprovado na Câmara mas vetado pelo executivo), o que institui transporte gratuito para alunos matriculados em escolas distantes de suas casas e o que implementa o conceito de "Escola Cidadã" (...) que permite, por meio de financiamento público, a abertura e o funcionamento das escolas municipais de ensino para que funcionem como órgãos fomentadores de atividades esportivas, de lazer e culturais nos finais de semana.


Uma última referência à sala de aula Chico Buarque de Hollanda, montada num edifício devoluto, que pode ser que venha a ter xadrez brevemente, seja o Projecto aprovado:



"Na sua carreira de diretor de escola municipal, ele desmoralizou e mostrou as contradições políticas e demagógicas da política educacional do governo Fernando Henrique Cardoso (1995/2002), que em seus dois mandatos como presidente da República pouco investiu em educação pública. Na assertiva de demonstrar a burocracia e a distância entre o discurso e a prática, Giannazi, como diretor de escola, matriculou mais de 600 crianças na escola em que atuava atendendo ao ‘apelo’ público de FHC ao lançar a campanha nacional “Toda criança na Escola”. Como não havia mais vaga disponível em sua escola, ele exigiu, da União, a anexação a EMEF Miguel Vieira Ferreira de um imóvel do INSS, que encontrava-se desativado, localizado ao lado da unidade escolar. Depois de muita mobilização popular o governo federal viu-se forçado a entregar o prédio à comunidade e a iniciativa do professor fez com que centenas de crianças da região de Cidade Dutra, bairro onde se encontra a escola até hoje, tivessem o direito a uma vaga para estudar."

Entretanto, voltando ao site da Prefeitura de Apiaí, aquela visita de que se fala no início do post terminou com uma conferência na Escola Municipal “Honorina de Albuquerque”, Bairro Alto da Tenda, (...) numa mesa composta pelo diretor da Rádio da Cidade, Valter Luiz Araújo, delegado de polícia Valmir Oliveira Barbosa, presidente do Psol local Fábio Fagundes, ex-prefeito Dr. Luiz Alencar, vereador eleito Geraldo Cássio Borges, deputado Carlos Giannazi, prefeito eleito Dr. Emilson Couras da Silva e vice-prefeito eleito Dr, Raul Alencar, a diretora da EE “Profª. Antonia Baptista Calazans Luz”, professora Sueli Martins, deu boas vindas aos presentes.
Diante de um grande público formado por alunos, servidores da educação e convidados, (...) Todos os integrantes da mesa fizeram pronunciamentos em defesa da Educação e parabenizaram a professora Janice pela idealização do Projeto Xadrez que poderá levar o nome de Apiaí à grande destaque estadual, nacional e até internacionalmente
.

Este blogue não é grande veículo nem a proposta é tão boa como a sua aprovação, mas, para já, Apiaí e o Projecto "Xadrez na Escola: Formando Mentes que Pensam", já marcam presença deste lado do oceano.

Xadrez em todas as escolas...
Que deputado terá perfil para ser o José Geraldo ou o Carlos Giannazi português?


3 comentários:

Tiago F. Pinho disse...

PROJETO DE LEI Nº 627, DE 2008

Autoriza a Secretaria Estadual de Educação a criar e implementar o programa "XADREZ NA ESCOLA: formando mentes que pensam".

A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO DECRETA:

Artigo 1º - Autoriza a Secretaria Estadual de Educação a criar e implementar o programa “XADREZ NA ESCOLA: formando mentes que pensam” a ser desenvolvido nas unidades escolares da rede de ensino oficial.

Artigo 2 º - O programa constará de:
I - inscrição livre das escolas e educadores interessados;
II - apoio formal e material das diretorias regionais de ensino;
III - cursos de formação de multiplicadores;
IV - encontros regionais dos participantes e;
V - torneios interescolares.

Parágrafo único: os professores envolvidos no programa deverão ser remunerados com o pagamento das horas-aula trabalhadas, conforme descrito no projeto da unidade escolar.

Artigo 3º - A Secretaria Estadual de Educação regulamentará o programa no que couber.

Artigo 4º - As despesas correrão por conta de dotações próprias previstas no orçamento da Secretaria Estadual de Educação.

Artigo 5º - Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.


JUSTIFICATIVA

O jogo de xadrez desde há muito é considerado uma prática extremamente salutar para os praticantes. Mistura de esporte, jogo, peça intelectual, o xadrez é muito bem avaliado por aqueles que entendem dos meandros do funcionamento do nosso pensamento.

Além de envolverem os praticantes, o jogo desenvolve o poder de concentração, raciocínio por hipóteses e antecipação, planejamento de etapas, cálculo, etc.

Ou seja: uma vitamina concentrada para as principais e mais nobres funções do pensamento. Tudo isso e mais: envolve e agrega as pessoas, tirando-as da rua, da ociosidade e da letargia intelectual.

Aqui e ali, sempre por conta e iniciativas próprias, educadores brasileiros desenvolvem projetos com o xadrez na escola, estimulando e introduzindo seus alunos nessa prática saudável. Os relatos se sucedem, sempre com resultados no mínimo animadores e alvissareiros. Ficam, no entanto, sustentados apenas pela força de vontade de uns poucos que conhecem e acreditam no trabalho e não conseguem muito mais do que suas fronteiras, uma vez que não dispõem do apoio institucional do aparato estatal.

É o caso, por exemplo, da Professora Janice Correa Prestes, da EE Antonia B. C. Luz, de Apiaí, que criou o projeto Batalha do Conhecimento – Prazer em Aprender, e vem ampliando aos poucos, com auxílio de multiplicadores voluntários. E relata, com prazer e acerto, os resultados locais que vem conseguindo.

É também o caso do professor Claudionor Alves, da Rede Municipal de Ensino de São Paulo, que há anos trabalha com o xadrez em sua prática e vem lutando para que isto seja oficializado e estendido a todas as unidades escolares interessadas.

Nossa intenção ao apresentar esta proposta, neste projeto de lei, é abrir um espaço institucional qualificado para a prática desse jogo nas escolas estaduais, sem adicionar despesas e sem ampliar a carga horária de alunos e professores, deixando que a vontade de progredir, de crescer, de melhorar o desempenho do raciocínio possa contagiar cada vez mais professores e alunos.

Segue, portanto, para a análise dos nobres colegas desta Casa de Leis este projeto esperando receber dos pares a sensível avaliação positiva.


Sala das Sessões, em 16-9-2008
a) Carlos Giannazi - PSOL

Anónimo disse...

Como ex-aluno da professora Janice Prestes, gostaria de comentar o projeto:

como serviço voluntário, quando os "Multiplicadores" vão a escolas da rede municipal dar aulas de xadrez para crianças de 1ª a 4ª série, trata-se de algo formidável.

Mas, desenvolvido em sala de aula, serve apenas para ampliar a já gigantesca defasagem dos alunos, uma vez que, na referida escola, até pouco tempo atrás, 25% das aulas de matemática semanais eram dedicadas ao xadrez em turmas do último ano do ensino médio, em vias de ingressar nas universidades!

Tiago F. Pinho disse...

Olá, Bruna!

Obrigado pelo comentário.

As aulas de xadrez eram adicionadas ao currículo ou substituiam um quarto das aulas de matemática?

E, já agora, quais os resultados académicos dos alunos dessa turma?