quarta-feira, 17 de junho de 2009

Distrital Individual do Porto começa com a imposição da lei do mais forte. (com fotos)

Nuno Andrade é a excepção que confirma a regra ao empatar com José Veríssimo Araújo.

in SCN



A jornada inaugural do campeonato distrital individual do Porto, apesar de algumas dificuldades sentidas pelos jogadores melhores classificados no ranking, não proporcionou grandes surpresas.

Ainda assim, no primeiro tabuleiro, Jorge Viterbo, campeão em título, precisou de trabalhar duramente para furar a resistência de Alexander Cardoso (1633), da Academia de Xadrez de Espinho, que, além de ter jogado de negras, tinha menos cerca 550 pontos elo que o seu adversário. A abertura, atípica, acabou por se aproximar de uma Defesa Holandesa, variante Leningrado, em que as negras jogaram e6, ousadia que o campeão não conseguiu castigar de imediato. A partida acabou por ser decidida através de um final teórico de Torre e Peão contra Torre, ao fim de cerca de quatro horas de jogo e 63 lances, tendo sido a última a terminar.

Na mesa 2, Luís Machado venceu Mário Fernandes em 26 jogadas, enquanto que o outro candidato ao título, Daniel Quintã, só precisou de 19 para derrotar Hugo Saraiva no 3.º tabuleiro, sendo que nas duas partidas a diferença de elo entre os jogadores também era de cerca de 500 pontos.

Inesperado foi o resultado da quarta mesa, onde se registou um empate, em apenas 16 lances, entre Nuno Andrade (1487) e José Veríssimo Araújo (1955) - na foto. Este, de negras, optou pelo Gambito Budapeste e o efeito surpresa permitiu-lhe igualar rapidamente, fruto das imprecisões do seu adversário. Todavia, as peças negras acabaram por ficar descoordenadas na transição para o meio-jogo e um erro no 14.º lance permitiu às brancas ganhar um peão duas jogadas depois. E face a uma vantagem material frente a um adversário mais cotado, Nuno Andrade não quis arriscar continuar a partida e preferiu acender o cachimbo da paz, acordando o empate.

Nos restantes tabuleiros, com maior ou menor dificuldade, os favoritos acabaram por vencer. No entanto, como o scn já havia assinalado alguns jogadores com elo sub-avaliado fizeram valer a sua força de jogo real.

Foi o que aconteceu na vitória de Benito Barbero (sem elo) sobre Pedro Guimarães (1650) e no 6.º tabuleiro, na partida entre Fernando Nunes e Emanuel Sousa que terminou empatada apesar de só este se encontrar graduado no ranking da Federação Internacional de Xadrez. Curiosamente, Emanuel Sousa (1922 FIDE) também optou pelo pouco habitual Gambito Budapeste, o que poderá indiciar a existência de trabalho específico na academia do Moto Clube do Porto / ALPI Portugal, clube a que pertencem quer o Emanuel quer o Veríssimo. Tratar-se-á de reportório construído no laboratório do Mestre Nacional José Padeiro, primeiro tabuleiro e treinador desta equipa?

Tal como na partida do seu colega de equipa, um erro prematuro deu, nesta, vantagem de um peão às brancas logo no lance n.º 9, com a agravante de se tratar do peão de g7, ter sido tomado por um Cavalo e de o xeque ter colocado o Rei negro na casa f8, retirando-lhe, portanto, a possibilidade de fazer roque. Face a esta desvantagem, o Emanuel Sousa optou por uma continuação especulativa através do avanço do peão de H, e a receita veio a revelar-se proveitosa uma vez que um erro das brancas permitiu às negras colocar um Cavalo num ponto de apoio em d3, onde deu xeque, também retirou às brancas a possibilidade de rocar e permitiu a recuperação do peão, o que devolveu as negras ao jogo, ainda que em posição ligeiramente inferior.

Estava-se no lance 15. Na jogada 23.ª, as brancas poderiam voltar a ganhar um peão se tivessem jogado o Bispo para e1, mas optaram, antes, por colocar a Dama em a3, para, três lances e algumas trocas depois, regressar à casa de partida em c3. Só na 28.ª jogada é que as brancas jogaram Be1, ganhando depois o peão de h4, altura em que, face à clara vantagem material e posicional (o peão de H estava isolado, apesar de se encontrar ainda na linha 3 mas apoiado pelo da coluna G), Fernando Nunes (2040 FPX) opta por acordar o empate num momento decisivo, pois se a sua jogada seguinte fosse 30. g4 poderia ganhar uma Torre, embora com alguma compensação para as negras.

A segunda jornada joga-se hoje, a partir das 20h30, no Museu do Vinho do Porto, sendo de destacar as partidas Miguel Ferreira (1846) - Jorge Viterbo (2186), Luís Machado (2078) - Paulo Morais (1863) e José Margarido (1726) - Daniel Quintã (2063), nas quais os favoritos poderão sentir dificuldades. A entrada é gratuita.

Veja na galeria de fotos a reportagem fotográfica de Juliana Chiu durante a primeira jornada.

2 comentários:

Unknown disse...

Gostei! Destaque dos pontos interessantes, dá uma ideia clara do que se passeou. Assim desperta ler sobre xadrez.
Parabén e continua

Tiago F. Pinho disse...

Ainda andamos à procura do melhor modelo...

Acho que estas descrições terão mais interesse quando se conseguir publicar as partidas também.

Entretanto, consegui "contratar" o grande Jorgievsky para também participar no SCN. Além de escrever, vai também anotar partidas. Mas como é preciso começar devagar, vamos começar por destacar posições ocorridas no torneio...

E, claro, aceitam-se mais mãos e cabeças :P Ainda somos poucos e os senhores do SCN estão a gostar do xadrez (temos das notícias mais lidas nas modalidades =D), tanto que estão a pensar criar uma secção autónoma dentro do site...