Claro que o exercício também pode ser dificultado fornecendo-se, simplesmente, combinações mais complexas. É nesse grupo que vejo este clássico, cuja solução os computadores ainda mostram relativa — embora cada vez menor — dificuldade em encontrar.
Alekhine — Sterk
Budapeste, 1921
1. d4 d5 2. Cf3 e6 3. c4 Cf6 4. Cc3 Cbd7 5. e3 Bd6 6. Cb5 Be7 7. Dc2 c6 8. Cc3 O-O 9. Bd3 dxc4 10. Bxc4 c5 11. dxc5 Bxc5 12. O-O b6 13. e4 Bb7 14. Bg5 Dc8 15. De2 Bb4 16. Bd3 Bxc3 17. Tfc1 Cxe4 18. Bxe4 Bxe4 19. Dxe4 Cc5 20. De2 Ba5 21. Tab1 Da6 22. Tc4 Ca4...
E agora,
1. Qual é a jogada mais contundente ao dispor das brancas?
2. É a única que ganha?
3. O ataque branco não caiu do céu... aliás, as negras puseram-se bem «a jeito». Quando e porquê?
4 comentários:
1)
As brancas jogaram 23. Bf6!!
Tema: inicialmente (1), ameaças a descoberto com Tg4: ganho da Dama / mates de Torre e Bispo «lá no canto» - aqueles de «coluna e diagonal». Depois (2), trasladar a Dama branca à ala de Rei (já existe uma Torre que para lá se pode dirigir de imediato), criando ameaças irresistíveis.
De notar como as peças negras estão afastadas da zona onde se centra a acção!
[Se 23. ...; gxf6 então Tg4+ ganha a Dama. Se 23. ...; Cc5, então 24. Ce5, seguido de Dg4 ou Dh5. Não há hipótese de as negras se safarem disto.]
O jogo seguiu assim:
23. ...; Tfc8 [Talvez o menos mau! Liberta a casa f8. Pelo menos, assim Tg4 deixa de contar como ameaça, dado que após 24. Dxe2 as brancas já não dispõem de Txg7+ e mate a seguir.]
24. De5! [Reforçando a ameaça. A execução imediata de (1). Agora, se 24. ...; gxf6, Tg4 conduz imediatamente ao mate.]
24. ...; Tc5 [Que mais? É imprescindível ganhar um tempo, impedir já Dg5. Ora bem: 24. ...; Txc4 25. Dg5; Tg4!? (Ou leva mate, via Dh6) 26. Txg4; g6 e a Dama vai ganhar o Ca4. Obviamente, 24. ...; Dxc4, não resolve o problema de Dg5.]
25. Dg3
[A execução de (2)! ]
25. ...; g6, forçado. As negras ganham o dito tempo (a dama branca já não vai dar mate via h6. Se 26. Dh3 ou 4, as negras têm a resposta h5...), mas têm de entregar por ele um Cavalo. E para as brancas, um cavalo é o suficiente.
26. Txa4, e agora basta às brancas reagrupar calmamente para a investida final...
26. ...; Dd3
27. Tf1; Tac8
28. Td4; Df5
29. Df4 ... que até se pode resumir a um conjunto de simples manobras de simplificação. Não tendo o adversário contrajogo eficaz, normalmente, uma peça de vantagem chega e sobre para ganhar o final.
29. ...; Dc2? Sob pressão, as negras quebram.
30. Dh6 (mate em 4, as negras abandonam).
2)
É. Pelo menos de forma convincente.
3)
Com 17. ...; Cxe4 as negras, que estavam melhor, julgaram poder ganhar um peão sem comprometer a segurança do seu Rei. Mas dão demasiado em troca: a iniciativa, o ataque à Ala de Rei das brancas, o belíssimo Bb7 (e o par de Bispos) e, mais importante ainda, vão-se colocar numa posição tal que as suas peças de verão, cada vez mais, presas à ala de Dama, que não é propriamente onde «isto» se vai decidir».
Para piorar as coisas, 22. ...; Ca4 é terrível. Nota-se que Sterk não viu a refutação táctica de Alekhine, mas o lance da partida não revela grande compreensão das necessidades da posição [olhem, e rimei sem querer. Conservatória. Odeio.]
O J... já enviou a solução.
Mas não a publico nem olho para ela até arranjar um bocadinho para resolver o assunto (ou até alguém se abalançar na análise).
1)
1. Bh6
(se 1. ... gxh6 2. Tg4+ ganha a Dama)
(se 1. ... Tfc8 2. De5
a) f6 3. Dxe6+ seguido de 4. Txa4
b) Rf8 3. Dxg7+ Re7 4. Bg5+ Rd7 5. Td1+ 6. Re8 Dg8)
2)
1. Dc2 b5 (Cc5 2. b4) 2. Tc6 Db7 3. b3 Cc3 4. Txc3 Bxc3 5. Dxc3 Tac8 não parece ser grande coisa.
Talvez
1. Dc2 b5 2. Th4 com ataque na ala de Rei
3)
O ponto de não retorno parece ser 17. Cxe4, momento em que as negras abdicam de ter defensores na ala de Rei, onde rocaram e, portanto, local do tabuleiro onde deveriam ter preocupações defensivas.
Corrigido pelo Crafty:
1. Bh6
a) Cc5 2. b4 gxh6 3. bxc5
b) Db5 2. Cd4 Dd7 3. Bxg7 Rxg7 4. De5+ f6 5. Dg3+ Rh8 6. Tc7
2.
Cd4 (ameaça ganhar o cavalo) Cc5, b4 Ce4, Bf4 Tfd8 (ameaça ganhar o cavalo), Cxe6 fxe6, Dxe4 b5, Tc5 Bb6, Th5
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