por J... em O Puto (Bebe)
Dando o salto para o "próximo nível", aqui fica um desafio proposto pelo J..., cujo nível de dificuldade é sem dúvida mais elevado do que aquele a que estamos aqui habituados.
E como também não sei a solução, andaremos todos ao mesmo! :P Espero conseguir "comentar" as minhas primeiras sugestões esta noite. E nesta caixa de comentário, o J... é o treinador convidado. Como os comentários estão bloqueados no blogue dele, os outros exercícios lá publicados irão sendo rapinados para aqui:
Depois da breve discussão que tomou lugar aqui, ficou no ar o convite para sugestões de exercícios — ou melhor, tipos de exercício — que, de alguma forma, nos tentassem aproximar um pouco mais daquilo por que realmente passamos quando estamos diante do tabuleiro, temos um gajo (ou menina) a olhar fixamente para nós (ou a passear pelas imediações, muitas vezes em largos círculos), o «tic tac» de muitos relógios como música de fundo, a presença do nosso próprio relógio e, mais importante ainda, apenas uma tentativa para resolver vários problemas que, na altura, nunca parecem fáceis.
Dito assim, parece complicado. E é. Para mais, dado que é a primeira vez que faço isto, vamos lá ver se não sai asneira...
Pensando nas duras vicissitudes — e só nomeei algumas — a que um tipo está sujeito durante um jogo «a sério», torna-se clara uma coisa: há que complicar os exercícios se queremos aproximá-los da prática real! Porém, «complicar um exercício» não significa necessariamente colocar sob a forma de exercício um maior número de lances até um mate forçado... ou coisa que o valha. Pode complicar-se (e muito!) um exercício, por exemplo, propondo situações — que até são as mais comuns — em que nada, ou quase, é realmente forçado... Enfim, adicionar aos exercícios puramente tácticos um chapisco, por assim dizer, de planeamento. Afinal, como um grande jogador disse há muitos anos, «Alekhine's combinations are not that hard to find; if I had the positions he gets, I would find the combinations as easily as he does. The real trick to his games is: "How does he get the positions he manages to wind up with?"». Normalmente, obter posições capazes de exercitar «também isto» implicará, apenas, recuar umas poucas jogadas em relação à posição de partida da maioria dos exercícios puramente tácticos — que, regra geral, são retirados da fase «de execução» das partidas que lhes servem de fonte.
Então, em jeito de exemplo e para começar, um nico da minha produção pessoal:
Alho — Prata
Coimbra, 2000
Depois de
1. d4 Cf6 2. c4 g6 3. Cc3 d5 4. Cf3 Bg7 5. e3 O-O 6. cxd5 Cxd5 7. Bc4 Cxc3 8.
bxc3 Cc6 9. O-O Bf5 10. a4 Dd6 11. Ba3 Dd7 12. Cd2 Be6 13. Be2 f5 14. c4 Bf7
15. Tb1 b6 16. Cf3 Tfe8 17. Cg5 e5 18. d5 Ca5 19. e4 c5 20. exf5 gxf5 21. Cxf7
Dxf7 22. Bh5 Dd7 23. Bxe8 Txe8 24. Dc2 e4 25. Bb2 Bd4 26. Tfd1 Dg7 27. Bxd4
cxd4 28. c5 Tc8 29. c6 De5 30. Dd2 d3 31. Dg5+ Rh8 32. Tb5 Tg8,
as brancas tinham o jogo praticamente ganho.
Nesta altura, após uns minutos de reflexão, jogaram
33. Dh5
Enfim, um erro.
Vindo de um jogador da craveira do Diogo, ainda por cima com tempo no relógio, não podia, contudo, ser um erro «injustificado». Assim sendo, logo se levantam duas questões:
1. Que pretendia o condutor das brancas com esta jogada?
2. Qual é o plano correcto para ganhar isto?
De volta à partida, seguiu-se
33. ... e3
34. fxe3
3. Esta jogada é forçada? Porquê?
4. E agora, o que é que as pretas fazem?
5. E o que é que conseguem?
Dando o salto para o "próximo nível", aqui fica um desafio proposto pelo J..., cujo nível de dificuldade é sem dúvida mais elevado do que aquele a que estamos aqui habituados.
E como também não sei a solução, andaremos todos ao mesmo! :P Espero conseguir "comentar" as minhas primeiras sugestões esta noite. E nesta caixa de comentário, o J... é o treinador convidado. Como os comentários estão bloqueados no blogue dele, os outros exercícios lá publicados irão sendo rapinados para aqui:
Depois da breve discussão que tomou lugar aqui, ficou no ar o convite para sugestões de exercícios — ou melhor, tipos de exercício — que, de alguma forma, nos tentassem aproximar um pouco mais daquilo por que realmente passamos quando estamos diante do tabuleiro, temos um gajo (ou menina) a olhar fixamente para nós (ou a passear pelas imediações, muitas vezes em largos círculos), o «tic tac» de muitos relógios como música de fundo, a presença do nosso próprio relógio e, mais importante ainda, apenas uma tentativa para resolver vários problemas que, na altura, nunca parecem fáceis.
Dito assim, parece complicado. E é. Para mais, dado que é a primeira vez que faço isto, vamos lá ver se não sai asneira...
Pensando nas duras vicissitudes — e só nomeei algumas — a que um tipo está sujeito durante um jogo «a sério», torna-se clara uma coisa: há que complicar os exercícios se queremos aproximá-los da prática real! Porém, «complicar um exercício» não significa necessariamente colocar sob a forma de exercício um maior número de lances até um mate forçado... ou coisa que o valha. Pode complicar-se (e muito!) um exercício, por exemplo, propondo situações — que até são as mais comuns — em que nada, ou quase, é realmente forçado... Enfim, adicionar aos exercícios puramente tácticos um chapisco, por assim dizer, de planeamento. Afinal, como um grande jogador disse há muitos anos, «Alekhine's combinations are not that hard to find; if I had the positions he gets, I would find the combinations as easily as he does. The real trick to his games is: "How does he get the positions he manages to wind up with?"». Normalmente, obter posições capazes de exercitar «também isto» implicará, apenas, recuar umas poucas jogadas em relação à posição de partida da maioria dos exercícios puramente tácticos — que, regra geral, são retirados da fase «de execução» das partidas que lhes servem de fonte.
Então, em jeito de exemplo e para começar, um nico da minha produção pessoal:
Alho — Prata
Coimbra, 2000
Depois de
1. d4 Cf6 2. c4 g6 3. Cc3 d5 4. Cf3 Bg7 5. e3 O-O 6. cxd5 Cxd5 7. Bc4 Cxc3 8.
bxc3 Cc6 9. O-O Bf5 10. a4 Dd6 11. Ba3 Dd7 12. Cd2 Be6 13. Be2 f5 14. c4 Bf7
15. Tb1 b6 16. Cf3 Tfe8 17. Cg5 e5 18. d5 Ca5 19. e4 c5 20. exf5 gxf5 21. Cxf7
Dxf7 22. Bh5 Dd7 23. Bxe8 Txe8 24. Dc2 e4 25. Bb2 Bd4 26. Tfd1 Dg7 27. Bxd4
cxd4 28. c5 Tc8 29. c6 De5 30. Dd2 d3 31. Dg5+ Rh8 32. Tb5 Tg8,
as brancas tinham o jogo praticamente ganho.
Nesta altura, após uns minutos de reflexão, jogaram
33. Dh5
Enfim, um erro.
Vindo de um jogador da craveira do Diogo, ainda por cima com tempo no relógio, não podia, contudo, ser um erro «injustificado». Assim sendo, logo se levantam duas questões:
1. Que pretendia o condutor das brancas com esta jogada?
2. Qual é o plano correcto para ganhar isto?
De volta à partida, seguiu-se
33. ... e3
34. fxe3
3. Esta jogada é forçada? Porquê?
4. E agora, o que é que as pretas fazem?
5. E o que é que conseguem?
6 comentários:
No ponto 1) se calhar a melhor continuacao das brancas seria algo do genero Dc1 ou Dh6 em vez de Dh5. Dc1 suporta o peai passado c6 embora seja dificil ir com ele ate ao fim.
Agora a jogada fxe3 é forçada! Ate a jogada da Dama as brancas teem uma boa vantagem mas depois estragam tudo. As pretas fazem e3 e a melhor jogada é mesmo fxe3. qualquer outa continuacao leva a que as pretas promovam um dos peoes.
Depois a continuacao das pretas pudera ser:
1.Cc4 Tb5-b1
2.Cxe3 Td2
3.Dc3
1.e4 Dxe4
2.g3 Dd4+
E mais algumas continuações, sendo a 1ª a mais óbvia e a que também faz com o que o jogo fique mais equilibrado para ambos lados.
1.
As brancas tinham que jogar a Dama e optaram por a manter na ala de Rei quando podiam recuar.
Como as casas e2 e f3 estão inacessíveis, a ideia talvez passe por entrar na posição negra.
Dd7, com vista a c7 (que ameaça Dxg8+ seguido de c8=D+) seria um plano.
O problema é que a 1. Dd7 as negras podem responder com Tg7 e o xeque em f8 é inócuo (Df8+ Tg8), obrigando a Dama a recuar.
2.
As brancas têm que tratar (eliminar ou bloquear) do centro negro para ganhar.
O único lance que parece fazer sentido é Dg5-c1 (controla as casas e3 e d2 evitando Cc4 com ganho de tempo, e ameaça c7-c8)
Depois talvez Te1, Dd2, f3 (ou g3, para evitar f4)...
3.
Depois de e3, tomar é forçado pois as brancas têm que evitar e2. Por exemplo:
a) Txd3
perde directo:
1. Txd3 d2
2. Te3 d1=D+
3. TxD DxT#
b) Df3
1. Df3 d2
2. Te1 e2
3. Dxe2 dxe1=D+
4. DxD DxT#
Também não serve
c) Te1
1. Te1 d2
2. Txe3 Da1 seguido de mate.
nem, claro,
d) Tb2
1. Tb2 Dxb2
4.
As negras podem continuar com
1. fxe3 Dxe3+
2. Rf1 Tg4 (ameaça Tf4#)
se
2. Rh1... está tudo estragado!
talvez seja melhor trazer o Cavalo que está perdido na ala de dama:
1. Cc4, com ideia de Cxe3 e Txg2.
Entretanto, as negras devem devolver material para atenuar o ataque.
Já é tarde, fica para amanhã, se entretanto ninguém der umas achegas...
tiago
parece que há uma tendência :)
eu e o hugo estamos na mesma onda.
Viva! «Treinador convidado», eu, hein? Estava bem tramado...
Ora bem (das 4 que propus, esta deve ser a sugestão mais fácil):
1. Bem, Dh5 era capaz de servir, caso não largasse a guarda de e3. sinceramente, acho que o D. não considerou perigoso o avanço do peão «e», sobretudo porque a variante é comprida e o contra-ataque negro, a princípio, não parece ameaçador. Lá bem no fundo, se realmente houver sorte no xadrez, não deve andar muito longe disto.
2. O plano correcto passa, como disse o dono aqui do blogue, por aniquilar o centro branco...
Note-se que:
- as brancas possuem vantagem material;
- um dos princípios mais básicos (fundamentais) do xadrez diz «não perder tempo»... e o ataque branco na ala de Dama é mais rápido que o negro no centro.
Assim, o plano «ideal» é algo como:
a. manobra de diversão: as brancas vão ameaçar avançar os seus peões (perigosos) da ala de Dama. Deles, só o c é imediatamente perigoso, mas se a posição se simplificar e o d não tiver desaparecido, também ele pode vir a ser chato.
b. obrigando-me a responder (defender)... não tendo jogo para segurar o centro e impedir os avanços brancos na AD, teria de optar por esta última alternativa...
c. ficando as brancas livres para me reduzirem o centro, tirando-me todo e qualquer eventual contra-ataque e retendo a iniciativa e a vantagem material (= sujeitando-me a uma «morte lenta»)... lenta, nem por isso, mas enfim.
O que faz com que Dc1 seja, provavelmente, melhor continuação. P. Ex...
33. Dc1, Tg7 (33. ..., Tc8 34. d6, Dxd6 35. Da1+, Rg8 36. Txf5 lá está...) 34. Db2, Dd6 (34. ..., Dxb2 35. Txb2, seguido de Tc1 e a5 - e as brancas concretizaram o seu plano) 35. Tc1 ... :(
3. É forçada, sim. (a explicação do K., ~ cristalina!)
4. ... amanhã. São 3h39 :P
Para concluir:
4.
Dxe3 ... perde porque o Rei branco tem h1.
Se 35. Rh1:
35. ..., d2!? (que mais? 35. ..., o Cc4 já não chega a tempo! 36. Dxf5, d2 37. Df6+) 36. Dxf5, De1+ 37. Df1, Te8 38. Tbb1 e o contra-ataque negro acabou.
Mas, se 35. Rf1:
35. ..., Tg4 e agora?! (Boa, K).
Assim, após o 34. fxe3 forçado, as negras têm de jogar 34. ... Cc4 (será uma jogada «!»?) e então
35. Tbb1, Cxe3
[Se 35. Df3, Cxe3 36. d6, Dd4 e as brancas teriam de descobrir algo como 37. Tb4! (já viram a quantidade de temas «de desvio/diversão» neste jogo?!, Dc5 38. Tb5, Dc2 39. d7, Txg2+ 40. Rh1, Txh2+ e xeque perpétuo...]
36. Td2 (forçado, para proteger g2), Dc3
e as negras ganham a iniciativa. Agora terão de ser as brancas a entregar algo para a voltarem a reconquistar, conseguindo assim um xeque perpétuo, e podem fazê-lo enviando logo a Dama a h6 ou f7 (entregando a Td2) ou com
37. Tf2, d2
38. Td1, Dc5
39. g3, Td8
40. Dh6 =
e a «big picture» repete-se.
5... A questão escusada... apenas empatam, mas têm de ser as brancas a correr atrás do empate, depois de terem dominado a partida. Engraçado como às vezes basta um erro, e não dos mais evidentes, para comprometer tudo.
Hm.. foi seca, não foi?
Isto é que é material a sério!
Os desafios (roubados descaradamente a um calendário antigo que tem um daqueles por dia :P) talvez estejam mais ao nível da turma, mas eu acho que aprendo mais com estes exercícios.
Vou copiar o próximo para o blog e amanhã vou resolvê-lo montando o meu tabuleiro bonzinho :)
ps: Cc4 é para ! ou mais!
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