quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

RPX: MI Paulo Dias apresenta demissão.



Por motivos pessoais e outros relacionados com a própria revista, o Mestre Internacional Paulo Dias comunica, no blogue da RPX, a sua demissão da função de editor da Revista Portuguesa de Xadrez.

Apontando a insuficiente implementação da RPX no seio da comunidade xadrezística e a total ausência de publicidade e patrocinadores para o facto de a revista estar a ser fonte de prejuízo financeiro para a Federação, o editor despede-se agradecendo aos assinantes, leitores e colaboradores, bem como ao co-responsável Vasco Diogo - o ideólogo do projecto -, que o acompanharam durante este período.

Finaliza desabafando que o xadrez português atravessa uma crise de motivação e que só uma profunda mudança de mentalidades poderá fazer com que esta situação se altere.



Depois da suspensão do jornal electrónico 16x16, o futuro da RPX apresenta-se sombrio, com Paulo Dias a informar que só tiragens acima dos 1500 exemplares seriam auto-suficientes. Infelizmente, a continuidade da Revista não está assegurada pois é dito que os assinantes serão ressarcidos, na proporção do número de revistas em falta, caso a RPX deixe de ser editada.

É uma pena ver assim abalado aquele que, provavelmente, é o melhor projecto da Federação Portuguesa de Xadrez. Algumas ideias para o necessário brainstorming:

- Dada a reconhecida importância e qualidade da revista, será possível aumentar a taxa de filiação na FPX de maneira a que todos os jogadores federadores pagarem e receberem a Revista? As pessoas deixariam de se filiar? Não fiz as contas, mas um aumento na ordem dos € 15/20 parece ser suficiente, dadas as actuais taxas de filiação e de assinatura para grupos;

- Qual o impacto da redução do número de páginas da revista / diminuição da gramagem das folhas?

- Os apoios à imprensa regional e local têm vindo a diminuir. Ainda assim, haverá algum para a imprensa específica? Valerá a pena os mais jovens chegarem-se à frente e constituir uma associação juvenil (maioria dos elementos até aos 30 anos), unicamente dedicada à edição da revista, e, desta forma, candidatar a Revista aos apoios do Instituto Português da Juventude? Há uns anos, o IPJ tinha verbas orçamentadas para estas associações.

- Uma revista exclusivamente electrónica teria sucesso? Quem quisesse, podia imprimir (e encadernar) um ficheiro .pdf. Por outro lado, estaria online, por exemplo como a Waribashi, em que a Associação Portuguesa de Go participa.

7 comentários:

Anónimo disse...

Realmente há coisas que não entendo: como é que uma revista de xadrez, em Portugal, pode não ser viável? Há qualquer coisa que me escapa.
Há uma revista portuguesa de poker (a cores, com um papel de muito melhor qualidade que a RPX). Ora bem, esta revista é GRÁTIS (nem os portes se pagam!!!). A única coisa que é preciso fazer é ir a um forum na net e metermos lá os nossos dados e, todos os meses, lá vem a revista!
Agora, alguém me explique como é que isto é possível!
Lá vou eu ter de continuar a receber a Europe Echecs, com dois/três meses de atraso e em francês (pois claro).
Há alturas em que ser português é mesmo ingrato!

Tiago F. Pinho disse...

Olá, Vítor!

Uma coisa é certa: "não há almoços grátis", e, por isso, há de certeza alguém a financiar essa revista.

Num comentário a um post aqui do blogue, o Pedro Rodrigues (croupier e organizador de provas de xadrez) dava algumas indicações sobre a capacidade de angariação de receitas do poker, por oposição ao xadrez.
A ideia passava por dois factores: um jogador mediano de poker vence mais vezes um jogador mais forte que um de xadrez; consequentemente, há mais jogadores de poker dispostos a pagar taxas de inscrição, sendo que até se chegar ao grande prémio final, há sistema competitivo piramidal em que muitas pessoas contribuem com pouco dinheiro.

Escreveu-se ontem no Chess Express (http://chessexpress.blogspot.com/2009/01/poker-sharks.html):
The rise in the popularity of Poker over the last decade has no doubt had an effect on the playing habits of some chess players. Indeed, when once Australian chess lost a number of future champions to Bridge, now they are more likely to be found on the felt.
At the Aussie Poker Millions tournament being held in Melbourne at the moment, there are a number of chess players playing for bigger stakes.
(...)
However in the Limit Hold-em tournament it was another chess player, Jesse Maguire (a former Canberra junior) who did the best out of them all, scoring a third place finish, and picking up $17,500 in prize money.
But before you go running off to cash in on the big prize money at poker tournaments, I will warn you that along with the big prizes comes the big entry fees. $1100 to be precise. And given the chess communities ability to argue for hours over a $5 increase in club membership fees I'm guessing there won't be a mass exodus from our ranks any time soon.


O problema da RPX, segundo parece, é de mercado: a procura não foi suficiente para a oferta - cerca de 300 assinantes para 3 ou 4 vezes mais exemplares disponíveis.

Não fui ver os números. Falando de cor, 300 assinantes deve andar à volta de 10% dos federados. Como muitos dos federados são crianças, 300 assinantes não parece um mau ponto de partida.

Houve algumas boas ideias para angariar leitores, mas, aparentemente, não funcionaram.

No curto prazo, a manutenção da revista tem que passar pela alteração dos outros factores, que não da procura. (a não ser que se opte por um regime de monopólio, como escrevi no site, tornando todos os federados assinantes compulsivamente).

Como angariar patrocinadores e publicidade é uma tarefa muito difícil, das duas uma:

- Financeiramente: ou a RPX aumenta as receitas (por exemplo, no IPJ; ou na FPX, é sempre uma opção política - sendo mauzinho, quantos exemplares vale a ida de Armanda Plácido a Dresden?) ou diminui as despesas.

- ou a solução passa por uma RPX viável para 300 exemplares. Já não estou por dentro dos preços, mas a ideia que tenho é que abaixo dos 600 exemplares, o preço por revista é exorbitante. Mas até hei-de saber, por curiosidade, como andam os preços actuais...


Em suma, um projecto tipo revista virtual como a do post, de certeza que é viável. (mas não com a perspectiva dos sites habituais da FPX - quem pensou aqueles "weebly"... qualquer blogue é de utilização mais intuitiva!)

Outra possibilidade seria manter tudo como até aqui, mas sem impressão e envio: remeter por mail o ficheiro para os assinantes (revendo o preço da assinatura, claro), em vez de ir para a gráfica.
Quem quisesse fazia podia coleccionar os exemplares impressos a laser. A preto e branco e com encadernação térmica, ficavam baratos e apresentáveis.

Pelo menos assim assegurava-se a continuidade da revista.
É uma pena deixá-la ir abaixo e, com ela, toda a rede de colaboradores.

Espero que isto esteja perceptível. Foi escrito de uma vez e segue sem revisão.

Anónimo disse...

Concordo com tudo isso e acho interessante as soluções que apontas. Mas parece-me que a questão essencial é mesmo a publicidade.
Há dois pontos que me parecem incontornáveis: não se pode estar à espera que os assinantes suportem o custo da revista (qual é a publicação em que isso acontece?); ninguém arranja publicidade para uma revista que tem apenas 3 ou 4 centenas de leitores.
Se a revista fosse mais acessível (ou mesmo grátis) o público alvo aumentaria, logo seria mais fácil arranjar mais publicidade. O que mais se vê agora são jornais de distribuição gratuita. Porque será? É claro que a revista de poker tem de compensar: ninguém paga para trabalhar, por muito carola que seja.
É necessário, parece-me a mim, trazer mais empresas para patrocinar o xadrez. Para isso é preciso mostrar que o xadrez é uma modalidade com muitos adeptos. Tem de se mostrar que o xadrez é uma modalidade em que vale a pena investir.
Se não se conseguir isto... bem, nesse caso, se calhar somos realmente um mercado muito fraquinho em que não valerá mesmo a pena investir.
Uma coisa estou certo, se a RPX não continuar, o xadrez nacional sofre um grande revés... acho que todos nós (em especial os dirigentes federativos) devemos ponderar seriamente sobre isto.

Tiago F. Pinho disse...

A angariação de publicidade é um caminho muito complicado. Talvez mesmo o mais difícil de todos.

Arrisco-me a dizer que, na maioria dos casos, os apoios são em espécie e, quando não o são, os patrocinadores são mais amigos/familiares a fazer um jeito, do que investidores convictos do retorno.

Já tive experiências no xadrez (Festival Dolce Vita, com o apoio, por exemplo, da Danone) e no associativismo universitário (provas desportivas, saraus culturais) e as dificuldades são as mesmas (claro que era a associação de estudantes de uma faculdade pequena, com cerca de 700 alunos... na FEUP ou no ISEP, com os seus mais de 5000 alunos cada, dança-se ao som de música bem diferente! E na Federação Académica, com a Queima, houve alturas da maior pouca vergonha...)

Ainda assim, neste prisma, acho que há um caminho a desbravar: o dos benefícios fiscais, como ainda há semanas me (re)lembrou o Mário Marques.

Além das empresas (que tenham lucro), também os particulares podem beneficiar destas doações efectuadas a clubes. E a FPX talvez preencha as condições para receber parte do IRS de cada contribuinte.

Em todo o caso, falar em donativos e aumentos de taxas de filiação, neste momento, não é fácil. Falo por mim. Vejo com muita dificuldade passar dinheiro que me faz falta para as mãos da actual direcção da fpx. Gaffe atrás de gaffe, que a próxima não seja com o meu pilim...

Já tenho dúvidas do que significa FPX... Será Falhanço Português no Xadrez?

(esta é parafraseada dum comentário no blogue da Susan Polgar, em que se falava na USCF - United States Chess FAIL =P estão com prejuízos na ordem dos $ 400.000...)

JSP disse...

«É necessário, parece-me a mim, trazer mais empresas para patrocinar o xadrez.»

Long looong ago, «no meu tempo», antes de o Casino da F. Foz começar a patrocinar todas as secções da AAC, isto foi um problema. Mas a solução encontrou-se com surpreendente facilidade.

«Para isso é preciso mostrar que o xadrez é uma modalidade com muitos adeptos. Tem de se mostrar que o xadrez é uma modalidade em que vale a pena investir.»

Já que, aparentemente, ninguém na FPX conhece nenhum pato bravo -digo, empresário- disposto a ajudar com uns cobres «porque sim» ou «porque o xadrez é fixe», [curioso, quase todos os clubes de bairro conseguem...] então que vão à procura de patrocínios como «nós» na altura fomos. Com charme feminino...

[Oh, estou a brincar.. :) Não estou?]

Tiago F. Pinho disse...

Vi o charme feminino funcionar muitas vezes. Era quase a arma principal do nosso departamento de comunicação... a partir do momento em que o subconsciente dos engenheiros lia "FDUP" e compreendia "90% de alunas", o lucro das festas subiu a valores nunca antes alcançados :P

De qualquer modo, se houver qualquer coisa palpável, tanto melhor para o nosso "dirigente comercial":


(Sem ver se o Orçamento de Estado para 2009 alterou o Estatuto dos Benefícios Fiscais)


- Benefícios Fiscais relativos ao Mecenato -

Palavreado para Empresas:

Para a FPX:

art. 62.º, n.º 6. d) - São considerados custos ou perdas do exercício, até ao limite de 6/1000 do volume de vendas ou dos serviços prestados, os donativos atribuídos às pessoas colectivas titulares do estatuto de utilidade pública desportiva.


Para os clubes:

art. 62.º, n.º 6. e) - São considerados custos ou perdas do exercício, até ao limite de 6/1000 do volume de vendas ou dos serviços prestados, os donativos atribuídos às associações promotoras do desporto e associações dotadas do estatuto de utilidade pública que tenham como objecto o fomento e a prática de actividades desportivas, com excepção das secções participantes em competições desportivas de natureza profissional.


Sendo que - n.º 7 - estes donativos são levados a custos, em valor correspondente a 120% do respectivo total (130% se atribuídos ao abrigo de contratos plurianuais celebrados para fins específicos que fixem os objectivos a prosseguir pelas entidades beneficiárias e os montantes a atribuir pelos sujeitos passivos).


Palavreado para particulares:

art. 63.º, n.º 1, al. b): Os donativos em dinheiro atribuídos pelas pessoas singulares residentes em território nacional, nos termos e condições previstos nos artigos anteriores, são dedutíveis à colecta do IRS do ano a que digam respeito, em valor correspondente a 25% das importâncias atribuídas, até ao limite de 15% da colecta.

Tiago F. Pinho disse...

Afinal as "associações promotoras do desporto" não são clubes...

Explicou-me o Rogério Oliveira que as APD são um tipo específico de associações de direito privado que agrupam vários clubes. Existe para "substituir" as federações desportivas dotadas de utilidade pública quando as modalidades não reunem os requisitos para ter tal federação.

Ou seja, benefícios fiscais só para a FPX.

Os clubes não têm direito a mecenas, só patrocinadores...