terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Taça de Portugal: Destaques do 4.º tabuleiro do GXP A - GDDF B


Com mais duas partidas da equipa D na forja, aqui fica a primeira apresentação sobre os 1/32 da Taça de Portugal, no que nos diz respeito. Para hoje, temos os destaques do 4.º tabuleiro do Grupo de Xadrez do Porto A - Grupo Desportivo Dias Ferreira B.

OS ANTECEDENTES


O primeiro sorteio ditou uma deslocação a Guimarães, para defrontar os Amigos de Urgezes. Acho que não cometo nenhuma inconfidência se disser que, para esse encontro, o nosso "seleccionador" tinha previsto uma rotação da equipa principal em 50%, sendo que eu fui um dos suplentes convocados.

Todavia, após a anulação do sorteio inicial, o novo adversário passou a ser o Dias Ferreira B, forte equipa frente à qual poderia ser imprudência grande não apresentar uma formação mais consistente. Assim, só por motivos de força maior o GXP não reuniu o seu 4 mais forte, sendo que me calhou a mim o privilégio de substituir o Hugo Martins.

Na verdade, não foi sem algum desconforto que vi as 15h00 de sábado chegar rapidamente. Afinal não há segunda oportunidade para nos estrearmos da melhor forma na equipa principal do nosso clube numa prova nacional. E logo a eliminar!

Mal recebi o email da convocatória, pus-me de imediato a fazer previsões para ver se adivinhava quem é que o Vitorino Ferreira iria fazer alinhar no 4.º tabuleiro da sua equipa B. A minha ideia era que iria jogar com o Estevão Gomes ou, caso este ou o Daniel Quintã faltassem (o Jorgievsky e o Caramez vão a todas!), com o Fernando Nora.

No entanto, como o tempo por estes dias não abunda, só na sexta à noite e no sábado de manhã, colocando os livros do estudo de lado, revi dois sistemas de aberturas. Prejudicado ficou o exercício do J... aqui no blogue, que continua em lista de espera.

Almocei com os meus pais nesse sábado e informei-os que, se não estivesse em casa à hora de jantar, me poderiam procurar talvez no beco do Ateneu: a minha ausência seria provavelmente sinal de que teria comprometido a passagem da equipa à próxima eliminatória, e que os meus colegas, desistindo do Perde-Ganha, teriam entendido que a modalidade ideal para mim seria o Chess Boxing, modalidade a que prontamente me introduziriam... :)

Quando cheguei a Passos Manuel vi o Nora a entrar no Grupo, pelo que presumi que fosse ele o meu adversário. Ainda parei na Casa das Tortas para um café rápido e, quando subi, logo fui recebido pelo meu ilustre capitão - "És tu que vens jogar? E chegaste a horas?", perguntou, fazendo-se duplamente surpreendido (quanto à segunda, creio que realmente!).

Cumprimentos efectuados, boas-vindas dadas, foi tempo de me sentar no tabuleiro onde ficaria nas 4 horas seguintes...


Fernando Nora - Tiago B. Pinho (corcunda e cabeludo!)


A ABERTURA


O Nora abriu com 1. e4. Seguiu-se ... e5, 2. Cf3 Cc6, e até aqui continuava satisfeito. Um dos sistemas que revira iniciava-se precisamente assim. Mas foi sol de pouca dura. Após breve reflexão, o Nora joga 3. d4 ao que eu contestei com ... exd4 e ele replica com 4. Bc4!


4. Bc4, o Gambito Escocês


Esta foi a primeira vez que pensei "Ora, bolas!" nesta partida, pois estou mais habituado a defender a Abertura Escocesa que segue com 4. Cxd4 e sabia que esta continuação tinha variações venenosas.

Passei os momentos seguintes a tentar recordar-me dos ensinamentos do Igor Pires, de Aveiro, na análise da partida que jogámos em Guimarães, em Setembro.



O Igor é um especialista na Escocesa. E eu recordava-me bem que havia dois pontos importantes sobre esta abertura a que deveria atentar. Infelizmente, só me recordava de um: tinha que ter muita atenção aos sacrifícios em f7!

Com isto em mente, lá coloquei o Bispo em c5 e o Nora presenteou-me com o 5. c3 da praxe.


5. c3, o lance que chateia quem não sabe teoria.


"Quem não sabe é como quem não vê!" E eu não sabia a teoria do Gambito Escocês! Fiquei um pouco atrapalhado pois presumi que, se o Nora havia escolhido esta abertura, teria feito o seu trabalho de casa e estava preparado para sacrificar.

Ora, normalmente, nas minhas partidas, quem sacrifica sou eu. E a minha beatice em relação à Caissa de ataque turvou-me o pensamento.
Alertado para a fragilidade de f7, o que vi foi o seguinte: 5. ... dxc3 6. Bxf7+ Rxf7 7. Dd5+ e agora as continuações


A) 7. ... Rf8 8. Dxc5+ d6 9. Dxc3 ou
B) 7. ... Re8 8. Dh5+ g6 9. Dxc5 cxb2 10. Bxb2


não eram do meu agrado. De maneira que optei por não abrir linhas: avancei o peão e depois defendi o Bispo, qual mariquinhas, tendo noção que esta decisão me poderia fazer passar as passas do Algarve...


A partida continuou com 5. ... d3 6. Dxd3 d6


Só em casa me lembrei da segunda dica do Igor!
É curioso como a ordem dos lances pode atrapalhar um neca...

Toda a gente conhece a Abertura Italiana, não é? Quase toda a gente, quando começa a jogar, opta por ela. Durante anos foi a minha opção para responder a 1. ... e5. Até quase que a posso cantar, como se fosse tabuada:

1. e4 e5 2. Cf3 Cc6 3. Bc4 Bc5 4. c3 Cf6 5. d4 exd4 6. cxd4 Bb4+ 7. Bd2 Bxd2+ 8. Cbxd2 e agora d5!, o lance salvador.
Muito conhecido, não é?

Pois então, descubram as diferenças...


À esquerda, o Gambito Escocês após 4. Bc4.
À direita, a Italiana após 4. ... Cf6.


Era esta a dica do Igor que eu não recordei e nem me passou pelo espírito! Em vez de jogar d3, podia ter simplesmente transposto para a Italiana com Cf6, entrando em águas que conheço razoavelmente bem!

Nem nas análises, quando Cf6 surgiu no tabuleiro, após sugestão, salvo erro, do Estevão, vi o padrão da Italiana ali a um palmo do nariz. É muito triste saber a tabuada dos 6 e saber que 6x7=42 e, quando questionado sobre a dos 7, não fazer ideia de quanto é 7x6... Talvez tenha que estudar a propriedade comutativa da multiplicação das aberturas de xadrez!

E por falar no Estevão e no Igor, antes do Meio-Jogo, uma pausa para descansar e ver uns apuros de tempo entre eles, neste vídeo do Elirub:




O MEIO-JOGO


Lá consegui sobreviver à abertura segurando a casa f7, mas a verdade é que me sentia um pouco desconforável com a minha posição, muito devido à pressão dos Bispos brancos.



De maneira que tentei eliminar o Bc5: 9. ... Be6 10. Bxe6 fxe6.


Tendo assim atingido a posição em que as brancas fizeram a sua escolha decisiva.


Após 10. ... fxe6


O Nora teve aqui uma opção interessante. Aplicando aquele dizer conhecido "Depois de trocares é a tua vez de jogar", tentou tirar partido do meu peão em e6. Jogou 11. e5, um lance que me surpreendeu. A ideia é, depois de dxe5, em que as negras ficam com peões dobrados e isolados, jogar para ganhar o peão de e5 e, depois disso, ter o peão de e6 como alvo permanente.

Não perdi muito tempo depois deste lance, pois a minha resposta era única. Só havia uma forma de evitar perder o Cavalo de f6... tinha de tomar o peão!


Após 11. ... dxe5


Optei por tomar de peão para colocar a Dama em jogo, embora comer de Cavalo talvez fosse melhor. Durante a partida, a sequência que vi foi 12. Db5 Bb6 13. Cxe5 h6, com a minha Dama a olhar para o Cd2.
Já o Nora, na análise, disse preferir 12. De2, o que me parece demasiado passivo. Tal como o Estevão, depois de 12. ... Dd5, se 13. Bxf6 tomaria o Bispo com o peão, preferindo ter o Rei "à chuva" do que os peões de E isolados.

Neste momento crítico, o Nora cometeu duas incorrecções que me permitiram passar para uma posição bastante confortável. A primeira foi jogar 12. Dc5.


12. Dc4, apesar de ser um ataque duplo ao Bc5 e a e6, é convenientemente refutado por Dd5


E depois 13. Tae1 também não melhora a situação porque, apesar de parecer um lance "natural" que vai lutar pela coluna E, as negras têm um forte antídoto à disposição...


Após 13. Tae1


Creio que o meu lance seguinte foi o que desequilibrou definitivamente a partida.
Com o meu centro em pressão por todos os lados, mais do que pensar em defender a todo o custo, o meu primeiro pensamento foi tentar tirar partido da boa articulação das minhas peças e do domínio que tinha no centro na tabuleiro.

Certo que tinha dois peões dobrados e isolados. Mas eram os únicos que estavam no centro. Além de que, como todas as outras fraquezas, ter peões dobrados e isolados só é mau se o adversário os puder atacar! Ora, no caso, a minha "fraqueza" era precisamente a minha melhor arma...


As negras tomam conta do jogo com 13. ... e4


- Se as brancas fugissem com o Cf3, perdiam o Bg5;
- Se Bxf6, as negras trocam Damas e depois tomam em f3, mantendo o Bf6 atacado;
- Se Cxe4, as brancas perdem a Dama...

Face às alternativas, as brancas optaram por trocar as Damas.


Tendo depois jogado 15. Ch4 (15. Cb3 talvez não fosse pior) Cg4 e para defender f2, as brancas jogaram Be3.


Sendo que após Cxe3, são as brancas que têm um peão isolado em E, além de um Cavalo quase sem casas de fuga em h4.


O FINAL


Com peças melhor colocadas e mais espaço, na sempre difícil transição para o final, as negras, numa altura em que apuros de tempo já batiam à porta, antes de descobrirem o plano vencedor, limitaram-se a melhorar a posição das suas peças e piorar a das do adversário.


Após 23. a5 seguiu-se Cg4 (atacando e3), 24. Te1 Cf2 25. Te2


E aqui falhei 25. ... Cd1 que deveria ser o princípio do fim. Só vi 25. ... Ch3 26. Rg2 g5 27. Rxh3 Txf1


Seguindo-se 28. Cg2 h5 29. Ce1


A minha ideia era criar um padrão de mate, mas desisti dela mesmo antes de tentar... Poderia seguir-se:


29. ... Tg1 e se 30. Cc2?? Be7 é imparável com g4# ou hxg4#.


Todavia, as brancas tinham 30. Cg2 Rf7 (a caminho da protecção dos peões) 31. g4 Rg6 32. c4 (procurando contra-jogo na ala de Dama) embora hxg4+ - que eu já não vi - desse uma continuação razoável às negras.

Depois daquele 29. Ce1, joguei Rg7


Seguindo-se 30. Rg2 Tf8 31. Cc2 Tf3.

Depois de 32. Cc2 g5, a falta de espaço das brancas não permite uma defesa capaz contra o plano Rg7-f7-e7-d7-c7 e o avanço de b6 e dos peões da ala de Dama. Mesmo trocando o Bispo pelo Cavalo, as negras devem ter o final ganho.


Após 41. ... Rc6


Todavia, os relógios foram decisivos e acabei por vencer a partida por tempo, nesta posição.

2 comentários:

Anónimo disse...

e ainda bem que os relogios foram decisivos!
andre

Tiago F. Pinho disse...

também não estava assim tão mal :)