Disputou-se a noite passada a 1.ª Jornada do V Torneio Internacional de Guimarães, nas instalações do Museu Alberto Sampaio.
A Sara fez de taxista e foi-me buscar, pelo que consegui estar às 20h20 à porta do Guinapo que não teve horário mais flexível: também recém-chegado do seu emprego, encontrava-se a terminar o jantar, pelo que estacionei e saquei do saquinho providencial que a minha mãe me deixara no carro e ataquei sem pudor 3 rissóis e 2 croquetes, regados com iogurte líquido.
Coisas menores para um bom garfo, que era noite de xadrez.
Seguimos viagem sem percalços - a consulta ao Via Michelin foi proveitosa - mas quando chegámos a Guimarães passámos mesmo à porta do Museu e não demos por ele! Foi necessário socorrermo-nos da simpatia vimaranense e depois de certeiras orientações, rumámos para o local de jogo.
Para trás ficou o carro, estacionado em lugar reservado à Relação, e o arrumador que grunhia qualquer coisa como "Se não fosse noite havia moedinhas para o parquímetro..."
Chegados ao Museu com o atraso da praxe (cerca de 20 minutos, salvo erro), primeiro contacto com a arbitragem - pelo omnipresente Vitorino Ferreira - e com a organização da prova, ocasião para perceber o que se havia passado com a minha inscrição em representação do GXP: quando enviei o email indiquei o meu nome, idade, n.º fide e elo, esquecendo-me do clube. O Senhor Fernando Castro reconheceu o apelido e juntou-lhe o clube... apelido do Joaquim (Brandão de Pinho), presidente do GX Porto, o mesmo mas não o meu. =D
Entretanto, um olhar rápido para o emparceiramento apenas para descobrir que jogava de negras, na mesa 14, contra o Ivo Dias. O nome não me dizia nada e calculava que deveria ser um adversário à volta do 65.º lugar do ranking inicial, logo com um elo a rondar os 1400.
Quando cheguei ao tabuleiro, esperava-me apenas o peão de rei, avançado duas casas. Repliquei simetricamente, preenchi a folha de registo e aguardei a presença do meu adversário que não tardou em comparecer.
O Ivo é um rapaz novo, com ar simpático e olhar arguto, que me pareceu entre o surpreendido e o desconfiado com o meu equipamento desportivo - a "farda" profissional. Jogámos uma variante pouco comum da Espanhola que ele não conhecia e me deu alguma vantagem inicial. Mas não foi preciso muito para eu perceber que à minha frente estava um daqueles "miúdos" cuja progressão xadrezística anda 3 vezes mais depressa do que o sistema de Elo permite monotorizar. De tal maneira que, já no meio-jogo, me levantei para espairecer e ver na lista de inscritos de onde era aquele jogador que me estava a morder os calcanhares.
A posição não era muito clara - pelo menos para mim :) - e suscitou interesse em alguns dos espectadores que deviam estar a torcer, como eu muitas vezes faço, pela surpresa do xadrezista com menos elo. Este retrato da Juliana Chiu é sintomático: algumas espreitadelas, o Ivo seguro a olhar para mim com ar guerreiro e desafiador, eu agarrado aos neurónios o mais que podia...
Indo ao que interessa, parece-me que a posição em que demorei mais tempo a jogar foi esta:
O Ivo tinha acabado de jogar 10. d3 (nas análises disse-me que hesitou entre este lance e 10. f3 que talvez não fosse pior) e o seu objectivo pareceu-me claro: queria o meu peão de e4 que estava pregado. Felizmente, as minhas hipóteses eram reduzidas e obrigatórias: ou defendia o peão ou o sacrificava.
Hesitei até à última e acabei por defender com 10. ... Bb4. Mas era possível prosseguir de forma mais arrojada de acordo com o plano inicial (8. ... Bc5).
DESAFIO A - Como é que as negras podem explorar a coluna semi-aberta de F e pressionar o peão de f2? Conseguem ver o que eu não vi? Respostas por mail ou nos comentários.
Deixei passar a oportunidade de atacar f2 em segurança e, quando o fiz, a coisa podia ter dado para o torto...
Na dança das trocas, depois de 14. ... exd3 15. Txd3 Cxf2 16. Cxf2 Dxf2, o Ivo continuou na onda e jogou 17. Dxf2. (bem, na verdade, não foi bem assim: mesmo nas análises, ele optou sempre por variantes que retiravam as Damas do tabuleiro, o que lhe dá mais segurança mas, ao mesmo tempo, diminui as possibilidades de atacar o Rei adversário, pelo que este lance deve ter sido uma jogada reflectida.)
DESAFIO B - Com esta "diz-que-é-uma-espécie-de-dica", consegues arranjar um plano melhor para as brancas que deixe as negras em apuros?
Alguns lances mais tarde, num final complicado de Torres com Bispos de cor contrária e muitos peões, o Ivo optou por um bom plano (ganhar espaço, avançar os peões e protegê-los do Bispo adversário) que só não funcionou porque as negras tinham uma surpresa táctica. Consegues descobri-la?
As brancas acabaram de jogar 28. c3. As negras jogam e ganham vantagem decisiva. Como? (DESAFIO C)
A noite desportiva acabou na zona reservada às análises, onde confirmei que o Ivo tem pinta de xadrezista.
Regressado a casa, ainda houve curiosidade para passar a partida no computador e ver se conhecia mais qualquer coisa sobre o meu adversário.
Ivo Dias, enquanto jogador do Externato Leonardo da Vinci, Braga
Quando, durante a partida, fui ver qual era o seu clube e me deparei com o Núcleo de Xadrez Vale S. Cosme - Didáxis, lembrei-me logo do Mário Oliveira e pensei que se calhar seria melhor aliviar o nó da gravata. É que por aquelas bandas não se brinca.
Suspeitas que confirmei ao chegar a casa. Depois de um estágio de preparação com o Caramez, em Julho, o Ivo terminou o III Torneio Fechado do Vale com apenas 3 derrotas em 9 partidas.
E, apesar de ser sub-10, tem já um curriculum recheado: Vice-Campeão Regional Norte de Xadrez Escolar 2008, Campeão Distrital Escolar na categoria Infantil A (sub-12), vencedor do torneio Sá de Miranda, 1.º sub-10 no V Torneio Sub-20 da Escola João de Meira, entre outros...
Parece-me que o 5.º lugar no Nacional Sub-10 vai ser para melhorar (brevemente)!
Parece-me que qualquer dia deixa de pedir autógrafos (na foto, Catarina Guerra e Costa) e passa a ser ele o requisitado.
A Sara fez de taxista e foi-me buscar, pelo que consegui estar às 20h20 à porta do Guinapo que não teve horário mais flexível: também recém-chegado do seu emprego, encontrava-se a terminar o jantar, pelo que estacionei e saquei do saquinho providencial que a minha mãe me deixara no carro e ataquei sem pudor 3 rissóis e 2 croquetes, regados com iogurte líquido.
Coisas menores para um bom garfo, que era noite de xadrez.
Seguimos viagem sem percalços - a consulta ao Via Michelin foi proveitosa - mas quando chegámos a Guimarães passámos mesmo à porta do Museu e não demos por ele! Foi necessário socorrermo-nos da simpatia vimaranense e depois de certeiras orientações, rumámos para o local de jogo.
Para trás ficou o carro, estacionado em lugar reservado à Relação, e o arrumador que grunhia qualquer coisa como "Se não fosse noite havia moedinhas para o parquímetro..."
Chegados ao Museu com o atraso da praxe (cerca de 20 minutos, salvo erro), primeiro contacto com a arbitragem - pelo omnipresente Vitorino Ferreira - e com a organização da prova, ocasião para perceber o que se havia passado com a minha inscrição em representação do GXP: quando enviei o email indiquei o meu nome, idade, n.º fide e elo, esquecendo-me do clube. O Senhor Fernando Castro reconheceu o apelido e juntou-lhe o clube... apelido do Joaquim (Brandão de Pinho), presidente do GX Porto, o mesmo mas não o meu. =D
Entretanto, um olhar rápido para o emparceiramento apenas para descobrir que jogava de negras, na mesa 14, contra o Ivo Dias. O nome não me dizia nada e calculava que deveria ser um adversário à volta do 65.º lugar do ranking inicial, logo com um elo a rondar os 1400.
Quando cheguei ao tabuleiro, esperava-me apenas o peão de rei, avançado duas casas. Repliquei simetricamente, preenchi a folha de registo e aguardei a presença do meu adversário que não tardou em comparecer.
O Ivo é um rapaz novo, com ar simpático e olhar arguto, que me pareceu entre o surpreendido e o desconfiado com o meu equipamento desportivo - a "farda" profissional. Jogámos uma variante pouco comum da Espanhola que ele não conhecia e me deu alguma vantagem inicial. Mas não foi preciso muito para eu perceber que à minha frente estava um daqueles "miúdos" cuja progressão xadrezística anda 3 vezes mais depressa do que o sistema de Elo permite monotorizar. De tal maneira que, já no meio-jogo, me levantei para espairecer e ver na lista de inscritos de onde era aquele jogador que me estava a morder os calcanhares.
A posição não era muito clara - pelo menos para mim :) - e suscitou interesse em alguns dos espectadores que deviam estar a torcer, como eu muitas vezes faço, pela surpresa do xadrezista com menos elo. Este retrato da Juliana Chiu é sintomático: algumas espreitadelas, o Ivo seguro a olhar para mim com ar guerreiro e desafiador, eu agarrado aos neurónios o mais que podia...
Indo ao que interessa, parece-me que a posição em que demorei mais tempo a jogar foi esta:
O Ivo tinha acabado de jogar 10. d3 (nas análises disse-me que hesitou entre este lance e 10. f3 que talvez não fosse pior) e o seu objectivo pareceu-me claro: queria o meu peão de e4 que estava pregado. Felizmente, as minhas hipóteses eram reduzidas e obrigatórias: ou defendia o peão ou o sacrificava.
Hesitei até à última e acabei por defender com 10. ... Bb4. Mas era possível prosseguir de forma mais arrojada de acordo com o plano inicial (8. ... Bc5).
DESAFIO A - Como é que as negras podem explorar a coluna semi-aberta de F e pressionar o peão de f2? Conseguem ver o que eu não vi? Respostas por mail ou nos comentários.
Deixei passar a oportunidade de atacar f2 em segurança e, quando o fiz, a coisa podia ter dado para o torto...
Na dança das trocas, depois de 14. ... exd3 15. Txd3 Cxf2 16. Cxf2 Dxf2, o Ivo continuou na onda e jogou 17. Dxf2. (bem, na verdade, não foi bem assim: mesmo nas análises, ele optou sempre por variantes que retiravam as Damas do tabuleiro, o que lhe dá mais segurança mas, ao mesmo tempo, diminui as possibilidades de atacar o Rei adversário, pelo que este lance deve ter sido uma jogada reflectida.)
DESAFIO B - Com esta "diz-que-é-uma-espécie-de-dica", consegues arranjar um plano melhor para as brancas que deixe as negras em apuros?
Alguns lances mais tarde, num final complicado de Torres com Bispos de cor contrária e muitos peões, o Ivo optou por um bom plano (ganhar espaço, avançar os peões e protegê-los do Bispo adversário) que só não funcionou porque as negras tinham uma surpresa táctica. Consegues descobri-la?
As brancas acabaram de jogar 28. c3. As negras jogam e ganham vantagem decisiva. Como? (DESAFIO C)
A noite desportiva acabou na zona reservada às análises, onde confirmei que o Ivo tem pinta de xadrezista.
Regressado a casa, ainda houve curiosidade para passar a partida no computador e ver se conhecia mais qualquer coisa sobre o meu adversário.
Ivo Dias, enquanto jogador do Externato Leonardo da Vinci, Braga
Quando, durante a partida, fui ver qual era o seu clube e me deparei com o Núcleo de Xadrez Vale S. Cosme - Didáxis, lembrei-me logo do Mário Oliveira e pensei que se calhar seria melhor aliviar o nó da gravata. É que por aquelas bandas não se brinca.
Suspeitas que confirmei ao chegar a casa. Depois de um estágio de preparação com o Caramez, em Julho, o Ivo terminou o III Torneio Fechado do Vale com apenas 3 derrotas em 9 partidas.
E, apesar de ser sub-10, tem já um curriculum recheado: Vice-Campeão Regional Norte de Xadrez Escolar 2008, Campeão Distrital Escolar na categoria Infantil A (sub-12), vencedor do torneio Sá de Miranda, 1.º sub-10 no V Torneio Sub-20 da Escola João de Meira, entre outros...
Parece-me que o 5.º lugar no Nacional Sub-10 vai ser para melhorar (brevemente)!
Parece-me que qualquer dia deixa de pedir autógrafos (na foto, Catarina Guerra e Costa) e passa a ser ele o requisitado.
5 comentários:
De5 e a coisa ficava complicada, ou não?
grande ivo!!! tambem sou do clube dele! do grande NXVSC!! Ele pode ser pekeno mas é grande jogador! Eu e ele formamos uma grande ekipa
Sempre a continuar a evoluir!!
Luis Silva
NXVSC!
Já dizia o outro: Mesmo que o teu adversário pareça uma pulga, pensa sempre nele como se fosse um elefante. Neste caso o "Dumbo" Ivo Dias
Luís, equipas de dois, só no troca-peças (coordenadas, em alguns sítios) :)
Anónimo, que maldade :) O Ivo não tem umas orelhas assim tão grandes :P Mas é pesado como o Dumbo. Eu senti quando me pisou os calcanhares...
Anónimo de dia 3:
Desafio B - De5 (ameaça mate) Df6 Dxc7.
Se defendesse com Df7, Tf3!
Ficava complicado, ficava :)
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