quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Anand revalida título de campeão do mundo


por Jorge Guimarães

O xeque-mate a Vladimir Kramnik foi feito ontem pelo indiano, em Bona. Resultado cala contestação.


O indiano Viswanathan Anand manteve o título de campeão do mundo de xadrez ao empatar a 11.ª partida do encontro com o pretendente Vladimir Kramnik, da Rússia. Foi com uma enorme salva de palmas que os espectadores que enchiam o anfiteatro do Palácio das Artes e Exposições de Bona, Alemanha, saudaram o aperto de mão entre os jogadores, com o qual Anand aceitava a proposta de empate do seu adversário e garantia os 6,5 pontos necessários à vitória.

Foi uma conclusão lógica para este confronto em que o indiano foi claramente superior, pese embora o susto que sofreu nas últimas partidas, em que Kramnik conseguiu ser o primeiro a levar o jogo para caminhos desconhecidos da teoria. Depois da derrota de Anand, segunda-feira, o match, que todos já davam como terminado, voltou a animar-se e a cotação de Kramnik nas bolsas de apostas subiu. Mas ganhar de negras, ao mais alto nível, quando quem joga de brancas não quer arriscar é quase impossível e Anand encarregou-se de demonstrar este teorema xadrezístico.

Logo no primeiro lance Anand testou a preparação de Kramnik ao abrir com o peão de rei, em vez do de dama, que sempre tinha sido até aqui utilizado. Uma mudança significativa e indicadora das intenções do indiano - as aberturas de peão de rei produzem posições mais tácticas mas menos subtis no plano estratégico e, por serem mais estudadas, são mais difíceis de ocorrerem surpresas.
Ainda assim Kramnik tentou, jogou deliberadamente para as complicações, mesmo correndo o risco de cair em situação de inferioridade. Ao 12.º lance realizou um movimento muito duvidoso, que destroçava a sua própria estrutura de peões e cedia o domínio permanente de casas consideradas essenciais. Em troca conseguia uma boa actividade e coordenação das suas peças para um eventual ataque ao rei. Mas Anand, numa atitude pragmática, não tentou aproveitar as debilidades. Jogou deliberadamente para a igualdade, fugiu às complicações, forçou as trocas e alcançou um final de ligeira superioridade em que não corria qualquer risco de ser derrotado. Conformado, Kramnik reconheceu a futilidade da continuação da luta e, ao propor empate ao 23.º lance, foi o primeiro a felicitar o campeão.

Com este resultado Anand cala as vozes, entre elas a do próprio Kramnik, que contestavam o seu direito ao título por este não ter sido obtido em luta directa com o anterior campeão - Anand destronara Kramnik no torneio do México, disputado em Setembro de 2007, que reunira, além dos dois, mais 12 participantes. Agora ninguém pode negar a Anand o direito a figurar na lista dos directos sucessores do primeiro campeão mundial, o austro-americano William Steinitz, na linha directa de Bobby Fischer, Anatoly Karpov, Gary Kasparov e Vladimir Kramnik.
O momento é de comemoração, mas Anand não pode ficar à sombra dos louros, pois já está na forja o novo pretendente: o búlgaro Veselin Topalov, vencedor do Masters de Bilbau, em Setembro.

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