segunda-feira, 23 de março de 2009

Entrevista: António Fernandes, campeão nacional de xadrez, em discurso directo no SCN.




«O xadrez não tem sido reconhecido ou acarinhado em Portugal»
Por Jaime André, no SCN



Já em Portugal, após ter competido no 10º Campeonato Europeu Individual de Xadrez que decorreu no Montenegro, António Fernandes aceitou responder a algumas questões do scn, acerca da sua prestação, aproveitando ainda a oportunidade para abordar a falta de apoio que existe no seio da modalidade.

Como viu a sua participação neste campeonato europeu?
Atendendo a que estava cotado na 185ª posição e tendo terminado a prova no 134º lugar empatado com o 97º, deixando atrás de mim vários Grandes Mestres teoricamente bastante mais fortes, considero ter efectuado uma prestação bastante positiva.

As expectativas que tinha em relação à sua prestação foram superadas?
Sem dúvida. Tendo em conta o elevado nível desta prova, o meu objectivo principal era efectuar pelo menos 50% dos pontos possíveis o que acabei por conseguir, mesmo o superar.

O que contribuiu na sua opinião para o inicio um pouco atribulado com 3 derrotas nas primeiras 4 rondas?
Infelizmente adoeci no início da prova e estive a disputar as primeiras 7 sessões sobre o efeito de medicamentos para combater o estado febril e fortes dores de cabeça com que me encontrava. Tive mesmo que me deslocar aos serviços médicos da organização.

A partir da 5ª ronda conseguiu uma impressionante série, onde somou 5 pontos em 7 jogos, tendo apenas concedido a derrota uma vez. O que motivou essa magnifica performance?
Nessa altura, embora ainda não estivesse a 100%, já me encontrava em muito melhores condições físicas. Este facto começou a reflectir-se na minha forma de pensar e inclusivamente na própria concentração, partida após partida. Só a partir da 7ª sessão, como referi anteriormente, estava em condições normais para poder discutir o resultado da partida fosse qual fosse o adversário.

Houve algum jogo ou adversário neste campeonato europeu que gostasse de salientar?
O jogo da 10ª sessão (o penúltimo contra Darko Doric), o qual o efectuei a um muito bom nível, com um adversário teoricamente mais forte. Senti que para mim o torneio estava a começar nessa altura em igualdade de condições com os demais jogadores.

Sendo o actual campeão nacional e após esta prestação no campeonato europeu, que se pode esperar de si neste ano de 2009?
Tudo do melhor como assim espero. E como os meus adversários bem o sabem, vou estar como sempre disposto a lutar por vencer qualquer prova em que participe.

Na sua opinião o xadrez em Portugal tem tido o apoio necessário? Tem sentido esse apoio?
Infelizmente não. E é com alguma amargura que recordo o não reconhecimento dos nossos orgãos Estatais os quais só têm olhos para algumas modalidades desportivas, nomeadamente o futebol. Pois quando se é reconhecido pela FIDE (Federação Internacional de Xadrez), como eu fui em 1985, uma das 10 esperanças do xadrez mundial, ou quando em 1992 conquistei uma medalha olimpíca nas olimpíadas de xadrez em Manila (campeonato mundial a nível de selecções), penso serem exemplos significativos de como esta modalidade não tem sido reconhecida ou acarinhada no meu país.

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