O "Mais Cedo ou Mais Tarde", programa da TSF "porque há outras ideias e outras pessoas que podiam ser notícia. E são", onde salvo erro já esteve o MF Ruben Pereira, dedicou o seu programa de ontem ao activismo de acção directa em Portugal (onde não tem muita expressão).
Os convidados foram os representantes do GAIA - Grupo de Acção e Intervenção Ambiental que, «com uma forte componente activista, recorrendo a acções directas, criativas e não-violentas, promove[] o trabalho a partir das bases [e] Aborda a problemática ecológica através de uma crítica ao modelo social e económico que explora e prejudica o planeta, a sociedade e as gerações futuras»".
Para quem não está a ver o que isto seja, o blogue do programa elucida: "Se acha que nunca ouviu falar do GAIA, lembramos o caso do campo de milho transgénico atacado em Silves (acção atribuída ao GAIA, mas desmentida pelos próprios)."
Actualmente, a acção directa está, muitas vezes, relacionada com as actividades de colectivos anarquistas. Mas foi também a arma política preferida de Ghandi ou Martin Luther King.
E recentemente o GAIA noticiou a ida da política à Praça do Marquês, de mãos dadas com o xadrez, numa iniciativa da Casa Viva.
I -Xadrez na política
Aqui fica um excerto do "Aviso Público" publicado pelo GAIA esta segunda-feira (e, inicialmente, pela Casa Viva no post "Chamem a polícia que eu não saio da praça", no qual se pode seguir, na caixa de comentários, um bate-boca interessante entre a Casa e o Tiago Fernandes, da Baixa do Porto):
Estavam à nossa espera. O blog anunciava o início da festa às 11h00, mas passava do meio-dia quando começámos a montar bancas, mesas, cadeiras, bancos, cavaletes, xadrez, livros, pincéis e papéis na Praça do Marquês. Apareceram de imediato. PSP, dois agentes, um dos quais graduado. O mesmo que comunicou ao primeiro que abordou que ali não podíamos estar, por se tratar de um evento anunciado. O blog que haviam consultado assim o confirmava e tal carece de licença, coisa de que não dispunhamos.
"Evento"... o termo, e respectiva definição, desenrolou uma conversa de mais de uma hora. Sobre este e outros conceitos não se chegou a consenso algum. Ficou o aviso: "sujeitam-se a que apareça a polícia municipal e apreenda todo o material que aqui se encontra". Pretendíamos, apenas, provocar um encontro numa praça da cidade, um encontro para distribuir informação, conversar, jogar xadrez ou jogar à petanca, pintar, fotografar, ler, estar. Regado com alegria de palhaços e almoço popular. Tudo isso aconteceu.
Pelas 16h30, quando a também anunciada polícia municipal surgiu, recolhíamos já à CasaViva, um espaço de propriedade privada mas porventura dos mais públicos na verdadeira acepção da palavra. A fachada exibia então um Aviso Público:
Como a realidade lá fora é outra e porque o desconhecimento da lei não é desculpa para poder prevaricar no que à mesma diz respeito, com a colaboração do referido simpático agente no seu esclarecimento, elaborou-se o possível Manual de Frequência do Espaço Público:(...)
2- Não se pode trazer um sofá para a praça e confortavelmente sentar-se ao sol a ler um livro, mas pode-se trazer uma cadeirinha, cuja dimensão parece que a lei também não refere com precisão, nem o tempo em que essa cadeirinha poderá estar a incomodar no espaço público. Segundo o agente graduado, a grande diferença entre um sofá e uma cadeirinha, numa praça, é o facto de o sofá provocar os transeuntes a questionarem-se do porquê de tal mobiliário "anormal". Está a dizer-me, então, que a lei existe para defender as pessoas de se interrogarem sobre o que as rodeia? "Sim." E que, portanto, a lei existe para normalizar as pessoas impedindo-as de exercerem o seu espírito crítico? "Sim."
3- Pode-se ter um cavalete para qualquer cidadão pintar, mas se for mesa, nem que seja para crianças, já não pode ser.
4- Pode-se ter e estar a jogar xadrez num tabuleiro desde que não incorpore uma mesa.
5- Para se realizar um encontro com mais de três pessoas, este não pode ser anunciado na Internet, pois será considerado organizado e portanto carece de autorização do Governo Civil. Mas se esse ajuntamento já tem história, é tradição, já pode livre e espontaneamente acontecer, conforme comprova o ajuntamento dos senhores do jogo da sueca, diariamente na praça do marquês. E para ser considerado tradição não chega ter como antecedentes só dois outros encontros, não se sabe se os nossos recentes três já serão suficientes. (...)
Apenas para "memória histórica", o primeiro torneio de semi-rápidas em que participaram os elementos da turminha de xadrez do Estrela e Vigorosa Sport foi, precisamente, na CasaViva (ver blogue), no I Torneio de Outono do Musas, integrado no Circuito das Colectividades do Porto.
A maior parte conhece o Musas de nome, pois tem uma equipa de xadrez sem grande expressão, os seus jogadores raramente jogam provas individuais e organiza um torneio por ano. Mas o Espaço Musas, onde só fui duas vezes (a primeira há alguns anos, levado por uma conhecida que, muito politicamente, me chamava "raparigo"; a segunda, há sensivelmente um ano, para encontrar a malta que, no Porto, joga go e que, acabou por estar connosco no último Festival de Xadrez Dolce Vita que o Vigorosa organizou) é bastante mais do que isso, como podem ver no seu blogue. Agora devo cometer um erro terminológico :P, que me perdoem os visados, mas só para concluir a lista de contactos da rede libertária (?) com quem penso ter trocado algumas ideias, há que incluir na lista a Terra Viva que dinamizava a Quinta do Covelo, nos tempos em que eu não tinha barriga e ali se treinava karate ao ar livre. Bons tempos :)
Um clube a fazer lembrar, mutatis mutandis, o texto do Rui Pereira no site do GXP: (...) Pelas janelas do café Palladium chega o alvoroço das ruas de 74 e 75. Nos cafés joga-se às revoluções, não ao xadrez. Nos próprios clubes é assim. A secção do Futebol Clube do Porto tem hasteada uma bandeira da UDP. E o pugilato que ocasionalmente une alguns contendores mais exaltados tem menos a ver com a teoria das aberturas, do que com a técnica da insurreição. Excepto no Grupo. Aí não. O Grupo era uma instituição veneranda, fundada por cavalheiros de ar british que nunca tinham querido problemas com Salazar. Nem os queriam com Vasco Gonçalves. «Jogar xadrez foi sempre a única coisa que nos interessou», resumirá o mestre Álvaro Machado. (...). Embora mais fiel à secção do FCP que o Espaço Musas talvez fosse, durante algum tempo e até há alguns anos, o meu quarto, trocando-se a bandeira por uns "panflos" com uma estrelinha com cabeça e em cujo coração há lugar para aquelas três letrinhas (e muitas mais)...
Coqueiros do Sul, município brasileiro do Estado de Rio Grande do Sul
II - Política em Xadrez
Mas a acção directa não é táctica exclusiva dos colectivos de extrema-esquerda, de Ghandi, Luther King ou grupos ambientalistas nacionais. Também a GreenPeace e o Movimento dos Sem Terra, no Brasil, se socorrem dela amiúde.
O Movimento dos Sem Terra é um movimento social de inspiração marxista que "luta pela Reforma Agrícola no Brasil e pela construção de um projecto popular baseado na justiça popular e na dignidade humana". É prática habitual deste movimento ocupar baldios e fazendas.
A agência noticiosa Chasque entrevista Daniel Chaves, agricultor membro do Movimento dos Sem Terra que ocupou a Fazenda Guerra:
"Porto Alegre - Coqueiros do Sul, 12 de Abril de 2007. O agricultor Daniel Chaves, 33 anos, é baleado durante um confronto com a Polícia Militar, próximo à Fazenda Guerra, reivindicada pelo Movimento Sem Terra (MST).
(...) “Na quarta-feira, foi feito um acordo com o comandante, de uma saída pacífica, sem conflito. Ele começou cumprindo com o acordo, mas começou a atrasar muito a saída. Então anoiteceu e começaram os maus tratos.”
(...)Os sem terra foram levados para Xadrez, um distrito de Coqueiros do Sul, onde permaneceram por quase uma hora. (...)"
* * *
Por cá, neste momento, decorre em Lisboa uma manif que, segundo o Público, a CGTP acredita poder passar os 200.000 manifestantes.
* * *
E trocar as peças por... uma almofada?
-batalha de almofadas dia 4 de Abril de 2009, às 18h00 em ponto, nos Aliados.
-tragam almofadas macias dentro de sacos ou mochilas, apenas as tirando cá para fora a poucos minutos das 18h00. Pontos extra se forem de penas.
-é proibido lutar com outros objetos pesados, assim como armadilhar as almofadas.
-só podes atacar quem tiver almofada, e caso peçam para parar, tu paras.
-a luta não tem hora marcada para acabar, apenas dependendo de nós.
-não deixem as almofadas para trás; temos que deixar o local minimamente limpo
Mais info - blogue Os Invictados
4 comentários:
Boas.
Será de mim ou só com muito boa vontade se pode considerar que o Movimento dos Sem Terra não é um movimento de extrema esquerda?
Mesmo o Green Peace pode ser um pouco esquisito. Reconheço que o seu alvo principal são as questões ecológicos, mas isso, no caso deles, leva a que muito do que defendem seja de esquerda (extrema?).
Realmente aquele parágrafo não ficou famoso :P
Nem todos conseguem fazer a Ponte =D
Ao ligar o xadrez na política e a política em Xadrez, dei um tropeção!
Mesmo sem saber etiquetar, realmente o MST parece caber na extrema-esquerda. E a GreenPeace provavelmente também, concordando com a tua ressalva.
Aceitam-se sugestões para reformular o parágrafo! :P
Boas KAMIKAZEKING. Acho que existem aí alguns enganos em relação ao post e texto sobre o GAIA e o Xadrez... Estive nessa acção e a verdade é que ela foi organizada pela CASA VIVA, cujo blog tem as fotos. O que acontece é que neste projecto CASA VIVA existe comunicação permanente com outros colectivos entre os quais o GAIA que por alguma razão decidiu publicar o texto que construímos sobre o que aconteceu nesse dia.
Cumprimentos
MiguelPacheco
Olá, Miguel!
Obrigado pelo reparo.
Encontrei o texto, originalmente, no site do GAIA e como não vi, aí, qualquer ressalva, pensei que a iniciativa fosse deles... não estranhei quando vi o mesmo post no blogue da CasaViva porque tenho a ideia de que é uma porta aberta para quem precise de poiso.
Creio ter rectificado o texto de forma aceitável. Se continuar a não ser fiel, dá outra apitadela! ;)
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