quinta-feira, 19 de março de 2009

Nacionais de Jovens: Paulo Topa manifesta-se contra o critério de desempate "sorteio" para apuramento dos Campeões



Sobre os métodos de desempate
Por Paulo Topa, no blogue do Pontex

Antes de mais afirmo claramente que ando nisto do xadrez há muito pouco tempo e, como tal, poderei estar a falar de algo que não domino (o que é verdade) e os meus argumentos podem cair pela base por isso mesmo. Se assim for, por favor, expliquem-me.
Dito isto, cá vai.


Já fui espalhando pelos comentários de alguns blogs as minhas reservas relativamente à possibilidade do desempate de um campeonato de xadrez ser feito por sorteio.

A FPX contempla, actualmente, a possibilidade do desempate ser efectuado por sorteio. Creio que anteriormente o desempate era efectuado por "matche" entre os jogadores empatados. Este sistema levava a que a competição se prolongasse. Aparentemente, alguns jogadores e Associações pensavam que esta não era uma boa solução e, eventualmente, não será, mas, creio eu, é muitíssimo melhor que o sorteio. Aliás, parece-me que o sorteio é a pior solução de todas - bem, a ordem alfabética poderia ser pior.

Imaginemos a seguinte situação. Num torneio, no sistema todos contra todos com dez jogadores (implicando nove partidas), dois jogadores vencem todos os seus adversários e empatam entre si. Se assim for chegarão em primeiro lugar ao final do torneio - empatados. Como os seus resultados com os adversários foram iguais não há critério de desempate que lhes valha. Assim, teria de se fazer sorteio. Ora, imaginemos que era a final do Distrital de Jovens, ou do Nacional de Jovens. Será minimamente credível que o Campeão Distrital ou Nacional seja decidido por sorteio? Não.
Voltem os "matches" ou, se necessário, imponha-se a "morte súbita". Poderá ser injusto um torneio de lentas ser decidido com partidas semi-rápidas (como no presente Campeonato Europeu), mas sempre é menos injusto do que o sorteio.
Em torneios com poucos jogadores no sistema todos contra todos existe uma grande probabilidade de haver empates que não são desempatáveis com os sistemas normalmente utilizados. Para tal basta que dois jogadores empatem entre si e que tenham os meus resultados com os seus adversários.
Estas situações vão começar a surgir. Penso que na final do Distrital de Jovens do Porto isso já sucedeu.

Num desporto que tanto apela ao intelecto não existirá alguém que seja capaz de vislumbrar um sistema mais justo?

- Foste campeão nacional?
- Não fiquei em segundo.
- O que ficou em primeiro ganhou-te?
- Ganhou... na moeda ao ar.


* * *


Artigo 25.º, n.º 2 e 3, do Regulamento de Competições da FPX, aprovado em 15 de Junho de 2008 e em vigor a partir do início da presente época:

2. Se, numa competição individual em sistema suíço, dois ou mais jogadores obtiverem o mesmo número de pontos e o regulamento da competição não indique de outro modo, a respectiva classificação final será determinada por aplicação sucessiva dos seguintes critérios:
a) resultado entre os jogadores empatados, desde que tenham jogado entre si;
b) sistema Progressivo
c) sistema Brasileiro
d) sistema Buchholz
e) maior número de partidas ganhas;
f) maior número de partidas jogadas com as peças pretas;
g) sorteio, se outro não for o critério determinado pelo regulamento da competição.

3. No caso de atribuição de títulos nacionais individuais, absoluto, feminino e veteranos, o desempate será determinado, em primeiro lugar, por match à melhor de 4 partidas, caso sejam 2 os jogadores empatados, ou poule a uma volta, no caso de 3 ou mais jogadores empatados. Caso persista o empate, aplicar-se-ão os pontos 1 ou 2 deste artigo conforme aplicável.


À primeira vista, olhando apenas para o Regulamento, tenderia a sustentar que:

- o n.º 2 se aplica, como regra geral, a todas as situações em que "dois ou mais jogadores obtenham o mesmo número de pontos". Nestes casos, o método de desempate é o que constar do regulamento da competição. Se este nada disser, aplicam-se, sucessivamente, os métodos de desempate das alíneas a) a g).

- o n.º 3 contém uma norma especial. Enquanto que o número anterior se aplica ao desempate de "dois ou mais jogadores que obtenham o mesmo número de pontos", seja qual for a sua classificação final e independentemente da competição, este contém as normas aplicáveis quando o desempate é necessário para a "atribuição de títulos nacionais individuais" (sejam relativos a nacionais absolutos, femininos ou veteranos - se o desempate não for para a atribuição do título, aplica-se o n.º 2). Nestes casos, o desempate é feito por match ou poule, dependendo do número de jogadores com os mesmos pontos, sendo que após este métodos de desempate, se subsistir o empate, aplicar-se-ão os critérios do n.º 1 de a prova tiver sido em sistema de todos contra todos ou os do n.º 2 se o sistema tiver sido o suiço.


Onde é que está o nó?

O n.º 2 refere os nacionais individuais, absolutos, femininos e veteranos (veja-se o artigo 2.7 do Regulamento do Nacional de Veteranos), sem qualquer menção aos subs.

Sendo assim, o desempate para a atribuição de títulos dos escalões jovens seria regido pelo n.º 2, que estabelece critérios subsidiários, apenas aplicáveis caso o "regulamento da competição não indique de outro modo".

Só que a letra do Regulamento de Competições poderia dar (ampla?) guarida a outra (melhor?) interpretação. Desde logo, a subordinante daquele n.º 2 são os "campeonatos nacionais individuais", sendo depois exemplificados as modalidades absoluto, feminino e veterano. Ora, os dois primeiros conceitos respeitam ao género dos participantes (masculino e feminino no primeiro, feminino no segundo), enquanto que o terceiro é relativo à idade. Sendo que, relativamente aos Nacionais de Jovens, o artigo 34.º, n.º 1, do Regulamento, dispõe que estes existem quer na modalidade absoluta quer na feminina.
Poderia, assim, entender-se que os Campeonatos de Jovens, absolutos e femininos, teriam o desempate para atribuição do título regulado naquele n.º 3.

Mas, desde logo, um óbice se levantaria: a ser assim, aquela referência aos veteranos perderia todo o seu sentido útil, pois que, evidentemente, também o campeonato de veteranos será ou absoluto ou feminino.

A resposta está "escondida" na acta da Assembleia Geral de Junho de 2008 que aprovou o Regulamento, na qual se lê, expressamente - antepenúltimo parágrafo da página 3 - que "O Presidente da FPX apresentou ainda uma proposta de alteração ao regulamento de competições no sentido de o desempate para a atribuição de títulos nacionais de jovens deixar de ser efectuado através de matchs. O representante da AX Porto manifestou a sua oposição à alteração do formato das competições, sem que haja uma discussão mais alargada. O Secretário da FPX e o representante da AX Beja defenderam a alteração proposta, alegando motivos organizacionais e desportivos. Após discussão da proposta, a mesma foi aprovada por maioria com voto contra do Porto e abstenção de Lisboa."

Nesse sentido, o Regulamento do Campeonato Nacional de Jovens - Portimão 2009 estabelece vários critérios, que não o match, uma vez que - ponto 2.5 - "a Assembleia Geral da FPX aboliu recentemente os matches de desempate para atribuição de títulos".

Em suma, a atribuição de títulos dos Campeonatos Nacionais de Jovens, absolutos ou femininos, será efectuada através da aplicação dos critérios de desempate (caso seja necessário, claro) previstos no ponto 2.7:

2.7.1.1. Sum of Buchholz - Tie-Breaks [all results] [25]
2.7.1.2. Buchholz - Tie-Breaks [variabel with parameters] [1,0,N,S,0,N] [37]
2.7.1.3. Buchholz - Tie-Breaks [variabel with parameters] [0,0,N,S,0,N] [37]
2.7.1.4. Sorteio.


Ou seja, primeiro Buchholz, depois Buchholz corrigidos e, por fim, sorteio.


Mais um caso em que a deficiente redacção de um regulamento levanta problemas escusados... (além de a solução adoptada pela Assembleia Geral ser politicamente discutível, mas a maioria dos sócios da FPX - com o secretário da FPX (!? Tem lugar na AG, nessa qualidade de secretário??) e a AX Beja (deve ter muitos xadrezistas nos escalões de formação...) à cabeça - lá estarão convictos de que esta é a melhor opção para o xadrez jovem.)

4 comentários:

Paulo Topa disse...

Em primeiro lugar, muito obrigado pelo destaque dado à questão. Tu já tinhas começado a falar disso aqui.

Nos Distritais de Jovens do Porto (todos contra todos) e poucos jogadores em cada escalão, a probabilidade de se ter de recorrer ao sorteio é muito elevada (imagino que não seja só no Porto, mas é o caso que acompanho mais de perto). E é fácil ser o único critério de desempate.

Tiago F. Pinho disse...

Pois, nos distritais quem manda é a associação distrital, como sempre mandou...

(quem começou a falar disto não fui eu, foi o Carlos Mendes, na LusoXadrez)

Anónimo disse...

Pois é, os motivos organizacionais devem ser os mesmos que fazem com que a prova nacional mais importante (única)dos jovens seja efectuada em 5 dias com 2 dias com sessões duplas,o que é muito limitativo a qualquer razoável preparação para as partidas. Ou seja, o motivo organizacional é despachar os jovens depressa e a eliminação dos "matches" de desempate vem por certo no mesmo sentido.O campeonato que nos moldes em que é feito já é uma lotaria, dado o elevado número de participantes, agora ficará ainda mais a cargo da sorte. Pode ser mesmo por sorteio. As Associações aprovam regulamentos sem se aperceberem do real alcance dos mesmos. Ria-me se no fim algum dos jovens das associações que aprovaram a alteração, perdessem por este método.
Saudações
Carlos Mendes

Tiago F. Pinho disse...

Olá, Carlos!

Quanto aos "motivos organizacionais", em comentário a um post anterior, o Manuel Pintor - presidente da AXP, a única a votar contra este sistema de desempate -, enumerou-os:

Os Matches não foram ao ar por ser mais um dia. Nunca foram. Foram ao ar pela "chatice" de ter de se esperar pelos matches para se atribuirem os prémios. Nos dois últimos anos chegou-se ao ridículo de fazer a cerimónia com matches a decorrer, com toda a confusão criada pela "des"organização. Escusado será dizer que os jovens da AXP foram sempre os mais prejudicados, tendo até recebido troféus de campeão(ã) nos elevadores, quando todos os outros, incluindo directores, se iam embora. "Pequenos" esquecimentos e falta de respeito. (...)
Manuel Pintor