segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Jogar Xadrez!: Carlos Oliveira - José Padeiro, Beja, 2008


Retirado do blogue do Moto Clube, fica a partida Carlos Oliveira - José Padeiro (Beja, 2008), anotada pelo Mestre Nacional.


Fotos dos jogadores por Juliana Chiu, rapinadas à Galeria do António Matos.
A do Carlos, à esquerda, foi tirada no torneio de Benfica e a do Padeiro no Nacional de Semi-Rápidas.


De acordo com o Padeiro, esta deve ter sido a pior partida que fez nos últimos tempos, "relativamente à compreensão do jogo. O que quer isto dizer?

Um bom jogador de xadrez em traços gerais tem de possuir 3 habilidades. Compreender o jogo (estratégia), vislumbrar ameaças (táctica) e saber prever as consequências dos seus actos (cálculo).
Não existe nada pior, para um jogador de xadrez, do que não compreender o que se passou no tabuleiro.

Entregar a dama em 1 lance ou deixar escapar algo, todos os jogador estão sujeitos, até os mais fortes, agora não compreender a partida é um duro golpe no orgulho de qualquer xadrezista.

Ironicamente escapei à derrota.
Existe explicação para isso?

A lógica é que o xadrez é um jogo, e não uma ciência, logo tudo pode acontecer seja em que posição for. Para mim uma máxima no xadrez, tal como em todo o desporto, é: num jogo, qualquer jogador pode ganhar a qualquer jogador.

Neste jogo especificamente escapei à derrota por sorte e relaxamento do meu adversário.
" [Em comentário ao post original, o Carlos Oliveira sublinha que «é importante referir que a partida foi jogada no 2.º jogo de uma jornada dupla e que relaxamento e cansaço não são a mesma coisa.»]

Continuando o preâmbulo da análise, diz o Mestre que "É preciso notar que no xadrez nunca podemos facilitar por maior que seja a vantagem. Mesmo que estejamos a ganhar por 1 peça, podemos dar a dama num descuido e já ficamos a perder, equanto que num desporto como o futebol, por exemplo, se estiver 3-0, e relaxando sofrermos 1 golo, ainda ficamos com vantagem.
No xadrez, mais que em algum outro desporto, a psicologia assume papel fundamental!
"



Moral da história: Nunca devemos facilitar seja em que circunstância for.


Texto e Comentários: MN José Padeiro


Através deste post do blogue do Moto Clube descobri os blogues do Carlos Oliveira (um em português - Jogar Xadrez! - e outro em inglês - Play Chess!) que embora recentes, prometem.

A versão portuguesa, que já está ali na barra da direita, publicou hoje um vídeo sobre um tema que tem vindo a ser abordado aqui - a ética desportiva. Nesse post, sobre o "fair play no xadrez", «o GM Korchnoi (finalista vencido de 3 matches para o Campeonato do Mundo de Xadrez), mostra que a força de jogo nada tem a ver com as boas maneiras, e tem uma reacção exagerada após perder por tempo numa posição ganha contra Sofia Polgar (a mais nova do clã Polgar).

Provavelmente foi apenas um mau momento de uma das mais emblemáticas figuras da nossa arte, mas o video chega a ser cómico pelo comentário que ele faz no fim da partida: "Foi a primeira e a ultima vez que você me vai ganhar na vida!"
»

Para ver o vídeo, visitem o blogue Jogar Xadrez!

4 comentários:

Anónimo disse...

Alguns comentários ao comentário:
ao 4º lance o que se passa é que quando as brancas jogam g2-g4 e consequente avanço na ala de rei têm de ter um objecto de ataque. Neste caso é necessário que o bispo de casas brancas seja esse objecto.Numa prospecção do plano das pretas pode-se ver que este consiste em atacar o centro com e7-e6 e c6-c5. Daí que as brancas realizem um lance de espera! O mais popular destes lances é 4.Cc3 como jogado por grandes-mestres de topo como Shirov ou Sutovsky. Ao largo dos planos de expansão na ala de rei, as brancas também têm tentado 4.Cf3 com a ideia de aproveitar a ausência do bispo de casas brancas da ala de dama.Este último plano é uma ideia inglesa que é jogada pelos GM´s Short e Nunn.O lance da partida tem o óbvio defeito de enfraquecer a ala de rei sem que haja lá nenhum motivo de ataque.No entanto é uma variante interessante que tenta um ataque rápido,mas não me cheira...
Depois de 4. ... Bg6(?!) e além do referido 5.e6 é tambem possivel 5.Ce2 ou 5.h4 que continua o ataque na ala de rei mantendo aberta a opção de c2-c4.Um autêntico 2 em 1.
5. ... h7-h5(!) é realmente um bom lance pelo mestre.A pressa do ataque na ala de rei deve ser contrariada.Concordo que 6.g4xh5 seja o melhor lance. Contra 6.g5 como na partida José Paulino-Jorge Ferreira,Guimarães 2007 o lance correcto seria, talvez, defender a ameaça de 7.g6 com 6. ... g6,ou como na partida 6. ...Bf5 7.Bd3 e agora não 7. ...Bxd3(?) 8.Dxd3 com ameaça de 9.g6 e 9.e6, mas 7. ... Dd7.É verdade que 10. ... c4(??) é um grave erro estratégico e uma perda da oportunidade de jogar 10. ... Db6 que realmente deria um jogo confortável ás negras.Em vez de 8.Bf3 talvez fosse melhor 8.Bg4 atrapalhando o desenvolvimento das negras e se 8. ... Ce7 9.Bg5.16. ... Da4 também foi um erro estratégico. Existem posições na francesa winawer que ,com uma estrutura de peões ssemelhante esta manobra é realizável com a ideia de atacar os peões debéis da ala de dama e de evitar o plano a3-a4 e Bc1-a3.Mas nesta posição e em conjunção com o plano das negras não resulta.O comentário ao lance 19 das brancas é muito instrutivo. Realmente não parece um lance muito lógico.Embora não mereça comentário por parte do mestre não me agrada o 22º lance das brancas. A casa de f6 parece mais indicada para o cavalo e no seguimento de 20.h6 parece continuar com o plano.Como dizia Capablanca no comentário a uma partida sua com Lasker em que o cubano tinha planeado a construção de uma fortaleza por meio de um sacrificio de qualidade e no momento de o fazer hesitou, raramente é boa ideia desistir-se de um plano já elaborado.Na fase seguinte da partida as brancas foram construindon a sua posição de maneira instrutiva. Nestas posições em que um dos lados apresenta uma grande vantagem de espaço pode-se melhorar a posição com tranquilidade(+?).Na fase final a partida entrou em apuros e o nível desceu um pouco. Uma palavra final á ronda dupla: Eu também joguei este torneio em beja e a mim aconteceu uma situação semelhante a esta nesta ronda. Eu tinha uma posição contra o MN Vasco Diogo em que podia repetir lances.Optei acertadamente por não o fazer,mas em vez de entrar num fiinal ligeiramente superior decidi-me por um ataque ao rei e eventualmente acabei por perder.Um penoso erro de avaliação semelhante ao que aconteceu nesta partida.Finalmente aqui fica o meu felicitamento e agradecimento ao MN José Padeiro por partilhar a sua sabedoria connosco num jogo que certamente não terá sido fácil para ele. Como disse certa vez Capablanca que apenas perdeu 42(!) jogos nos sete anos em que foi campeão do mundo " Aprendi muito mais com cada uma das minhas derrotas que com cada milhar das minhas vitórias!"

Jorge Ferreira

Anónimo disse...

Acho que consegui acompanhar a maior parte dos comentários :)

Fiquei, no entanto, com duas pulgas atrás da orelha...

- Por que é que 19. Bh3 é um lance candidato? De que modo é que esse lance ajuda a preparar h6? Parece-me que ali o Bispo até pode tornar-se um alvo com a abertura da coluna H.

- Como é que a casa f6 pode ser deixada para o Cavalo? 22. Dd2 é melhor que 22. Df6? Ou as brancas podem devolver o peão de c2?

Carlos Oliveira disse...

Quando abri hoje este blog, fiquei bastante surpreendido com o teu post, fico contente que tenhas gostado do meu blog, ja acompanho o teu há algum tempo e sou fã!

Quanto ao comentário do Jorge, devo dizer que tinha recomeçado há pouco tempo a jogar e4. Quando o Padeiro jogou Bd7 fiquei em pânico, porque apesar de jogar a caro-kan de pretas, o meu conhecimento de aberturas é... limitado, e já não sabia o que fazer!

Esta foi a 1º vez que joguei g4, o que se passou de seguida foi o seguinte: O Padeiro usou conceitos tradicionais que não se adaptam há posição ( quando ele jogou c4 e Da4 fiquei perplexo! o meu rei n estava ali, ele estava a atacar o quê?), eu tive de pensar muito e julgo que acabei por re-criar um sistema interessante ( mas claro que quando me senti "obrigado" a jogar 8.Be2-f3 considerava-me pior)...
Uma partida de Xadrez pode ser vista de maneiras diferentes por diferentes jogadores, para o Padeiro esta foi " a pior partida que fez nos últimos tempos, "relativamente à compreensão do jogo." Para mim foi uma das partidas nos ultimos tempos onde fui mais criativo na abertura e meio-jogo e onde não consegui concretizar...

-Quanto ao lance 8 Bg4 parece-me que seria um erro estratégico grave(o bispo de f5 n é mau?) a variante que apresentas apenas tem vantagens no muito curto-prazo
-Quanto ao lance 19 so posso dizer que muitas partidas de 1 minuto fazem mal e o habito de trocar peças sem muita reflexão vem daí, nessas partidas costumo desfazer-me do bispo da ala de dama com a maior brevidade possivél e aqui não ponderei sobre o valor real da peça na posição.
-Quanto ao lance 20 não entendo o comentário do Padeiro, parece-me estranho considerar demorada reflexão a 3 min de pensamento e 6 min gastos a fumar...
-Quando ao lance 22 penso que estás errado Jorge, Df6 continua a parecer-me o melhor lance.
-Quanto ao comentário do lance 37 do Padeiro "Visto que eu estava sem tempo, tentou-me enganar." so posso dizer que ele deve continuar a não compreender muito bem a posição, visto que a minha postura em relação ao jogo nem é assim tão dificil de compreender 1-Impedir contrajogo na ala de rei 2-clarificar a situação na ala de dama 3-reagrupar na ala de rei e preparar o ataque decisivo, assim sendo este lance como é obvio foi o inicio do 3ºponto.
Infelizmente não fui sucedido no 3º ponto, mas por algum motivo só tenho 2100...
-Quanto ao lance 43 das pretas tenho 99,9999% de certeza que ele nem sequer calculou as complicações do lance, acho k se tivesse feito este lance ele abandonaria ou perderia de outra forma ( ele ja estava a jogar com 30 seg há alguns lances e eu cm cerca de 10min ainda), mas como eu não sou de "enganar" optei por aquele que me pareceu o melhor lance.


Perdoem-me a lenga-lenga, mas sendo eu um dos intervenientes da partida achei que devia transparecer os meus pontos de vista

Abraços

Carlos Oliveira

Anónimo disse...

Olá, Carlos!

Eu é que fiquei surpreendido quando vi que tinhas dois blogues, ainda por cima bem prometedores. Não há muitos blogues portugueses sobre xadrez, de maneira que todos são bem-vindos. Se têm potencial para servirem de referência, ainda melhor!
Já estive a dar uma vista de olhos na partida que foi hoje publicada, e só serviu para aguçar o apetite.

Quanto à partida, Df6 também me pareceu porreiro, mesmo depois do comentário do Jorge, daí a minha segunda questão no comentário anterior. Com a ressalva, claro, de que "eu sou só tenho 1900" ;)