Como disse ali mais para baixo, depois de ter jogado com o Nora o mês passado, para a Taça de Portugal, voltámos a jogar no fim de semana, para a Taça AXP.
As partidas do 3.º e do 4.º tabuleiro foram quase dramáticas, pois toda a gente estava em apuros e tinham-se registado dois empates nas primeiras mesas.
A natureza colectiva do encontro teve influência no decurso dos jogos. O Cleto sacrificou uma qualidade na mesa 3 e o Estêvão, que viu o Nora pior na 4, teve que jogar para ganhar. Forçou a posição e acabou por perder enquanto que o Nora conseguiu regressar à partida e acabou por vencer.
No final, o Estêvão estava incrédulo - "Como é possível teres ganho?", disse para o Nora, acrescentando "Se eu soubesse que ias ganhar, jogava para o empate..."
Pela minha parte, esta partida faz-me lembrar uma outra, jogada há uns meses, em Guimarães, com a Ana Meireles, que está aqui.
De qualquer modo, o que no fim parece evidente, à primeira vista pode não o ser.
Grupo de Xadrez do Porto A 2 - 2 Grupo Desportivo Dias Ferreira B
Mesa 4:
O primeiro é para aquecer :)
Ao lance 25, as negras jogaram b5, aparentemente oferecendo um peão.
DESAFIO N.º 1 - Qual é a justificação do lance 25. ... b5?
Se as brancas jogassem 26. cxb5, como continuariam as negras?
Este só deve ser acessível para os mais experientes:
Ao 27.º lance o tempo disponível já não abundava. Pior do que isso, de manhã tinha jogado o torneio de rápidas do Convento dos Gatos mas, em vez de ganhar ritmo de jogo, talvez por combinado com o afastamento das últimas semanas e algum cansaço físico e mental, estava um pouco preguiçoso. Ainda pensei várias vezes que tinha que fazer um esforço para ficar alerta, mas como a posição parecia porreira, fui facilitando.
Em casa, o programa de computador que utilizo - o Crafty (qualquer dia tenho que mudar para um programa a sério :P) -, dava às negras uma vantagem de praticamente três peões nesta posição:
Aqui não calculei nada. Recordo-me de pensar apenas qualquer coisa como "agora vou buscar o peãozinho de a2 e depois é só aguentar o ataque, trocar as peças e ganhar o final". Joguei 27. ... Bxa2 mas, mais que este lance, o que me começou a derrotar foi a minha atitude.
Depois de 27. ... Bxa2 28. h5, continuei a facilitar. Joguei rapidamente 28. ... Bc4 para fechar a coluna C (Nequice n.º 1) e a posição no tabuleiro era a seguinte:
DESAFIO 3: O lance das negras merece três (ou quatro!) pontos de interrogação.
Como é que as brancas ganham vantagem decisiva?
Se o Nora tivesse conseguido resolver este desafio no tabuleiro (eu também não vi... também tinhamos pouco tempo...), não sei como terminaria a eliminatória. O Estêvão, com qualidade a mais na mesa 3, podia refrear o seu jogo e tentar empatar, o que garantiria a passagem do Dias Ferreira à final com um resultado de 2,5 - 1,5.
Esta aqui é outra Nequice impressionante. Uma cegueira injustificável... porque foi um sacrifício involuntário! Felizmente as consequências podiam não ser definitivas, mas nem assim recuperei.
As negras jogaram 30. ... Rxg6 mas não precisavam sacrificar a qualidade.
Com o simples 30. ... Rg8, as negras continuavam muito bem.
E continuando o desvario (terceira nequice praticamente seguida)...
Joguei 32. ... Bd5 e perdi a vantagem.
O natural 32. ... Txe8, a ameaçar 33. ... d5, mantinha as negras no comando da partida.
Um pouco depois, desperdicei nova oportunidade. Acho que já só tinha 30 segundos por lance mas mesmo assim...
DESAFIO 4: Qual é a melhor continuação para as negras?
A última oportunidade para voltar ao jogo aconteceu no momento em que o Cleto venceu a partida dele. Sossegado por termos passado a eliminatória, dei a partida por perdida. Uma estupidez pouco vigorosa... O motivo? Estavamos a chegar ao lance 40 e teriamos que virar a folha de registo e montar o papel químico e acho que disse mesmo ao Nora, quando ele se preparava para o fazer, "que não valia o esforço".
DESAFIO 5: Qual é o lance que mantém as negras vivas?
A lição a aprender é que os jogos só terminam no fim. Muitas vezes há um coelho à espera de ser tirado da cartola. Quando temos noção de que as coisas não estão a correr bem é a altura em que temos de fazer um esforço suplementar para nos mantermos concentrados e alertas.
5 comentários:
Jogo muito bom! Ai vai o que enxerguei nos desafios...
DESAFIO 1
Neste lance, se as brancas aceitam o "presente" e jogam cxb5, perdem o cavalo na sequencia, pois a dama está cravada pelo bispo em f5.
26. cxb5 d5
e ganham o cavalo.
DESAFIO 2
? Achei um bom lance o Bxa2. Pode ser que tenha coisa melhor, mas eu também não consegui enxergar...ehehehe.
DESAFIO 3
1. Cxd6! cxd6
2. hxg6+ Dxg6
3. Be4 ganhando a dama negra
DESAFIO 4
1. ... Be6
Ameaça ganhar a torre em h3. A torre fica sem casa para defender f3.
DESAFIO 5
1. ... Dc2+! (conhecido no Brasil como ataque raiox, esse lance obriga a troca das damas e as negras ganham uma torre.
2. Dxc2 Txc2+
3. Rf1 dxe5
Acho que é isso. Muito boa a partida, parabéns para os jogadores e obrigado pela publicação, assim podemos aprender com os erros cometidos.
Abraços.
Oh, isto é grande. Aí vai:
1.
As pretas já estão muito melhor. Ganhas.
25. ...b5 serve para minar as casas brancas do centro e da ala de Dama que as brancas ainda controlam. Bem, na verdade, ganha sempre a ala de Dama toda e algo mais, acima de tudo por causa da pregagem do Ce4.
Se 26. cxb5 (ou c5), então d5 ganha o centro - e material; se 26. De2 (para remover a pregagem), Bxe4 ganha a AD e qualidade... 27. Bxe4 (Dxe4, Bc3 é ainda pior, muito pior), Bg3 28.f3, Bxe1 29. Rxe1, Dxc4.
Talvez o menos mau seja uma defesa activa: 26.h5!?, mas também ela não resolve nada. 26. ..., Dxc4+ chega. 27. Dxc4, bxc4 28. g4, Be6 29. hxg6+, Rxg6 e o «counter» branco acabou, tendo as negras prevalecido na mesma na ala de Dama e sendo só questão de, depois, ir «investindo» aí, simplificando quando oportuno.
2.
Isso mesmo, Bxa2. Porque ganha um peão limpo e ainda por cima deixa ao condutor das negras um bom «a» passado.
3.
Eia! Bc4 é horroroso ('scouse) porque «aguentar o ataque branco» é igual a «aguentar Cg5». Digamos que a posição em causa é bastante «enérgica» e neste tipo de posições importa mesmo muito «quem é a jogar». Dar a iniciativa às brancas com um lance passivo =suicídio:
Cg5+, hxg5
hxg6+, Rg7
Th7+
Mas Bb3, mantendo a Dama branca debaixo de fogo, tinha servido perfeitamente :P
..., Bb3
Cg5+, Rg7
CxD, BxD
Cxe5, Txe5 - eis a tão almejada simplificação.
Se contra ... Bb3 as brancas jogassem menos activamente, por ex....
Dd3, então Rg7 resolve (e continua a aplicar-se o mais genérico plano de simplificação que mencionei em 1.)
4.
Be6. A Torre branca não pode sair dali por causa de Dxf3+. Então as brancas têm de a defender com Cf2 e aí, sim, recapturar o Be8.
5.
O imediato Dc2+. E a cura: não lhes tirando os defeitos que possuem, para certas coisas, as rápidas na net são do melhor para aguçar a percepção táctica.
..., Dc2+
Dxc2, Txc2+
Rh3, dxe5
e quem tem de jogar com muito cuidado são as brancas... sobretudo por causa do peão passado «a». :P
eu acho que a 3 foi em termos de tatica.
3
cg5+ se as pretas tomam o cavalo g6 + e perde a dama e se foge com o rei perde a dama.
desafio 4
eu acho que e dxh3 rxh3 e claro txf3
se rh4 tf4+ rh5 bf7+ bxb txb ataca a dama foge para dc2 nao mantem as negras bem vivas a pesar de ainda se joga um bocado
e ja agora se tens algum desafio sem nome e meu nao me lembro :)
Desafio 1:
Realmente, cxb5 não é possível devido a d5.
3 pontos para o Alexandre e para o J...
Desafio 2:
O António Silva, capitão da minha equipa e um dos jogadores mais fortes que conheço, recomendou um lance de Rei, para acabar com todas as ameaças tácticas das brancas.
O computador concorda.
Desafio 3:
A ameaça é mesmo Cg5+!
3 pontos para o J... e para o André.
Alexandre, Cxd6 não serve devido a Bxd6 e a Torre controla a coluna E.
Desafio 4:
Be6 é realmente o lance.
3 pontos para o Alexandre e para o J...
André, o sacrifício é muito precipitado! As negras nem precisam de jogar Rh4, podem voltar a g2.
Desafio 5:
Dc2 é realmente a solução.
3 pontos para o J... e para o Alexandre
Hey! Qual é o lance de Rei (2)?
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