segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Teoria ou Prática?


A opção entre a teoria ou a prática é uma discussão antiga. Uns dizem que "não há nada mais prático do que uma boa teoria"; para outros, a teoria nasce da prática. Uma universidade australiana está a analisar esta questão do ponto de vista dos xadrezistas. Apesar de muitas das conclusões preliminares se basearem no conhecimento empírico dos participantes, há alguns dados estatísticos curiosos.


Retirado de Chess Vibes

Quais são os efeitos da quantidade de prática, do treino orientado e da idade em que se começa a jogar na competência xadrezística de um jogador? E como é que os xadrezistas vêem conceitos como "competência" ou "talento"? O Dr. Robert Howard, da Universidade de New South Wales, na Austrália, elaborou um inquérito para analisar estas questões e os seus resultados preliminares respondem a algumas delas.

(...)

O estudo do Dr. Howard parte de um pequeno questionário online que pode ser respondido por qualquer xadrezistica que tenha, ou tenha tido, elo FIDE. (Ainda é possível participar no estudo. O inquérito encontra-se aqui). Os resultados preliminares agora divulgados são os seguintes:


Resultados Preliminares do Inquérito

"(...)
A amostra consiste, até ao momento, em 581 jogadores, entre os quais 5 GMs, 25 MIs, 67 MFs, 2 GMFs, 2 MIFs e 2 MFFs. Os resultados são apenas preliminares.

Alguns pontos-chave:

Os jogadores aprenderam as regras, em média, com 8 anos (os Mestres cerca de 2 anos antes). A idade média em que começaram a jogar com maior seriedade e em alguns torneios é 14 anos, 12 no caso dos Mestres. A maior parte dos jogadores tiveram treinos. O tempo médio de estudo é de 5 a 6 horas de estudo por semana, mas os resultados são muito díspares (de 0 a 60 horas por semana). O número de horas de estudo é um factor relevante no nível de perícia do xadrezista, embora não decisivo.

A maior parte dos xadrezista acredita firmemente que há talento natural para o xadrez e a maior parte é de opinião que os jogadores do top-10 mundial têm algo de especial, pelo que poucos podem chegar àquele nível. Todavia, muito advogam que muito treino e prática podem fazer evoluir um xadrezista. Alguns estão convictos que praticamente qualquer pessoa pode aumentar a sua força de jogo até chegar a Mestre FIDE, com a prática e estudo devidos.

As opiniões sobre o que é o "talento natural no xadrez" variam, embora haja algumas ideias comuns que incluem boa capacidade espacial, quociente de inteligência elevado, muita motivação, forte vontade de vencer, controlo das emoções e vigor psicológico.

Em média, são necessários 390 jogos FIDE para se alcançar o título de GM. A maior parte dos xadrezistas não chega, sequer, perto deste número de partidas na sua carreira, de maneira que não têm nenhuma hipótese realista de chegar àquele nível. Cerca de 2/3 dos jogadores que jogaram mais que 900 partidas a contar para elo FIDE alcançaram o título de GM. Contudo, os xadrezistas que jogam mais de 740 partidas sem chegar a GM, ficam, a maior parte das vezes, na barreira dos 2400 pontos.



A análise dos ratings dos jogadores com mais de 900 partidas FIDE contabilizadas mostra que os jogadores que têm hipóteses de chegar ao top-10 podem ser identificados nas primeiras listas FIDE de que constam. Estes jogadores obtêm elo FIDE, em média, muito mais novos que os restantes, alcançam o título de GM com pouca idade e muito depresa, e aumentam a sua pontuação elo muito mais rapidamente que os outros GMs.

A maior parte dos entrevistados é de opinião que jogar partidas oficiais e estudar é igualmente importante no desenvolvimento da competência xadrezística."

O relatório completo está disponível no site da Universidade.
O estudo conclui que o ponto máximo de performance xadrezística é limitado, quase de certeza, por um "talento natural para o xadrez" que consistirá em várias características de habilidade e personalidade. Conclui, ainda, que depois de uma prática intensa, os jogadores alcançam um tecto que poderá ser ultrapassado através de treino específico, embora realce que o talento de cada xadrezista limita o nível máximo que poderá alcançar. Todavia, quer no xadrez quer noutras áreas, a maior parte das pessoas não chega sequer perto do limite imposto pelo seu talento natural, pois não tem prática suficiente.
Teoria e prática podem aumentar a força de jogo de um xadrezista, mas não necessariamente até ao nível de GM. E, como foi sugerido por um dos participantes, talvez "haja muito talento xadrezístico no mundo por descobrir. Se toda a gente se dedicasse ao xadrez, poderiam surgir novos atletas que levassem os top-10 para mais perto dos 3000 pontos que os actuais 2800".

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