Faltam 2 dias para o início das Olimpíadas de Dresden, mas parece difícil prever quando é que elas acabarão.
A feminina de Calvià - 2004 ressuscitou.
E no Expresso diz-se (com algum exagero) que no xadrez português se vive "um autêntico clima de guerra" e que "os xadrezistas nacionais estão com o sangue quente". É o que efectivamente parece, de acordo com algumas das frases da peça: "O Grande Mestre António Fernandes acusa António Bravo, Presidente da Federação Portuguesa de Xadrez (FPX) e simultaneamente seleccionador nacional, de “tráfico de influência” por ter deixado de fora das Olimpíadas os melhores xadrezistas portugueses"; "António Fernandes, 46 anos, único português a ganhar uma medalha (bronze) em Olímpiadas, em 2002, acusa o Presidente da FPX, e «autonomeado seleccionador, de manipular a verdade»"; "Esta é também a opinião de Ramiro Lopes, presidente da Associação de Xadrez de Faro (AXF), que censura António Bravo por ter feito malabarismo nas convocatórias, «privilegiando amigos» em detrimento dos melhores"; "Segundo António Fernandes e Ramiro Lopes, a pressa na convocatória «não foi inocente»".
A APMX e o GM Luís Galego foram os únicos intervenientes citados que tentaram deixar a caixa de Pandora fechada, apesar de dizerem o que entenderam conveniente, aquela sustentando "que o processo foi mal conduzido pela FPX e que «a escolha feita revelou-se um erro com preço a pagar na qualidade das selecções»", e este frisando "ser «um absurdo tudo o que se está a passar»".
Entretanto, o Ala de Rei entrevistou o GM António Fernandes e publicou o resultado em que este sintetiza, de forma clara, a sua posição quanto à convocatória.
Nesta entrevista, o GM António Fernandes parece mais resignado quanto ao facto de "ser privado de lutar por mais uma medalha olímpica" e de "lutar por um recorde mundial (...)[ - ] poder vir a tornar-me o xadrezista em todo o mundo com maior número de representações olímpicas. Por exemplo o Korchnoi participou em 16 olimpíadas, eu participei até ao momento em 14.", já que, quando questionado quanto à forma "como espera ser ressarcido", a resposta já não passa pela inclusão na comitiva (como no início disse ao 16x16), mas pelos esclarecimentos que, em tempo oportuno (as olimpíadas começam depois de amanhã...), o seu advogado entenda prestar.
Ou seja, o caminho mais provável é, como se adivinhava (uma vez que a FPX não parece estar interessada em rever a sua posição), a via indemnizatória. A caixa do artigo do Expresso (disponível na parte final da transcrição da Casa do Xadrez vai no mesmo sentido: "O campeão nacional, se não for às Olimpíadas, vai processar judicialmente da direcção da FPX e o seu presidente, alegando danos morais e desportivos".
Aquela caixa veio, ainda, esclarecer outra questão. No ponto 6 deste post, escrevi que o GM António Fernandes se dirigiu ao SEJD embora a LOPCM parecesse indicar o IDP como o órgão competente para exercer a tutela sobre a FPX. A caixa do Expresso parece dar apoio a esta posição: "Laurentino Dias remeteu a queixa para a o Instituto de Desporto de Portugal, que esta a analisar a questão."
Por fim, apesar de o xadrez nacional não estar num "autêntico clima de guerra" - apenas porque o xadrez nacional não tem cultura escaquística suficiente para tomar como verdadeiramente seu um problema que, no individualismo das coisas, só afecta o GM António Fernandes e o equilíbrio de poder da FPX -, depois de publicadas as citadas declarações num dos semanários de maior expressão nacional, uma vez que o crime de tráfico de influências (um crime contra o Estado, previsto no artigo 335.º do Código Penal) é um crime público (ie, dispensa queixa e acusação particular), não estranharia que o DIAP fosse à FPX saber se efectivamente há indícios da prática do crime...
Seja como for, estão reunidos todos os ingredientes para acções e contra-acções judiciais. E da forma como os tribunais estão atolhados, apesar de faltarem 2 dias para o início das Olimpíadas, é possível que, em Portugal, Dresden 2008 dure anos (mesmo que as partes se cansem de esperar e cheguem a um acordo antes do trânsito em julgado da (última) decisão).
2 comentários:
Venho por por este meio informar a comunidade xadrezista que enviei à jornalista do Expresso, responsável pela notícia saída naquele semanário no passado sábado, uma nota do seguinte teor.
Boa noite Isabel Paulo,
Li com agrado a notícia saída no Expresso, do passado sábado, a qual corresponde à situação actual da modalidade e sintetiza com clareza a forma como foram escolhidos os membros das selecções nacionais às Olimpíadas de Xadrez e, em especial, a forma incorrecta como todo o processo decorreu.
Gostaria no entanto de clarificar o texto da notícia. A expressão «tráfico de influência» deve ser enquadrada, até porque surge entre aspas e transmite a ideia de que eu formulei a acusação tal como vem referida. Ora, não foi minha intenção afirmar a certeza de que o Presidente da FPX exerce «tráfico de influência», muito menos com o sentido jurídico rigoroso que pode estar-lhe associado.
O que afirmei, e mantenho, foi que as irregularidades cometidas e a falta de transparência do processo fazem com que as pessoas se interroguem se, por detrás disto tudo não haverá mais do que mera ausência de bom senso e de incompetência na aplicação dos regulamentos, o que já não seria pouco!
Espero ter contribuído para esclarecer a minha posição sobre este assunto.
Com os melhores cumprimentos,
António Fernandes
http://xadrezvigoroso.blogspot.com/2008/11/esclarecimento-faltam-2-dias.html
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